Um pouco de racionalidade: Marrocos deve substituir Ucrânia na candidatura de Espanha e Portugal à Copa 2030
Colocar a Ucrânia era uma forma de mostrar apoio ao país por causa da guerra, mas Marrocos faz muito mais sentido geograficamente e culturalmente

A ideia estúpida de ter a Ucrânia como parte da candidatura conjunta de Espanha e Portugal para a Copa 2030 parece, enfim, destinada a morrer. Marrocos foi anunciada como substituta do país do Leste Europeu, colocado na candidatura pela simbologia da guerra iniciada pela Rússia. Pareceu uma desastrada tentativa de apoio simbólico à Ucrânia, mas a ideia nunca teve qualquer sentido prático, lógico e, mais ainda, parecia prejudicial à candidatura. A participação da Ucrânia não foi descartada oficialmente, mas foi colocada de lado e não deve voltar mais.
Marrocos declarou que seria candidata a receber a Copa 2030 ainda em julho de 2018. Os africanos tentaram cinco vezes serem sedes da Copa: em 1994, 1998, 2006, 2010 e 2026. O país quer ser o primeiro no norte da África a receber uma Copa do Mundo e o segundo país africano, depois da África do Sul em 2010.
Além de ter experiência como candidata, Marrocos sediou o Mundial de Clubes 2022, realizado neste início de 2023, e mostrou ter condições de receber jogos deste tipo. O fato da Fifa ter mudado os critérios, priorizando estádios prontos, infraestrutura já existente e sem o oque nos acostumamos a chamar de “Padrão Fifa” facilita para que Marrocos se torne um candidato plausível em uma candidatura conjunta. Porque se a infraestrutura foi um problema na candidatura para 2026, já que Estados Unidos, México e Canadá estão muito à frente, estar junto com Portugal e Espanha e concorrendo, possivelmente, com os sul-americanos, é mais possível vencer.
A candidatura de Espanha e Portugal é apoiada pela Uefa e terá ao menos um concorrente de peso: a parceria Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai na América do Sul. O fator histórico, já que a Copa 2030 celebrará 100 anos da primeira edição do torneio, que aconteceu no Uruguai, é um ponto a favor dos países da Conmebol. Outro fator é que a última Copa que aconteceu no continente foi a do Brasil, em 2014, enquanto a Europa recebeu em 2018, com a Rússia.
Na época que a Ucrânia foi anunciada, o movimento foi visto como mais algo simbólico de apoio à Ucrânia. Tanto que a Federação Portuguesa de Futebol disse, na época, que a integração da Ucrânia à candidatura “visava contribuir pelo poder do futebol para a recuperação de um país em uma reconstrução em andamento”. Um ótimo discurso, mas parecia ignorar algo importante: a realidade.
É fácil entender as razões que fazem a Ucrânia integrar a candidatura não fazia sentido. Primeiro, geograficamente: Portugal e Espanha são vizinhos, enquanto a Ucrânia está no leste da Europa. Logisticamente, não teria nenhum sentido ter os ucranianos como parte da sede.
Além da questão geográfica, também tem uma questão cultural: Portugal e Espanha são países muito mais próximos culturalmente do que a Ucrânia. A candidatura conjunta também fazia pouco sentido nisso.
Por fim, mas não menos importante, a Ucrânia ainda está em guerra. Estamos em 2023 e são só sete anos para a Copa do Mundo. Hoje, a Ucrânia mal consegue receber os jogos dos seus times no seu território. Nas competições europeias, os ucranianos precisam mandar os jogos fora do país. A liga ucraniana está sendo disputada em condições bastante específicas, com times jogando fora das suas cidades. Como é possível imaginar que, em sete anos, esse país terá condições de receber a Copa?
Isso do ponto de vista esportivo, porque se pensarmos no ponto de vista de prioridades do país, receber a Copa não passa nem perto de ser uma prioridade para um país que precisará ser reconstruído quando a guerra acabar. E considerando que o Shakhtar precisa jogar fora de Donetsk desde 2014, quem garante que não haverá mais guerra até 2030? Tudo isso era sabido, mas foi um movimento para tentar angariar simpatia à candidatura, mas só parecia prejudicar, justamente porque traria mais problemas do que pontos positivos.
Para adicionar aos problemas que já existem, ainda há problemas na Federação Ucraniana, já que Andriy Pavelko foi preso em novembro com acusações de fraude e lavagem de dinheiro. Pavelko nega ter cometido qualquer um desses crimes.
Por outro lado, Marrocos faz todo sentido integrar a candidatura. Geograficamente, Marrocos é separado de Espanha apenas pelo estreito de Gibraltar. São países próximos e que possuem relações históricas. O fato de ser um país africano também é visto como um ponto positivo para a candidatura. É possível, assim, ganhar votos dos países africanos – e são muitos: 54 países compõem a CAF. Uma candidatura conjunta entre Europa e África acaba sendo bem vista.
A escolha da sede da Copa do Mundo 2030 acontecerá no 74º Congresso da Fifa, que acontecerá em 2024. Além da candidatura conjunta de Portugal e Espanha (potencialmente com Marrocos) e da candidatura sul-americana, se especula que Arábia Saudita, Egito e Grécia possam fazer uma candidatura conjunta, o que envolveria três confederações (Europa, Ásia e África).
A Copa 2026 será a primeira com 48 seleções e, com esse número de participantes, parece difícil que um país volte a receber sozinho a Copa do Mundo, pela demanda de estrutura e de tudo que será necessário para receber o torneio.