Tinha que ser de Bale o primeiro gol de Gales em Copa do Mundo depois de 64 anos – mesmo tendo jogado mal
O craque da seleção galesa teve atuação apagada contra os EUA, mas sofreu e converteu o pênalti do empate de Gales em seu retorno aos Mundiais

Gareth Bale estreou em Copas do Mundo nesta segunda-feira com uma atuação fraca. Não teve grandes oportunidades, não criou para os companheiros, não partiu em velocidade, nem quando Gales estava armado para o contra-ataque. Mas a sua importância à seleção é tamanha que também não espanta que no fim tenha sido ele o responsável por anotar o primeiro gol do seu país em Copas do Mundo desde 1958, empatando a partida com os EUA por 1 a 1 em um pênalti que o próprio jogador do Los Angeles sofreu.
Bale foi um dos melhores jogadores da sua geração. Desde que explodiu pelo Southampton e voou pelo lado esquerdo do Tottenham. Não foi contratado por € 100 milhões pelo Real Madrid à toa, também não foi por acaso que decidiu a final da Champions League que rendeu ao clube espanhol a sua décima conquista europeia – e depois outra, contra o Liverpool, em Kiev. Mas os últimos anos foram difíceis. Entre problemas internos, pequenas lesões e uma aparente desmotivação, não fez muita coisa no último ciclo de Copa do Mundo.
Chegou até a ter uma passagem por empréstimo de volta ao Tottenham para ver se recuperava o brilho. Sob o comando de José Mourinho, teve apenas lapsos de bom futebol. Retornou ao Santiago Bernabéu para cumprir o último ano de um contrato gigantesco e praticamente não entrou em campo. Quando ficou livre no mercado, havia até rumores de que poderia se aposentar. Quem sabe o fizesse se Gales não tivesse que vencer apenas um jogo para chegar à Copa do Mundo após 64 anos
Ele não perderia essa por nada. Durante o calvário no Real Madrid, Gales se tornou sua principal fonte de alegria futebolística. Causou polêmica com a bandeira “Gales, golfe e Real Madrid, nessa ordem” que exibiu na comemoração da vaga na Eurocopa. Depois de decidir a semifinal da repescagem contra a Áustria, em março, com dois gols, participou do gol contra de Yarmolenko que decretou a vitória sobre a Ucrânia no jogo decisivo. Escolheu o Los Angeles, da Major League Soccer, para se manter em atividade até o Mundial.
Mas não se manteve em muita atividade. Desde julho, fez apenas 14 jogos, dois como titular. Mas craque tem dessas: empatou a final da liga dos Estados Unidos no 128º minuto e, nos pênaltis, conquistou o título da MLS pelo Los Angeles. Nesta segunda-feira, porém, não demorou muito para ficar claro que não está em sua melhor forma e que não é reserva do seu clube à toa.
Rob Page armou Gales para contra-atacar no primeiro tempo contra os Estados Unidos. O meio-campo tinha Ethan Ampadu, um zagueiro, Aaron Ramsey e Harry Wilson, com Bale e o rápido Daniel James à frente. O negócio engraçado sobre contra-ataques é que antes você precisa recuperar a bola, e os europeus simplesmente não conseguiram fazer isso. Foram colocados na roda pelos norte-americanos, não pressionaram e não tiveram escape. Alguns lançamentos e viradas de jogo de Bale foram o único caminho para se aproximarem da intermediária do adversário. Da grande área, não chegaram nem perto.
Page retornou com Kiefer Moore no lugar de James e mudou a característica. Agora com um centroavante forte e que sabe prender a bola, havia um destino para o resto da seleção galesa, que cresceu – passou de 33% de posse de bola para 50% -, pressionou e buscou o empate. A jogada do gol começou com uma cobrança de lateral rápida e esperta de Brennan Johnson que chegou a Bale, de costas para o gol. Levou um carrinho por trás de Walker Zimmerman que terminou em um pênalti claro. Ele obviamente assumiu a responsabilidade. Bateu alto e forte, sem chances para o goleiro Matt Turner.
O gol deixou a partida indefinida. Bale, porém, seguia longe do seu melhor, mesmo diante da oportunidade de buscar uma vitória histórica. Acompanhou Johnson em um contra-ataque pelo meio, mas não recebeu o passe. Dominou de fora da área, de frente, mas tentou um drible a mais e não finalizou. No último minuto, aproveitando a saída de Turner até a intermediária, armou um chute do meio-campo, que foi cancelado por uma falta.
Agora imagina só se ele tivesse feito o gol que Pelé não fez? Não fez, mas, mesmo tendo jogado mal, tinha que ser dele o protagonismo no retorno de Gales à Copa do Mundo. Porque ele conseguiu o que ídolos do passado, como Ian Rush e Ryan Giggs, não conseguiram: classificar o país a ela.