Sete anos de seleção alemã não fizeram que Dejagah lutasse menos do que qualquer iraniano

Ashkhan Dejagah nasceu em Teerã. É filho da cidade mais simbólica do Irã, a capital que surgiu ainda nos tempos do Império Persa e que se manteve como centro de todo um povo, mesmo com todas as mudanças históricas desde a antiguidade. Local onde o meio-campista manteve suas raízes, mas deixou rapidamente. Quando ainda tinha um ano de idade, Dejagah mudou-se para Berlim. Cresceu e se transformou em jogador de futebol na Alemanha, absorveu muitos elementos da cultura ocidental. Depois deste sábado, no entanto, ninguém pode duvidar do orgulho do meia em ser iraniano. A forma como defendeu sua nacionalidade contra a Argentina foi exemplar, o melhor em campo na derrota no Mineirão.
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Os motivos para se desconfiar de Dejagah poderiam ser muitos. O jovem obteve a cidadania do país aos 16 anos. Mesma época em que começou a servir as equipes de base do Nationalelf. Passou por todas as categorias, do sub-17 ao sub-21, defendendo o país até os 23 anos. Foi justamente quando conquistou a maior glória da carreira: era um dos jogadores que conquistaram o Europeu Sub-21 de 2009. Um elenco que ainda hoje serve de base para a Alemanha. Afinal, seis titulares daquele time são titulares também da seleção no início da Copa de 2014: Neuer, Boateng, Hummels, Höwedes, Khedira e Özil. Poderiam ser mais, se Schmelzer não tivesse sido cortado.
Dejagah não tem talento suficiente para fazer parte do time alemão que veio ao Brasil. A concorrência por um lugar nas meias é pesadíssima, e a carreira do iraniano não se desenvolveu como esperado. Vendido do Hertha Berlim ao Wolfsburg, nunca estourou de verdade com os Lobos, embora tenha sido peça bastante útil no título da Bundesliga 2008/09. Na temporada passada, acabou vendido ao Fulham, time rebaixado na Premier League, mas do qual honrou as cores, eleito o melhor jogador de 2013/14.
Não ter permanecido no Nationalelf, entretanto, não parece ser um lamento tão grande a Dejagah. Afinal, desde os tempos de seleções de base ele já deixava claros os seus sentimentos nacionalistas pelo Irã. Em 2007, ele se recusou a disputar uma partida pelo sub-21 em Tel Aviv, capital de Israel. Não necessariamente por motivações antissemitas ou racistas, mas por temer represálias (principalmente das autoridades do governo iraniano) por suas raízes.
Nesta época, Dejagah ainda não tinha intenções de servir a seleção iraniana. A mudança de legislação da Fifa e a falta de espaço na Alemanha, porém, acabaram mudando essa história. Em 2011, foi convidado por Carlos Queiróz para defender o seu país natal. Tornou-se fundamental já na campanha nas Eliminatórias, participando da reta final. O suficiente para se tornar um dos pilares da equipe persa.
Na estreia da Copa, contra a Nigéria, foi apagado como toda a sua equipe. Compensou contra a Argentina. Foi a alma do meio-campo iraniano, dedicado sem a bola e perigoso com ela. Realizou cinco desarmes o jogo todo, representando o seu espírito de luta. Criou boas chances, especialmente nas bolas paradas. E só não marcou seu gol de cabeça porque Romero realizou uma defesa sensacional.
Não foi a história toda construída na Alemanha que impediu Dejagah de dar o seu suor pelo Irã neste sábado. Muito menos as tatuagens, vistas com muitas ressalvas e discriminação por seus compatriotas islâmicos, algo que a religião não permite. Na Copa do Mundo, muito mais do que esses detalhes de realidade concreta, vale o sentimento. E o meio-campista fez com que esse orgulho transparecesse muito em sua dedicação.