[Os 50 anos da Copa de 70] Um mini-guia sobre cada uma das 16 seleções do Mundial
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Neste domingo, iniciamos aqui na Trivela o nosso diário especial sobre os 50 anos da Copa de 1970. Após a abertura do torneio em 31 de maio, com o México 0x0 União Soviética, houve um dia de folga antes que a fase de grupos realmente engrenasse com mais sete partidas na sequência. Aproveitamos o hiato, então, para um mini-guia do torneio, com a apresentação das equipes presentes nos Grupos 2, 3 e 4. Republicamos também a análise do Grupo 1, que estava presente na primeira parte do diário.
Grupo 2
Itália
A Itália andava devendo nas Copas do Mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Os azzurri não haviam sequer passado de fase desde então, ausentes ainda no Mundial de 1958. A eliminação diante da Coreia do Norte em 1966 provocou mudanças profundas no futebol local, com a limitação aos jogadores estrangeiros, e o início da esperança veio com a conquista da Eurocopa de 1968. Era uma geração forte dos italianos, que avançou sem tantos problemas nas Eliminatórias de 1970. Alemanha Oriental e Gales estavam na chave, com a Azzurra deixando escapar apenas um ponto na visita aos germânicos em Berlim.
Treinador desde o segundo semestre de 1966, Ferruccio Valcareggi tinha a missão de conduzir a reconstrução da equipe e costumava armar uma forte defesa. Com um elenco relativamente experiente em grandes torneios, a Itália tirava proveito do Cagliari que conquistou o Scudetto em 1970, mas também se valia das bases de Inter e Milan campeãs continentais pouco antes. O artilheiro Gigi Riva era o principal craque que vinha da Sardenha, ainda sem muitas aparições pela equipe nacional, mas com muitos tentos. O pé esquerdo calibrado do atacante era apontado desde antes do torneio como vital ao futuro da Azzurra. Ao seu lado, o goleiro Enrico Albertosi e o ponta Angelo Domenghini também se sobressaíam entre os cedidos pelos rossoblù.
Da Inter, a zaga se via fortalecida com as presenças do capitão Giacinto Facchetti e do companheiro Tarcisio Burgnich, enquanto Sandro Mazzola e Roberto Boninsegna encabeçavam o ataque. Já o craque do Milan atendia pelo nome de Gianni Rivera, vencedor da Bola de Ouro em 1969, ao conduzir os rossoneri ao título da Champions. O problema era mesmo encaixar Rivera e Mazzola, quando Valcareggi via a escalação de ambos como algo incompatível ao seu sistema. Pior ao milanista, que arrumou algumas confusões na preparação e acabaria relegado ao banco de reservas durante o Mundial.
Uruguai
Desde 1950, o Uruguai só não havia conquistado a classificação à Copa do Mundo em 1958 e cumpriu o favoritismo na caminhada rumo ao México. A Celeste se impôs num grupo que também contava com Chile e Equador nas Eliminatórias, deixando a vitória escapar apenas durante a visita a Guayaquil. Além do mais, a defesa charrua havia passado pelos quatro compromissos sem sofrer um gol sequer. Faltou apenas um desempenho melhor nos amistosos preparatórios, com derrotas para Argentina e Peru. Era uma equipe mais pautada na marcação, com a tradicional garra uruguaia, mas lenta em suas transições ao ataque.
Internamente, o futebol uruguaio atravessava um bom momento: Peñarol e Nacional possuíam times qualificados, por mais que a força dos clubes não tenha resultado em boas campanhas nas duas Copas anteriores. Os aurinegros cediam as duas principais figuras da equipe: o goleiro Ladislao Mazurkiewicz, visto como um dos melhores do mundo na época, e o meia Pedro Rocha, fonte de talento que também usava a braçadeira de capitão. El Verdugo, porém, se lesionou durante a preparação e não estava em suas melhores condições.
O Nacional, ainda assim, garantia a estrutura da equipe, com mais titulares. Os tricolores tinham bons nomes em todos os setores daquele Uruguai, em tempos nos quais estavam prestes a conquistar a Libertadores pela primeira vez. Atilio Ancheta, Luis Cubilla e Julio Morales eram os destaques celestes que vinham do Bolso, campeão continental em 1971. Já o técnico possuía sua experiência anterior em Copas: o ex-atacante Juan Hohberg, herói dos charruas na caminhada até as semifinais em 1954.
Suécia
Pouco restara da Suécia que encantou o mundo nos anos 1950 com um futebol ofensivo. Os escandinavos retornavam ao Mundial após 12 anos de ausência, desde o vice em casa, e apresentavam um estilo de jogo bastante distinto. Era uma equipe que visava levar vantagem na força física e que atacava em blocos. O futebol empobrecido, ao menos, bastou para superar a França nas Eliminatórias, com a classificação garantida por antecipação. Bons resultados na preparação tornavam os suecos uma ameaça ao Uruguai pela segunda vaga.
O técnico Orvar Bergmark tinha integrado a geração dourada da Suécia e usou a camisa 2 no vice-campeonato mundial em 1958. Não tinha muita experiência à beira do campo, mas se valia do histórico como jogador. O elenco possuía alguns jogadores atuando em ligas secundárias da Europa, sobretudo na Bélgica. O destaque era Ove Kindvall, artilheiro do Feyenoord que faturou a Champions semanas antes. O capitão Björn Nordqvist era o esteio na zaga, enquanto a ligação contava com os serviços de Bo Larsson, lenda do Malmö.
Israel
A presença de Israel na confederação asiática era cercada de entraves políticos, com a recusa das seleções árabes em enfrentar a equipe israelense. Assim, o caminho do país costumava se abrir nas Eliminatórias e a classificação inédita veio em 1969. Naquela campanha, a Coreia do Norte abriu mão de seu favoritismo para não encarar Israel, em discordância política. Assim, os alviazuis derrotaram a Nova Zelândia na primeira fase, antes de confirmarem a vaga contra a Austrália. Com jogadores amadores, o elenco foi convocado cinco dias antes da viagem e os atletas nem fizeram uma preparação específica para se adaptar ao México.
Nascido em Berlim, o técnico Emmanuel Scheffer chegou a atuar na Polônia em seus tempos de jogador, mas fez sua carreira quase toda no futebol local. Antigo comandante da seleção sub-19, havia promovido diversos jogadores do jovem elenco, no qual todos defendiam clubes israelenses. A dose de talento ficava para Mordechai Spiegler, camisa 10 e capitão. O atacante do Maccabi Netanya era adorado no país e conquistou a Copa da Ásia em 1964. Após o Mundial, largaria o emprego como comerciante, atuando no PSG e no Cosmos. Seu grande parceiro na linha de frente era Giora Spiegel, que também fez carreira no futebol francês depois da Copa.
Grupo 3
Brasil
A Seleção havia atravessado um grande fiasco na Copa de 1966. A preparação completamente bagunçada, os problemas físicos, o envelhecimento de craques e a falta de uma equipe titular bem definida podem ser apontados como entraves centrais na fraca campanha dos bicampeões mundiais na Inglaterra. As derrotas para Portugal e Hungria minaram o caminho dos brasileiros, em trajetória na qual o triunfo sobre a Bulgária se tornou mero detalhe dentro da queda precoce na fase de grupos. Uma transformação profunda se iniciaria na CBD.
Aimoré Moreira conduziu os primeiros meses da renovação, em elenco cada vez mais aberto aos talentos além de Rio de Janeiro e São Paulo. Todavia, o time não rendia bem em campo e alguns resultados pouco convincentes alimentavam os críticos. O salto rumo ao tricampeonato seria dado especialmente em 1969, quando João Saldanha assumiu o comando. O jornalista até possuía um breve histórico como treinador do Botafogo, mas vinha bem mais referendado por suas ideias nos microfones e nas páginas de jornais.
Saldanha convocou suas “feras” e conseguiu formar uma equipe ofensiva, elevando o moral dos atletas com seu discurso. Realizou mudanças e promoveu novidades, como a estreia de Clodoaldo no meio-campo ou a decisão de unir Pelé e Tostão na frente. A Seleção pegou embalo às vésperas das Eliminatórias e fez uma campanha repleta de goleadas para selar a classificação. O grupo também tinha Colômbia e Venezuela, enquanto o Paraguai representava a principal ameaça. Após o triunfo por 3 a 0 em Assunção, a viagem ao México acabou confirmada dentro do Maracanã, com o triunfo por 1 a 0 sobre os paraguaios. Pelé anotou o gol decisivo, fechando a campanha brasileira com 100% de aproveitamento.
A esta altura, restavam dez meses até a Copa do Mundo. Uma derrota para a seleção mineira no Mineirão seria cabal contra Saldanha, em jogo decidido por Dadá Maravilha. O treinador não fazia questão de colecionar amigos e se incomodou com a sugestão do presidente Médici para que o centroavante fosse convocado. As rusgas com o general se tornaram públicas e, em tempos de ditadura, o treinador (militante do Partido Comunista Brasileiro) denunciava os abusos do regime em viagens internacionais, como no próprio sorteio do Mundial. João Sem Medo se envolveu em outros episódios polêmicos, criando caso com Pelé por “ser míope” e entrando armado na concentração do Flamengo para tirar satisfação do técnico Yustrich. Ficaria insustentável.
Em março de 1970, na esteira de uma derrota para a Argentina, Saldanha acabou demitido por João Havelange, presidente da CBD – segundo o treinador, com pressão da ditadura para isso. Antes de sair, o jornalista recomendou Zagallo para que o substituísse. O novo técnico faria adaptações, mudando o esquema tático e promovendo titulares – em especial com o recuo de Piazza à defesa, bem como a entrada de Rivellino na ponta esquerda. Antes da Copa, o Velho Lobo emendou uma série invicta de 12 partidas. Apesar de alguns resultados mais questionáveis, era um sinal de que o Brasil chegava ao México com força.
E se tinha uma lição assimilada desde 1966 estava na importância do preparo físico. A CBD passou a oferecer uma estrutura bem melhor aos atletas, com uma equipe especializada para melhorar a força e a resistência dos atletas. O setor liderado por Admildo Chirol e Cláudio Coutinho promoveu um intenso trabalho não apenas para que os jogadores suportassem a carga física, mas também para que se adaptassem à altitude do México e lidassem com o calor naquele Mundial. O Brasil se tornaria um grande exemplo de como aliar o vigor e o bom futebol.
Na reta final da preparação, a equipe terminou de se encaixar, apesar do desgaste na intensificação do trabalho físico. O Brasil enfrentou alguns problemas de lesão, com o corte do ponta Rogério, bastante apreciado por Zagallo. Gérson sofreu um estiramento às vésperas do torneio e também existiam dúvidas sobre as condições físicas de Pelé, Tostão e Félix. No entanto, o entrosamento ficava visível em campo e, nos últimos amistosos, a escalação se desenhava. Gérson voltou a tempo da estreia, assim como Everaldo acabou escolhido à lateral esquerda. Alinhava-se desde o início o time recitado de memória por tanta gente, com: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivellino.
Inglaterra
Campeã do mundo em 1966, a Inglaterra entrava na lista de favoritos ao título por motivos óbvios. A empáfia de sempre dos Three Lions seguia presente, materializada principalmente pelo técnico Alf Ramsey, mas a equipe também se provava dentro de campo. Os ingleses tiveram um bom desempenho na Euro 1968, ao superarem a Escócia no grupo britânico da classificação e derrotarem também a Espanha, antes da queda nas semifinais contra a Iugoslávia. Já a preparação ao Mundial incluiu bons resultados nos amistosos, com vitórias sobre Holanda, Portugal, Bélgica e Irlanda do Norte. O único grande problema veio mesmo às vésperas do torneio, quando o capitão Bobby Moore foi preso na Colômbia, acusado de roubar uma joia.
Passada a turbulência, a Inglaterra tinha uma equipe para se manter nas cabeças. Boa parte da base campeã quatro anos antes se preservava. O sistema defensivo confiava principalmente na liderança de Moore, além dos milagres de Gordon Banks sob as traves. Os dois costumavam ser incluídos em qualquer lista de melhores do mundo na época, apesar da idade um tanto quanto avançada. Campeões nacionais com o Everton nas semanas anteriores, Brian Labone e Keith Newton ganhavam espaço atrás – com o veterano Jack Charlton no banco.
Do meio para frente, Alan Mullery cavou seu lugar na cabeça de área e Francis Lee aproveitou o sucesso com o Manchester City para se reivindicar no ataque. De resto, os nomes se repetiam desde a glória em 1966. Geoff Hurst, Martin Peters e Alan Ball resguardavam o status de heróis desde a final contra a Alemanha Ocidental. Mesmo assim, a estrela da companhia era Bobby Charlton, que havia se tornado o segundo jogador da história a superar a marca de 100 aparições com os Three Lions e, mesmo com 32 anos, havia conduzido o Manchester United pouco antes ao título na Champions. O time atuava agressivamente e com boa movimentação.
Tchecoslováquia
O vice-campeonato mundial em 1962 fazia parte do passado à Tchecoslováquia, embora alguns remanescentes da campanha no Chile aparecessem no elenco. No entanto, as mudanças não eram necessariamente negativas. A equipe apresentava um estilo mais ofensivo e veloz, aproveitando muito os pontas. A prova da capacidade veio nas Eliminatórias, superando a dura Hungria num jogo-desempate, após ambas terminarem com a mesma pontuação em seu grupo. O duelo extra aconteceu em Marselha e os tchecoslovacos saíram com uma inapelável goleada por 4 a 1. Entretanto, o elenco encontraria dificuldades para se aclimatar ao México.
O Dukla Praga não era mais a força hegemônica no país, mas ainda fornecia o goleiro Ivo Viktor. As potências locais na época eram eslovacas, o Spartak Trnava e o Slovan Bratislava. De lá vinham nomes como o capitão Alexander Horváth, o versátil Karol Dobias e o decisivo Ladislav Kuna. Além destes, o destaque ficava para Jozef Adamec, outro em atividade em Trnava. O ponta habilidoso possuía um faro de gols acima da média e era frequentemente artilheiro de sua liga. Era um dos presentes no Chile em 1962, assim como o veterano meio-campista Andrej Kvasnák – único do elenco em atividade no exterior, defendendo o Mechelen na Bélgica. O técnico Jozef Marko assumira a seleção em 1965.
Romênia
A Romênia não disputava a Copa do Mundo desde 1938 e se garantiu no Mundial superando o grupo mais apertado das Eliminatórias. Grécia, Suíça e Portugal compunham a chave, mas o equilíbrio defensivo fez a diferença para os romenos terminarem na liderança. Apesar dos 3 a 0 sofridos na visita a Lisboa logo de cara, a equipe se recuperou e se assegurou no México mesmo depois de ceder o empate aos gregos em Bucareste, durante a rodada decisiva. Na preparação, chegaria a empatar com a Alemanha Ocidental e com a Inglaterra fora de casa.
A avaliação sobre a Romênia não fugia muito do que se via sobre outras equipes do Leste Europeu, com o vigor físico e a velocidade entre suas principais virtudes. O técnico Angelo Niculescu havia realizado um trabalho intenso de aclimatação antes da Copa e possuía uma base entrosada. O goleiro Rica Raducanu era um dos protagonistas da equipe, assim como o armador Nicolae Dobrin. Já os nomes mais incensados vinham do Dinamo Bucareste. O líbero Cornel Dinu era o responsável por organizar a defesa, em ótima forma. O capitão Mircea Lucescu era um dos mais inteligentes da equipe e não guardava posição fixa, partindo da ponta. Já os gols eram responsabilidade do artilheiro Florea Dumitrache, hábil com os dois pés.
Grupo 4
Alemanha Ocidental
Vice-campeã mundial em 1966, a Alemanha Ocidental amadurecia aquela que se tornaria a melhor geração de sua história. A Copa de 1970 representa uma passagem de bastão entre os veteranos que conduziram o Nationalelf após o Milagre de Berna e a base que levaria o bicampeonato mundial em 1974. Superados pela Iugoslávia ainda na fase de classificação à Euro 1968, os alemães-ocidentais nadaram de braçada nas Eliminatórias de 1970. Foram cinco vitórias e um empate no grupo que contava com Escócia, Áustria e Chipre – com direito a uma goleada por 12 a 0 na visita dos cipriotas a Essen.
Helmut Schön dirigiria a Alemanha Ocidental pela segunda Copa do Mundo consecutiva, bastante respeitado como um dos melhores treinadores da época. A Mannschaft recebia avaliações como uma equipe organizada e com bom preparo físico, embora já tivesse reconhecida sua dose de criatividade e qualidade técnica. Um dos méritos neste fortalecimento estava no Bayern de Munique, que se tornara nos anos anteriores realmente uma potência nacional. Franz Beckenbauer era o dono da equipe após uma grande Copa em 1966, apresentando sua versatilidade e sua elegância. Enquanto isso, Gerd Müller (já com seus números absurdos, terceiro na Bola de Ouro de 1969 e vencedor da Chuteira de Ouro em 1970) e Sepp Maier ganhariam o reconhecimento internacional.
A Alemanha Ocidental, de qualquer forma, se valia bastante de sua velha guarda. O rodado Karl-Heinz Schnellinger vinha do título europeu com o Milan e coordenava a zaga. Já na frente o capitão Uwe Seeler estava em seu quarto Mundial, ainda letal aos 33 anos. Wolfgang Overath era mais jovem, mas com ampla expectativa pelo bom desempenho em 1966, maestro naquele meio-campo com seus passes precisos. E havia certos elogios sobre Reinhard Libuda, habilidoso ponta que fazia sucesso com a camisa do Schalke 04.
Peru
Classificar-se à Copa do Mundo representava um feito e tanto ao Peru. A Blanquirroja se garantiu no torneio após 40 anos de ausência com uma campanha categórica, ao desbancar Argentina e Bolívia em sua chave nas Eliminatórias. Depois do triunfo por 1 a 0 sobre a Albiceleste em Lima, o passaporte acabaria carimbado em Buenos Aires, com o empate por 2 a 2 – no qual os visitantes sempre estiveram à frente no placar. A façanha era garantida por Didi, o craque que já fizera evoluir a liga local com seu trabalho como técnico e também elevaria o patamar da seleção incaica.
Didi possuía um estilo motivador, que injetou confiança em seu elenco, mas também aplicava um futebol solto e com variações táticas. As Eliminatórias indicavam claras condições dos peruanos fazerem barulho no México, embora a preparação à Copa do Mundo tenha sofrido as suas turbulências. Didi viu alguns de seus pedidos negados pela federação, o que gerou atritos. Da mesma maneira, a rigidez insistente de seus métodos começou a provocar incômodo em algumas estrelas do grupo, mas nada que tenha rachado o time no Mundial.
O elenco peruano se dividia basicamente entre os convocados de Sporting Cristal, Universitario e Alianza Lima. Cremas e celestes tinham uma importância especial do meio para trás, onde surgia o líbero e capitão Héctor Chumpitaz como principal peça. Já na frente, o talento blanquiazul garantia os gols. O artilheiro era Pedro Pablo León, autor do tento decisivo contra a Argentina em Lima, e Julio Baylón voava na ponta. Já o refinamento se concentrava no camisa 10, Teófilo Cubillas, então um jovem de 21 anos. El Nene arrebentava na liga local e não sentiria o peso da Copa.
Bulgária
A Bulgária contava com uma das equipes mais competitivas da Europa naquele momento e não era uma surpresa em sua terceira Copa do Mundo consecutiva. A classificação ao México, aliás, se deu em uma chave bastante capciosa nas Eliminatórias. Os búlgaros superaram Polônia e Holanda, que já indicavam força através de seus clubes, antes de causarem impacto com as seleções na sequência dos anos 1970. A vaga foi encaminhada com um empate contra a Oranje em Roterdã, antes de ser consumada diante do sparring Luxemburgo. A preparação, todavia, indicava uma queda de rendimento.
Antigo jogador da seleção, Stefan Bozhkov assumiu o comando naquele ciclo. Exceção feita a três jogadores, o elenco inteiro atuava pelos clubes de Sofia, sobretudo CSKA, Slavia e Levski. A estrela da companhia era o atacante Georgi Asparuhov, que combinava boa estatura e habilidade. Estava em sua terceira Copa. Petar Zhekov (dono da Chuteira de Ouro em 1969) e Hristo Bonev serviam como bons complementos na linha de frente. Já na zaga, o nome mais comentado era o de Aleksandar Shalamanov, de boas aparições no Mundial de 1966.
Marrocos
Os marroquinos chegavam à Copa do Mundo para fazer sua estreia e também para colocar a África no mapa do torneio após 36 anos de ausência, desde a participação do Egito em 1934. Os Leões do Atlas não precisaram enfrentar qualquer adversário de outro continente na caminhada, como era costume antes de 1970. Superaram Senegal e Tunísia nas fases iniciais das Eliminatórias, antes de selarem o feito superando Nigéria e Sudão no triangular decisivo. Curiosamente, os marroquinos não se classificaram à Copa Africana de 1970, vencida pelos próprios sudaneses. Durante a preparação, ganhariam um amistoso contra o Corinthians.
Marrocos confiava no técnico Blagoje Vidinic, que havia conquistado o ouro olímpico com a Iugoslávia nos tempos de jogador e se tornaria um dos treinadores mais influentes do continente africano. Com apenas 19 convocados, o elenco se apoiava no FAR Rabat, principal clube do país na época. Nenhum jogador atuava no exterior. Dono da camisa 10, o meio-campista Mohammed El Filali era considerado o futebolista mais popular do país. Atleta do Mouloudia Oudja, destacava-se pela onipresença na faixa central, carimbando todas as bolas. Um problema aos Leões do Atlas foi lidar com a conturbada concentração no México, sem o devido apoio financeiro dos dirigentes do país.
Publicado em 31 de maio e reproduzido novamente:
Grupo 1
México
Classificado automaticamente como anfitrião, o México iniciou a Copa do Mundo sob desconfianças. A equipe terminou na quarta colocação do Campeonato da Concacaf em 1969. Já em 1970, os resultados de seus amistosos também não eram muito convincentes, com mais tropeços que vitórias. Não à toa, houve uma mudança de técnico às vésperas da competição. Presente em três Mundiais como jogador e iniciando um período vitorioso à frente do Cruz Azul, Raúl Cárdenas assumiu a missão no lugar de Nacho Trelles, que virou seu auxiliar.
O Cruz Azul tinha forte presença no elenco, com cinco jogadores, incluindo o zagueiro Gustavo Peña, que usava a braçadeira de capitão e era a grande liderança daquela equipe. Já o América também cedeu cinco atletas, entre eles o atacante Enrique Borja. Aos 24 anos, o centroavante havia trocado o Pumas pelo América pouco antes e empilharia gols com as Águilas – tornando-se até mesmo o grande ídolo de Chespirito. Um lamento ficava para a ausência de Alberto Onofre, meia do Chivas que fraturou a perna dias antes da estreia. O técnico Cárdenas armava o time num 4-3-3, mas sem tantas peças definidas. Coletivamente, El Tri era descrito como uma equipe aguerrida e razoável tecnicamente, mas que ainda precisava do apoio de sua torcida para se impor na competição.
El Salvador
O outro representante da Concacaf também estava no Grupo 1: El Salvador, que avançou através das Eliminatórias. Os salvadorenhos superaram o Haiti num jogo-desempate na Jamaica para assegurar a classificação ao Mundial, embora o duelo realmente marcante naquela campanha tenha acontecido na etapa anterior, quando os embates com a vizinha Honduras se relacionaram com a chamada Guerra do Futebol. Cada equipe venceu em seu mando, em duelos marcados pela violência entre as torcidas e pelas retaliações estatais, até que El Salvador eliminasse os rivais com o triunfo por 3 a 2 na Cidade do México.
Mesmo com os entraves políticos deixados para trás, El Salvador era considerado um azarão na Copa de 1970. A seleção entraria no torneio com um futebol rústico e pautado na defesa. A preparação teve resultados ruins e os jogadores foram proibidos de falar com a imprensa. Com um elenco limitado apenas aos clubes locais, sem jogadores em atividade no exterior, o destaque ficava por conta do artilheiro Juan Ramón Martínez. O atacante do Águila anotou boa parte dos gols nas Eliminatórias, inclusive o da classificação. Já o técnico era o chileno Hernán Carrasco Vivanco, também tarimbado na liga salvadorenha.
União Soviética
Sempre apontada entre as seleções mais fortes da Europa, a União Soviética havia realizado sua melhor campanha em Copas durante a edição anterior, quando alcançou as semifinais em 1966. Já na Eurocopa de 1968, os soviéticos caíram apenas na moedinha diante da campeã Itália nas semifinais. O time teve como principal oponente nas Eliminatórias a Irlanda do Norte de George Best e conseguiu garantir a classificação muito graças ao empate no confronto direto em Belfast. Todavia, o fato de ser uma equipe envelhecida pesava contra a URSS durante sua jornada no México, com resultados modestos na preparação.
Convocado de última hora à sua quarta Copa, o veterano Lev Yashin àquela altura era reserva do bom Anzor Kavazashvili no gol. Enquanto os jogadores do sistema defensivo vinham dos clubes de Moscou, o ataque se concentrava entre os talentos de Dynamo Kiev e Dynamo Tbilisi. O atacante Anatoliy Byshoevts desembarcava em alta ao Mundial, assim como o meio-campista Vladimir Muntyan. Mais atrás, dois nomes importantes eram os de Valentin Afonin e do capitão Albert Shesternyov – considerado na época um dos melhores líberos da Europa. Já o comando técnico ficava por conta de Gavriil Kachalin, comandante da seleção em diferentes períodos, que conduziu os soviéticos ao ouro olímpico em 1956 e também ao título na Eurocopa de 1960.
Bélgica
De volta à Copa do Mundo após 16 anos de ausência, a Bélgica vinha em alta das Eliminatórias. Os Diabos Vermelhos conquistaram a classificação em uma chave duríssima, na qual despacharam a Iugoslávia (vice na Eurocopa anterior) e a Espanha – além da Finlândia, que serviu como saco de pancadas. Os resultados contra os espanhóis fizeram toda a diferença aos belgas, com o empate em Madri e a vitória em Liège. Assim, a vaga já estava garantida na única derrota da equipe, ao visitar os iugoslavos em Skopje.
Auxiliar de Constant Vanden Stock até 1968, Raymond Goethals era um treinador sem badalação quando chegou à Copa, ainda por construir sua reputação à beira do campo – futuramente considerado o maior técnico belga da história. Principais forças locais na época, Standard de Liège e Anderlecht formavam a espinha dorsal daquela Bélgica. O elenco era relativamente jovem, com um ataque veloz. Os Diabos Vermelhos confiavam principalmente em seu craque: Paul van Himst, já considerado um dos principais atacantes do futebol europeu no período, ao vencer a Chuteira de Ouro dois anos antes. O meia Wilfried van Moer era outro badalado que veio bem cotado ao México.