Copa do Mundo

Mustapha Hadji: “Os políticos incitam o ódio, mas Marrocos e França são países irmãos”

"O novo treinador soube encontrar as palavras certas e a forma de trazer à tona o melhor dos jogadores, de montar o time com a mentalidade de um leão"

Mustapha Hadji está entre as maiores lendas da seleção de Marrocos. O camisa 7 de enorme habilidade disputou duas Copas do Mundo e marcou época nos Leões do Atlas, assim como defendeu diversas equipes de relevo na Europa. E a semifinal da Copa do Mundo divide um pouco seu coração: embora nascido em Marrocos, o ex-meia emigrou para a França quando tinha dez anos. Cresceu no país, virou profissional pelo Nancy e até foi chamado para as seleções de base francesas, mas preferiu mesmo os marroquinos. Antes do duelo decisivo na Copa de 2022, o veterano enfatizou o senso de união entre os países.

“Eu ainda sou um esportista na vida política. O futebol une as pessoas e deveria ser uma festa. Acima de tudo, para mim, a França é um país irmão, sempre foi assim. A França está em nosso coração, em nosso sangue. A França é nosso irmão gêmeo. Hoje os políticos usam o ódio, mas, para mim, França e Marrocos sempre foram dois países irmanados”, declarou Hadji, mostrando genuína preocupação com o discurso de ódio tantas vezes repetido por políticos.

Hadji também enfatizou como a França abriu portas para ele e também para o seu irmão mais novo, Youssouf Hadji, que igualmente defendeu a seleção de Marrocos: “Cresci na França, minha família cresceu na França. Tudo que nós temos, tudo o que eu e meu irmãozinho temos, devemos à França. Se jogamos futebol, é graças à França. Somos milhões marroquinos assim. Hoje os políticos falam qualquer coisa, mas isso não me preocupa. Meu interesse é ver uma boa partida. Vamos deixar os torcedores fazerem a festa aonde quer que estejam – em Paris ou Rabat. É um dia de festa”.

Sobre o técnico Walid Regragui, Hadji dedicou amplos elogios: “É uma loucura! O que está acontecendo com a seleção é extraordinário. Regragui chegou há apenas três meses, houve uma reviravolta após a saída de Halilhodzic. O novo treinador soube encontrar as palavras certas e a forma de trazer à tona o melhor dos jogadores, de montar o time com a mentalidade de um leão. O time joga com coração e com um foco exemplar. Com um treinador como esse, só se pode florescer e fazer milagres”. O ex-meia chegou a atuar ao lado do ex-lateral durante um breve período, no fim de sua carreira pela seleção.

Por fim, Hadji manifestou seu desejo pela classificação de Marrocos: “Que o melhor vença! Eu prefiro que Marrocos ganhe, lógico que eu prefiro que Marrocos ganhe. Mas, em todo caso, já é uma campanha histórica. E o resultado não deve transbordar, não deve ir além do futebol”.

Hadji defendeu Marrocos de 1994 a 2002. O meia teve seu auge na época da Copa de 1998, quando liderava uma equipe de futebol vistoso, que por pouco não se classificou às oitavas de final. Depois de aposentado, o veterano ainda voltou a trabalhar na seleção e auxiliou vários jogadores do elenco atual a se desenvolverem. O antigo camisa 7 permaneceu como assistente de 2014 até o último mês de fevereiro. Atuou ao lado de Hervé Renard na Copa de 2018. Entretanto, teria sua demissão solicitada por Vahid Halilhodzic após a Copa Africana de Nações de 2022. O bósnio o chamou de “traidor” por ficar ao lado dos jogadores excluídos pelo técnico. O tempo deu razão ao velho ídolo marroquino.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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