Livakovic brilhou de novo nos pênaltis, mas foi ainda melhor pela segurança que impôs em 120 minutos
Livakovic teve excelente posicionamento e senso de antecipação, o que facilitou suas seguidas defesas contra o Brasil

Segurança é uma virtude fundamental a qualquer goleiro. Não é preciso ser necessariamente milagreiro para se impor sob os paus. Firmeza nas ações garante a tranquilidade para o sistema defensivo, ao mesmo tempo em que intimida os atacantes adversários. É assim como Dominik Livakovic se erige como um protagonista na classificação da Croácia a mais uma semifinal de Copa do Mundo. O pênalti defendido contra Rodrygo pesa muito, ainda mais para quem tinha pegado três na fase anterior. Mas a imponência do arqueiro croata não se construiu apenas pela fama que o precedia na competição, mas também pela maneira como barrou seguidas tentativas do Brasil. Teve ótimo posicionamento, leitura perfeita das jogadas, senso de antecipação. Parecia tornar fácil as muitas intervenções que precisou fazer e, nos 11 metros, chegou com uma vantagem psicológica.
Livakovic já sabia o que era disputar uma Copa do Mundo, mas no banco de reservas. O goleiro, então com 23 anos, era opção a Danijel Subasic no Mundial da Rússia. Viu o companheiro se tornar herói durante a campanha até a final, principalmente pelos pênaltis defendidos. E, ao passo que o veterano entrou em declínio na carreira, o novato se tornou um ponto de segurança na seleção croata. Assumiu a posição a partir de 2019, disputou uma Eurocopa como titular, ganhou experiência internacional também com o Dinamo Zagreb nas campanhas continentais. Estava pronto para completar o processo de renovação numa nova Copa, em 2022.
Ao longo da fase de grupos, Livakovic não precisou aparecer muito. A classificação no Grupo F teve mais destaque ao trabalho de seus zagueiros, especialmente Josko Gvardiol, enquanto a falta de pontaria da Bélgica também auxiliou – numa partida em que titubeou em algumas saídas pelo alto. Entretanto, para que as esperanças da Croácia em repetir a epopeia de 2018 se mantivessem, o goleiro precisaria também se fazer gigante nos mata-matas. Foi o que aconteceu diante do Japão. Pegou algumas bolas importantes de fora da área nos 120 minutos e intimidou os Samurais Azuis na marca da cal. O Brasil já sabia que enfrentaria um arqueiro com alto nível de motivação. E seguro.
Desde o primeiro tempo, mesmo sem ser tão exigido, Livakovic impressionou pelo senso de colocação. Não foram batidas tão precisas, mas o camisa 1 estava sempre inteiro no lance. Não se complicou nem mesmo numa cobrança de falta que desviou na barreira, o tipo de lance que costuma ser traiçoeiro com qualquer arqueiro. Já no segundo tempo, o Brasil cresceu e passou a encontrar espaços para se infiltrar. Tinha brechas para ameaçar. E então o goleiro croata realmente se confirmou como uma barreira difícil de passar.
A leitura de Livakovic em cada lance e seu senso de antecipação auxiliaram tanto quanto seu posicionamento. Foi bem até para evitar com o pé um gol contra, mas especialmente estava muito atento para fechar o ângulo dos atacantes e aparecer sempre em cima da bola para bloquear os chutes. Seus movimentos eram perfeitos, mostrava-se um goleiro muito firme. Foram quatro defesas impecáveis no mano a mano. E isso não apenas sustentava o moral dos companheiros diante do abafa, como também aumentava o nervosismo do outro lado. Havia uma carga mental para se enfrentar na prorrogação.
Quando Livakovic finalmente foi superado, Neymar teve todos os méritos ao entender o que o goleiro fazia. Se sempre o croata estava em seus pés quando a infiltração ocorria, pronto para trancar o caminho do chute, o camisa 10 deu um drible para surpreendê-lo. Mesmo assim, a confiança em Livakovic não se perdeu. E ele também apareceu nos últimos suspiros do Brasil, para pegar a pancada de Casemiro dentro da área. Das 21 finalizações brasileiras, 11 foram no alvo. Dez delas acabaram salvas pelo goleiro. E o elemento psicológico ia para os penais. Livakovic tinha um histórico favorável. O Brasil sentia até pela forma como tomou o gol.
Começar batendo na disputa de pênaltis costuma tirar um peso dos ombros, especialmente quando a bola acaba nas redes, como fez Nikola Vlasic. Defender a primeira dos adversários, então, bota um senso de urgência do outro lado, de ter que correr atrás de uma diferença que já parece levar tudo a perder. Rodrygo não pegou bem na bola, Livakovic se agigantou de novo. E o goleiro croata indicou ter estudado bem as batidas. Ficou a um triz de defender o ótimo tiro de Casemiro. Depois, foi enganado pela categoria de Pedro e contou com o auxílio da trave diante de Marquinhos. Melhor ainda quando os companheiros, cirúrgicos, encaminham o serviço. A classificação estava feita com o herói repetido.
A Copa do Mundo é sempre um atalho para a memória coletiva. Livakovic é ídolo do Dinamo Zagreb e uma figura conhecida em seu país. Agora, porém, ele fica para os Mundiais como um dos carrascos do Brasil nestas quartas de final e também como um arqueiro que se agigantou nos pênaltis repetidamente. Não é novo ao país, pensando no que Subasic havia feito em 2018. Ainda assim, o atual camisa 1 se mostra mais goleiro que o antecessor. Tem qualidade e tem tempo para se consagrar em outras Copas, como também outras ligas. Os adversários vão pensar duas vezes antes de dar qualquer finalização contra o croata. E seus companheiros saberão como podem confiar.