Copa do Mundo

Lewa marcou seus gols, mas se esperava mais do centroavante, mesmo numa Polônia tão limitada

Lewandowski pouco fez diante da França, apesar da versão melhor da Polônia durante o primeiro tempo

Foi bonita a cena da comemoração contra a Arábia Saudita, isso é inegável. Robert Lewandowski aproveitou uma bobeira da zaga para marcar, mas não foi a falta de beleza do tento que anulava sua importância: era o primeiro gol do centroavante em Mundiais. As lágrimas brotaram em seus olhos na hora de correr para o abraço e o sorriso durante as entrevistas era incontrolável. Lewa ainda anotou mais um contra a França e melhorou um pouco suas marcas. Mesmo assim, foi outro Mundial aquém do que se espera de um dos melhores atacantes do mundo. É verdade que o fraco time da Polônia não ajuda nem um pouco, mas se aguardava que o matador pudesse produzir um pouco mais por iniciativa própria.

Só se enganava com a Polônia nesta Copa do Mundo quem estava em outro planeta na época do Mundial da Rússia. Depois da quebra de expectativas tremenda na ocasião e do ciclo bagunçado desde então, estar no Catar já era um lucro aos alvirrubros. Aproveitaram até um atalho nas Eliminatórias, depois da suspensão da Rússia. Mas nunca pareceu um time realmente competitivo, nem com Paulo Sousa e também não com o substituto Czeslaw Michniewicz. Se havia algum argumento para tentarem bancar uma boa campanha dos poloneses, era citar o nome de Lewandowski. O que desde o início parecia não bastar.

Quem realmente fez a diferença para a Polônia na Copa do Mundo de 2022 foi Wojciech Szczesny. O goleiro, com sobras, ocupou o posto de melhor camisa 1 da fase de grupos. Sua atuação na vitória sobre a Arábia Saudita foi impressionante, não só pelo pênalti defendido, como também pelo milagre no rebote. Já diante da Argentina, além do pênalti barrado de Lionel Messi, as defesaças no primeiro tempo é que sustentaram a classificação no saldo de gols. Não ajudou muito contra a França, e até poderia ter feito um pouco melhor nos lances dos gols, mas as limitações dos poloneses só foram superadas por causa de suas intervenções.

Se fosse para apontar antes um protagonista para levar a Polônia longe, esse nome seria o de Lewandowski. Entretanto, no geral, o centroavante não fez uma boa Copa do Mundo. O seu primeiro gol veio numa roubada de bola na entrada da área. O segundo, num pênalti que precisou cobrar duas vezes até vencer Hugo Lloris. Foram somente 12 finalizações em todo o Mundial, só quatro delas na direção do alvo. São números bem abaixo daqueles que registrou no início da temporada com o Barcelona, isso sem nem considerar o que fazia no Bayern.

A pior atuação de Lewandowski ocorreu na estreia, contra o México. O pênalti perdido contra Guillermo Ochoa poderia ter um preço muito caro, não fosse o empenho de Szczesny na sequência da competição. A atuação contra a Arábia Saudita foi melhor, mais ativa e com a companhia de Arkadiusz Milik, mas com bola na trave e chances perdidas. Já contra a Argentina, num jogo em que seu time abdicou de atacar, o camisa 9 sequer finalizou. E aí que está o ponto contra a França: coletivamente, os poloneses fizeram sua melhor apresentação na Copa durante o primeiro tempo. Mas não por causa de Lewandowski.

Diante dos franceses, a Polônia teve mais escape pelos lados e contou com mais posse. Lewa de novo apareceu pouco. Foram só duas finalizações nos 90 minutos do jogo, com outras três nos acréscimos da segunda etapa, quando a vaca já tinha ido para o brejo. Executou um chute de fora perigoso no primeiro tempo, numa recuperação, mas foi só. O camisa 9 até se movimentou bem e auxiliou nesses momentos de cadência dos passes. Mas não com um futebol tão agudo. Foram poucos os momentos em que ele realmente tentou algo diferente.

Lógico, futebol é um esporte coletivo e nem tudo recai sobre Lewandowski. A França fechou bem a faixa central de sua defesa. A Polônia também não oferece capacidade criativa. Ao longo de toda a fase de grupos, a jogada básica do time era mandar uns chutões para o centroavante se virar. Neste domingo, uma bola em que ele precisa arrancar no lado direito do ataque, sem qualquer associação até se irritar, também diz muito. De qualquer forma, se imagina algo diferente de um jogador de seu calibre. Na Euro 2020, por exemplo, mesmo jogando praticamente sozinho, ele teve uma efetividade maior.

Do lado pessoal, a decepção de 2018 pelo menos parece parte do passado. Os gols estão na conta, mesmo sem exibir o melhor do centroavante. Ele também tem méritos por liderar os poloneses a dois Mundiais consecutivos. Mas não que os melhores momentos de Lewa em Copas terão muito para mostrar. Se tantas vezes o camisa 9 é cobrado por sua produção em jogos grandes (o que costuma ser uma bobagem), nessa Copa do Mundo ele não engrenou. Faltou aquele coelho da cartola que se espera dos figurões. Diante das limitações dessa Polônia, ele já pareceu se empenhar mais em outras ocasiões.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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