Copa do Mundo

Krul foi a peça certa para dar o xeque-mate na Costa Rica

Louis van Gaal tomou uma atitude daquelas que parecem prontas para dar errado. A perna da Holanda deveria estar pesada para a decisão por pênaltis. Keylor Navas, as traves e os orixás da Fonte Nova evitavam toda e qualquer tentativa de gol dos jogadores de laranja. E a última cartada do técnico foi mudar o goleiro. Tirou Jasper Cillessen, que nem foi tão exigido durante o jogo, para apostar em Tim Krul. Para colocar o cara que classificaria a Oranje para as semifinais. Porque o goleiro reserva foi impecável, indo em todas as cobranças da Costa Rica e defendendo duas delas. O que poderia parecer maluquice foi a estratégia mais acertada.

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Tim Krul é um ótimo goleiro. Para muitos, merecia até mesmo ser o titular da seleção holandesa. Não é de hoje que tem grandes atuações pelo Newcastle, incluindo uma magnífica na última temporada contra o Tottenham. Entretanto, as seguidas lesões impediram que ele se tornasse o camisa 1, apesar de ser visto como sucessor natural ao decadente Marteen Stekelenburg. Permaneceu no banco, para aguardar o seu momento de consagração. Van Gaal o avisou que era escolhido para a decisão por pênaltis no meio do jogo, o que deve ter elevado demais o seu moral para a disputa.

Cillessen ficou incomodado ao ser preterido por Krul em um primeiro momento. Os números do camisa 23 também não eram os melhores, com só dois pênaltis defendidos nos últimos 20. De qualquer maneira, Van Gaal estava seguro o suficiente do que fazia. Há fatores que são muito mais respondidos pelos treinos do que pelos jogos.  E Krul foi genial na decisão. Leu muito bem a cobrança dos costarriquenhos, aguardou o momento certo para saltar, aproveitou-se de seus reflexos e da boa envergadura. E não dá nem para dizer que ele só pegou os mal batidos. As cobranças não foram perfeitas, mas não tem como tirar qualquer mérito que o holandês teve.

Keylor Navas foi estupendo durante os 120 minutos. Quem acabou sendo o herói no momento mais importante, no entanto, foi Tim Krul. E se Van Gaal quisesse, poderia até efetivá-lo como titular na equipe, ainda que Cillessen faça uma Copa do Mundo razoável. Provavelmente não vai, até porque a saída de bola do atual titular é bem melhor. No jogo de xadrez do técnico, ele parece ter controle total de quais peças mexer e o que fazer para vencer.

A Holanda destroçou a Espanha a partir de uma nova postura no segundo tempo. Venceu um jogo duro contra a Austrália a partir do banco de reservas. Em um duelo cheio de variações táticas, superou o Chile. Virou contra o México no final com as mudanças e a postura sufocante no fim. E, quando só a postura do time de Van Gaal não foi suficiente para desarmar a Costa Rica (e há deméritos do holandês nisso também, é claro), a escolha por Krul foi certeira. A Holanda semifinalista da Copa de 2014 tem seu protagonista. Mas também a mente que controla o tabuleiro.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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