Copa do Mundo

Guia da Copa do Mundo 2022 – Grupo F: Bélgica

A Bélgica ainda conta com membros importantes de sua famosa geração, mas com sinais de declínio e setores carentes

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Durante parte do ciclo, a seleção belga deu sinais de que continuava muito forte. Em outros, pareceu cansada, e a última campanha na Liga das Nações ligou um sinal de alerta – o que aconteceu com muitos países, aliás, até pelo seu formato, com quatro jogos em uma única Data Fifa. Qual dos dois lados prevalecerá ficará claro apenas com o começo da Copa do Mundo no Catar. Mas alguns fatos são incontestáveis. A Bélgica continua contando com alguns dos melhores jogadores do mundo. Outros, porém, estão em fim de carreira, machucados ou em fases ruins. Houve vitórias emblemáticas, até mesmo derrotas honrosas, e outros jogos preocupantes. E o Catar será provavelmente a última oportunidade para uma geração tão badalada realmente fazer história com um título da Copa do Mundo. É favorita no grupo, mas não pode vacilar porque o Canadá tem um bom time, Marrocos pode ser perigoso e a Croácia também encarará o Mundial com tudo para se despedir de Luka Modric em alta.

Como foi o ciclo até a Copa

A Bélgica terminou a última Copa do Mundo em alta, pela campanha que igualou feitos do passado e principalmente pela vitória emblemática contra o Brasil. Havia duas missões para o ciclo seguinte: renovar e tentar conquistar um título para marcar essa geração. Os resultados desses esforços não foram exatamente satisfatórios. Não apareceu ninguém do nível das principais peças da seleção na última década, nem das que ficaram, nem das que saíram, e o mais próximo de um caneco foi a semifinal da segunda Liga das Nações.

Na primeira edição da nova competição da Uefa, a Bélgica não conseguiu se classificar ao final four porque perdeu um dos confrontos diretos (primeiro critério de desempate) para a Suíça por 5 a 2. As duas seleções ficaram com nove pontos, e os suíços foram às semifinais. Absolutamente nenhum problema, porém, para se classificar à Euro 2020. A campanha não poderia ter sido melhor: dez vitórias em dez jogos, 40 gols marcados e apenas três sofridos. Não era a chave mais difícil, com Rússia, Escócia, Chipre, Cazaquistão e San Marino.

A pandemia adiou a Eurocopa para 2021. Antes dela, a Bélgica disputou a fase de grupos da Liga das Nações novamente e teve um resultado melhor. Até impressionante, considerando o que a Dinamarca faria no torneio europeu. O grupo também tinha a Inglaterra, e os belgas passaram com cinco vitórias, uma delas em Copenhague. Antes de enfrentar a França, porém, finalmente chegou a Euro e, apesar de uma boa campanha na fase de grupos, os sinais de desgaste começaram a aparecer no mata-mata.

A Bélgica passou sem problemas por Rússia e Finlândia e venceu a Dinamarca, na estreia de Kevin de Bruyne, que saiu do banco de reservas, após se recuperar da fratura no rosto que sofreu na final da Champions League, para decidir a parada. Nas oitavas de final, venceu Portugal pela contagem mínima, mas perdeu Eden Hazard, que até fazia boa competição, e De Bruyne sofreu uma lesão no tornozelo. Jogou mesmo assim contra a Itália. A Bélgica se esforçou e foi até o seu limite, mas não teve pernas ou qualidade para avançar.

A semifinal da Liga das Nações foi uma demonstração de força. Contra a campeã mundial, a Bélgica chegou a abrir 2 a 0, liderada por Lukaku e De Bruyne, e teve a vaga na final nas mãos. Mas, em um grande épico, a França reagiu, liderada por Kylian Mbappé e Karim Benzema e arrancou a vitória, nos acréscimos, com Theo Hernández. Perdeu a sua melhor chance de conquistar um título – mesmo que de uma competição menor e ainda de pouca tradição -, mas a impressão foi positiva.

Na Data Fifa seguinte, a Bélgica venceu a Estônia por 3 a 1 e se classificou sem sustos para a sua terceira Copa do Mundo seguida. Por outro lado, falando em sustos, a nova campanha na Liga das Nações começou com o sinal mais claro e preocupante do envelhecimento dessa geração. Perdeu o clássico para a Holanda, em Bruxelas, por 4 a 1, sem resposta nos dois lados do gramado, mas principalmente na defesa, onde seus velhos zagueiros levaram bola nas costas atrás de bola nas costas. Recuperou-se, até, e conseguiu levar a definição da vaga na semifinal para a última rodada, mas precisava golear os holandeses em Amsterdã. Acabou perdendo novamente.

Lukaku e De Bruyne (Laurence Griffiths/Getty Images/One Football)

Como joga

Roberto Martínez treina a Bélgica desde 2016 e tem uma forma de jogar muito bem definida. Tem qualidade na posse de bola e também capacidade de ser letal no contra-ataque, partindo de uma formação com três zagueiros. O problema é quais serão esses zagueiros. Um ano depois da Copa do Mundo da Rússia, o Tottenham chegou à final da Champions League com dois belgas no miolo da sua defesa. Jan Vertonghen e Toby Alderweireld estavam entre os principais jogadores da posição. Agora, com idade avançada e de volta ao Campeonato Belga, lideram um setor que gera preocupação.

Outros nomes de qualidade, como Vincent Kompany e Thomas Vermaelen, se aposentaram. Quem estava na frente da fila para substituí-los – principalmente Jason Denayer e Dedrick Boyata – não convenceram. Então, Martínez deve fazer uma improvisação e usar o volante Leander Dendoncker como zagueiro pela direita. É uma função que ele executou muitas vezes no Wolverhampton. As alternativas são todas jovens: Wout Faes (24 anos), Arthur Theate (22) e Zeno Debast (19), que parte na frente por se encaixar melhor naquele lado.

O retorno de Yannick Ferreira Carrasco da China ao Atlético de Madrid deve ter sido comemorado por Martínez porque ele recuperou a sua preferência para a ala esquerda, na qual muitas vezes apareceu Thorgan Hazard – e, em certas situações, pode contar com Leandro Trossard. No outro lado, o titular é Thomas Meunier. Timothy Castagne, do Leicester, é uma opção para as duas alas. O centro do meio-campo parece pacificado: Axel Witsel como uma âncora de experiência para dar liberdade a Youri Tielemans, talvez o único belga mais jovem que realmente se firmou como um excelente jogador. Amadou Onana e Hans Vanaken são as principais alternativas.

O setor ofensivo é o que pode apresentar mais variações, embora conte com senadores que dificilmente sairão do time se não estiverem machucados. Kevin de Bruyne é um deles, o craque da seleção belga, como um camisa 10 e possivelmente, se Lukaku não estiver em forma, até como falso 9. Eden Hazard, por todos os problemas que tem no Real Madrid, ainda possui moral suficiente para começar jogando. No decorrer das partidas, Martínez pode optar por usar dois pontas, por exemplo, com Trossard ou Doku, ou dois meias-atacantes, com Charles de Ketelaere.

O comando do ataque é um problema pela questão física de Lukaku. Se ele não aparecer na fase de grupos, Martínez terá que decidir se improvisa, com De Bruyne ou Hazard, se dá uma chance ao veterano Dries Mertens, que trocou o Napoli pelo Galatasaray na última janela de transferências, ou se aposta em Michy Batshuayi, que nunca explodiu na carreira, ou no jovem Loïs Openda, do Lens.

Ainda é um elenco qualificado. A Bélgica tem o melhor goleiro do mundo e o melhor meia do mundo. Lukaku já se mostrou capaz de ser pelo menos um dos melhores atacantes do mundo. Alguma renovação foi feita, com nomes de potencial chegando, como De Ketelaere e Doku, mas algumas das estrelas que geraram tanta badalação se aposentaram ou estão caminhando para o fim da carreira – ou nem jogam direito, não é, senhor Eden Hazard?

Time base: Thibaut Courtois; Leander Dendoncker, Toby Alderweireld e Jan Vertonghen; Thomas Meunier, Axel Wiesel, Youri Tielemans e Yannick Ferreira Carrasco; Kevin de Bruyne, Eden Hazard e Romelu Lukaku. Técnico: Roberto Martínez

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Kevin de Bruyne (Dean Mouhtaropoulos/Getty Images/One Football)

Os donos do time

Craque ele sempre foi. No último ciclo, porém, Kevin de Bruyne deu um salto de rendimento, partindo de um patamar que já era altíssimo, que o transformou em um dos melhores. O meia chegou à Inglaterra pelo Chelsea aos 21 anos e teve que dar um pulo na Alemanha, onde defendeu Werder Bremen e Wolfsburg, antes de retornar triunfalmente pelo Manchester City. A sua primeira temporada depois do Mundial da Rússia foi acidentada por uma lesão no joelho durante os treinos que praticamente o tirou de ação entre agosto e dezembro. Ele ainda conseguiu contribuir, principalmente na FA Cup, com a histórica Tríplice Coroa nacional do time de Pep Guardiola – Copa da Inglaterra, Copa da Liga Inglesa e Premier League.

Recuperado, De Bruyne igualou o recorde de assistências em uma única temporada da liga inglesa na era moderna, com 20, que era de Thierry Henry. Os problemas físicos, porém, voltaram a assombrá-lo em 2020/21 e o acompanharam até a Eurocopa. A começar pela fratura no rosto que sofreu após um choque com Antonio Rüdiger, do Chelsea, na final da Champions League. Conseguiu estrear apenas no segundo tempo do segundo jogo – com um gol e uma assistência. Depois, sofreu um rompimento no ligamento do tornozelo nas oitavas de final contra Portugal e foi para o sacrifício contra a Itália. Ficou em campo a partida inteira, mas não conseguiu fazer muita coisa para evitar a eliminação da sua seleção.

Esse histórico de muitas lesões em pouco tempo permitia ponderar se, apesar da exuberância técnica, De Bruyne passaria a ter um crônico problema para ficar em campo. Ainda carregou dores no tornozelo para o começo de temporada do Manchester City, mas deixou as preocupações para trás. Disputou 30 rodadas da Premier League e, cobrado por Guardiola para entrar mais na área, marcou 15 gols. E agora está a caminho de bater seu próprio recorde. Com Haaland como alvo, deu nove assistências nas 16 primeiras rodadas do Campeonato Inglês. Em uma geração envelhecida, ninguém está em melhor forma que ele.

Romelu Lukaku passou por altos e baixos. Sempre questionado no Manchester United, às vezes injustamente, foi se encontrar com Antonio Conte na Itália e atingiu o ápice da sua carreira sendo o craque da Internazionale na conquista do Scudetto. Em meio a uma reorganização financeira, que também motivou a saída do técnico, realizou o seu sonho de jogar no Chelsea – desta vez, como um dos melhores atacantes do mundo, não como havia sido em sua primeira passagem, ainda muito jovem. E não deu certo. Fez poucos gols, deu entrevistas polêmicas sinalizando o desejo de voltar à Inter e teve atritos com Thomas Tuchel.

A venda do Chelsea ao consórcio liderado pelo norte-americano Todd Boehly abriu um caminho para que ele saísse daquela situação porque seria mais difícil convencer quem pagou € 115 milhões por seus serviços a liberá-lo quase de graça para retornar à Internazionale. Havia muita expectativa pela reformulação da dupla com Lautaro Martínez, mas Lukaku mal entrou em campo nos últimos meses, sofrendo com muitas lesões. Chegou a ser dúvida para a Copa do Mundo e foi convocado mesmo ainda se recuperando de um problema na coxa. Segundo Martínez, a expectativa real é que apareça apenas no mata-mata, se a Bélgica chegar lá. O que pode ser um problema porque ele é o principal atacante da seleção e seus gols podem fazer falta na fase de grupos.

Thibaut Courtois sempre teve um par de mãos seguras, protegendo as metas de Atlético de Madrid, Chelsea e Real Madrid. Estava entre os melhores goleiros do mundo e foi decisivo na vitória sobre o Brasil nas quartas de final da Rússia, mas chegará à Copa do Mundo depois de sua melhor temporada e com o Troféu Lev Yashin, concedido pela revista France Football ao melhor goleiro do mundo, em sua bagagem. Muito, muito merecido. Ele foi absolutamente genial na conquista da Champions League, pegando pênalti de Messi, agigantando-se no retorno a Londres e fazendo milagres contra o Manchester City. E foi o principal responsável pelo título na final contra o Liverpool pela quantidade e qualidade das suas defesas.

Se Courtois cresceu no Real Madrid, Eden Hazard desapareceu. Junto com a aposentadoria de Vincent Kompany, é a principal mudança da seleção belga em termos individuais. Em 2018, Hazard era um craque, um dos melhores jogadores do mundo. Desde que se transferiu para o Real Madrid por € 100 milhões, virou um fantasma. O clube merengue conquistou títulos nesse período com o luxo de preteri-lo. Nunca está saudável, mal entra em campo e, quando entra, a quantidade de bons jogos cabe em uma mão. A ideia de Carlo Ancelotti para esta temporada era usá-lo de falso 9, um substituto para Karim Benzema. Foi atropelado por Rodrygo. Fez seis jogos nos últimos meses e é impossível saber o que fará no Catar. O único alento é que, na seleção belga, mesmo entre os problemas no Real Madrid, tem conseguido ser um jogador pelo menos um pouquinho melhor.

De Ketelaere (LAURIE DIEFFEMBACQ/BELGA MAG/AFP via Getty Images/One Football)

As caras novas

A prioridade de Roberto Martínez durante o último ciclo foi encontrar novos zagueiros. Não contava mais com Vincent Kompany. Jan Vertonghen e Toby Alderweireld estão nas fases finais de suas carreiras. E sendo bem sincero, ele não encontrou. Levará três jogadores quase novatos para a Copa do Mundo em vez de nomes mais experientes como Jason Denayer e Dedryck Boyata. É até uma boa decisão porque, se não existe uma solução, melhor dar um pouco de vivência para a garotada.

Entre os três, o que está em estágio mais avançado é Wout Faes, 24 anos. Formado na base do Anderlecht, firmou-se pelo Oostende e conseguiu uma transferência à França. Fez duas boas temporadas pelo Stade de Reims antes de ser contratado emergencialmente pelo Leicester, que precisava de uma reposição para Wesley Fofana. Está sendo titular e ajudando Brendan Rodgers na recuperação na Premier League. Tem cinco minutos de experiência pela seleção.

Arthur Theate, 22 anos, também já saiu da Bélgica. E também apareceu pelo Oostende. Teve uma temporada emprestado ao Bologna antes de ser vendido ao Rennes, que está fazendo uma ótima Ligue 1. É titular da quarta melhor defesa da França. Defendeu a Bélgica três vezes. O outro jovem zagueiro é Zeno Debast. Ainda um talento local, de 19 anos. Estreou no time titular do Anderlecht no fim da temporada 2020/21, foi reserva na seguinte e está fazendo a sua primeira campanha de verdade. Jogou duas vezes na seleção.

Theate é companheiro de uma das principais esperanças da Bélgica para o futuro. Jérémy Doku é um daqueles pontas velozes que colocam fogo na partida. Teve alguns bons momentos durante a última Eurocopa e não vive grande fase pelo Rennes. Foi convocado, mas sua última partida no time nacional foi justamente a derrota para a Itália nas quartas de final, quando sofreu um pênalti convertido por Romelu Lukaku. Ainda tem 20 anos.

Outro talento jovem que pode usar a Copa do Mundo para dar um salto na carreira é Charles De Ketelaere. Foi uma badalada contratação do Milan pelas ótimas temporadas que emendou com o Club Brugge, aparecendo bem até mesmo na Champions League. Ainda não se firmou no novo time, o que é até natural para um garoto de 21 anos. Não marcou pela Serie A em 13 jogos, dos quais cinco foram como titular.

Por outro lado, a Bélgica pode tentar aproveitar a fase iluminada de Leandro Trossard. Em um Brighton que sofre para fazer gols desde a época de Graham Potter, ele é um dos jogadores ofensivos mais importantes. Nesta temporada, tem sete gols em 14 rodadas da Premier League e duas assistências. Embora seja mais velho, com 27 anos, estreou na seleção belga apenas em 2020 e, desde então, acumulou 21 jogos. Participou de todas as partidas da última Liga das Nações e marcou duas vezes na goleada por 6 a 1 sobre a Polônia.

Roberto Martínez (VIRGINIE LEFOUR/BELGA MAG/AFP via Getty Images/One Football)

O técnico

Sempre houve curiosidade de saber quando, e se, a Bélgica encaixaria uma campanha especial e a incapacidade de fazer isso na Copa do Mundo de 2014 e na Eurocopa de 2016 acabou custando o emprego de Marc Wilmots. A federação, então, recorreu a um mercado comum às seleções: técnicos que demonstraram capacidade, mas que por algum motivo estavam disponíveis ou em baixa. Esse era o caso de Roberto Martínez. O ex-jogador espanhol chamou atenção ganhando a Copa da Inglaterra com o pequeno Wigan, a maior zebra da competição em décadas. Foi contratado pelo Everton, após o rebaixamento (na mesma temporada 2012/13). Fez um trabalho competente, com um quinto lugar na Premier League e semifinais das copas inglesas pouco antes de ser demitido, em maio de 2016. Alguns meses depois, o cargo da seleção belga ficou disponível, e Martínez encarou o desafio. A melhora coletiva foi visível e aquele grande resultado veio com o terceiro lugar na Copa do Mundo da Rússia, com direito a uma vitória sobre o Brasil nas quartas de final. Desde então, com o envelhecimento da seleção, ele está tendo problemas para manter um alto nível de competitividade.

Geografia do elenco

A Bélgica é dividida em três regiões: Flanders, com predominância da língua holandesa e quase 60% da população do país; Valônia, onde o mais falado é o francês; e a capital Bruxelas. Não por acaso, a maioria do elenco belga é de Flanders, com 17 representantes e três nascidos na Antuérpia, sua maior cidade e província. Outros sete jogadores, incluindo os Hazards, são originários da Valônia, no leste, e apenas Michy Batshuayi nasceu em Bruxelas, embora nomes como Carrasco e Tielemans tenham saído dos arredores da capital.

Apenas um jogador não nasceu na Bélgica. Amadou Onana é de Dacar, no Senegal. Ele gosta de descrever sua jornada com uma frase: “o que é doloroso não dura, e quem persevera sorri”. Criança, morava em um casa com 14 pessoas, ao lado da mãe, tia, irmãos, primos e avós. Ficou em Senegal até os 11 anos, até se mudar para morar com o pai na Bélgica, onde conhecera a mãe de Amadou. A escolha foi para estudar e também porque achava que teria mais oportunidades para jogar futebol. Foi uma boa escolha: agora fala cinco línguas – Wolof, francês, holandês, alemão e inglês – e é craque em matemática.

“Eu, minha irmã e minha mãe fomos inicialmente, depois meu irmão se juntou a nós dois anos depois, após terminar a escola. Foi uma grande mudança, por causa da cultura, da língua… era muito diferente. Em Senegal, todo mundo vivia junto, tentando ajudar um ao outro, mesmo se não tivessem muito. Não éramos ricos, mas tentávamos ajudar um ao outro o tempo todo. Na Bélgica, parecia que você estava um pouco mais por conta própria. Você tem que aprender a viver por conta própria”, disse, em entrevista ao Everton.

Ele tentou começar a carreira na ótima academia do Anderlecht, mas teve dificuldades para ascender. Quase ao mesmo tempo, precisou lidar com problemas de saúde na família, com a irmã, hoje em dia sua empresária, diagnosticada com câncer e a mãe sofrendo com uma rara doença que enfraquece o esqueleto. Depois de passar por outras bases belgas, ganhou uma chance de verdade no Hoffenheim. Aprendeu alemão em cinco meses. “A mudança da Bélgica para a Alemanha foi a mais difícil. Sou um grande cara de família que cresceu em uma casa com toda a família, então estava acostumado a estar constantemente com outras pessoas. Eu mudei para a Alemanha sozinho e fazer tudo sozinho era diferente para mim”, explicou.

Explodiu mesmo para o futebol pelo Hamburgo, na segunda divisão alemã, antes de se transferir ao Lille e chegar ao Everton, no qual também jogou outro membro da seleção belga que tem uma incrível história de vida. Lukaku nasceu na Antuérpia de pais congoleses e sofreu com a pobreza na infância, como contou em um excelente texto para o Player’s Tribune que foi publicado pouco antes da Copa do Mundo de 2018 – leia aqui a tradução. A imigração congolesa também levou as famílias de Loïs Openda, Batshuayi e Youri Tielemans para a Bélgica. Jérémy Doku tem origem senegalesa, e Yannick Ferreira Carrasco nasceu de pai português e mãe espanhola. Em uma entrevista ao Independent, em 2015, Kevin de Bruyne contou que sua mãe nasceu no Burundi – colônia da Bélgica até 1962.

Onde jogam

Parte da badalação em torno da geração belga era a quantidade de jogadores que tinham papéis centrais nos principais clubes do mundo. Isso não é mais tão verdade. Kevin de Bruyne ainda é o craque do Manchester City, e Thibaut Courtois foi o melhor em campo em uma final da Champions League pelo Real Madrid. Romelu Lukaku, em forma, é importante à Internazionale, mas já estamos descendo um andar na hierarquia do futebol europeu. Nesse mesmo patamar estão Borussia Dortmund, que tem Thomas Meunier e Thorgan Hazard, Atlético de Madrid, com Axel Witsel e Carrasco, e Milan, com Charles de Ketelaere. Com níveis diferentes de influência, nenhum é o craque do seu time.

A Inglaterra é o país com mais jogadores na seleção belga. Além de De Bruyne, temos a colônia do Leicester, com Tielemans, Wout Faes e Timothy Castagne. Amadou Onana está no Everton, Leandro Trossard no Brighton e Leander Dendoncker no Aston Villa. A liga local ofereceu cinco representantes, quase todos veteranos que retornaram para casa nos últimos anos da carreira, como Simon Mignolet, Toby Alderweireld e Jan Vertonghen. Hans Vanaken tem 30 anos e está no Club Brugge desde 2015. O jovem defensor Zeno Debast, uma das apostas de Martínez para renovar a defesa, defende o Anderlecht.

Depois de uma carreira incrível pelo Napoli, Dries Mertens seguiu seu caminho no Galatasaray, que tem um apreço especial por craques em fim de carreira, e rivaliza com Michy Batshuayi. Após rodar por empréstimo e não conseguir se firmar no Chelsea, acertou com o Fenerbahçe. Possível futuro da seleção belga, o talentoso Jérémy Doku defende o Rennes, da França, junto com o defensor Arthur Theate. A Ligue 1 também conta com Loïs Openda, do Lens.

One Football (AFP via Getty Images/One Football)

Um herói em Copas

Antes da atual, a outra geração belga que fez barulho, nos anos oitenta, era liderada por Jan Ceulemans, um técnico e forte meio-campista, com quase 1,90 metros de altura, que talvez não tenha chamado tanta atenção por nunca ter deixado o futebol belga. Uma lenda do Club Brugge, o qual defendeu a maior parte da carreira, e um líder da seleção belga que chegou às semifinais da Copa do Mundo de 1986.

Ceulemans começou carreira pelo Lierse e logo chamou a atenção do Club Brugge, que havia acabado de disputar uma final de Copa dos Campeões contra o Liverpool, mas passava por uma reformulação com a saída do técnico Ernst Happel. O alto meia de 21 anos foi a maior contratação da Bélgica naquela época, por nove milhões francos belgas, e respondeu rapidamente com 29 gols em 34 rodadas na temporada 1979/80, na qual o Brugge foi campeão.

Na seleção, ajudou a Bélgica a chegar à final da Eurocopa de 1980 e teve seu grande momento na Copa do Mundo de 1986. Marcou gols decisivos nas oitavas contra a União Soviética e nas quartas contra a Espanha. Fez o bastante para entrar na seleção do campeonato. Não chegou mais longe porque encarou a Argentina que, naquela época, tinha um craque ainda melhor.

Calendário

Bélgica x Canadá – 23/11
Bélgica x Marrocos – 27/11
Croácia x Bélgica – 01/12

Todos os convocados

NúmeroPosiçãoJogadorData de nascimentoClubeJogosGolsLocal de Nascimento
1GOLThibaut Courtois11 de maio 1992 (30 anos)Real Madrid960Bree, Bélgica
12GOLSimon Mignolet6 de março 1988 (34 anos)Club Brugge350Sint-Truiden, Bélgica
13GOLKoen Casteels25 de junho 1992 (30 anos)VfL Wolfsburg40Bonheiden, Bélgica
2DEFToby Alderweireld2 de março 1989 (33 anos)Antwerp1235Antuérpia, Bélgica
3DEFArthur Theate25 de maio 2000 (22 anos)Rennes30Liége, Bélgica
4DEFZeno Debast24 de outubro de 2003 (19 anos)Anderlecht20Halle, Bélgica
5DEFJan Vertonghen24 de abril de 1987 (35 anos)Anderlecht1419Sint-Niklaas, Bélgica
15DEFThomas Meunier12 de setembro de 1991 (31 anos)Borussia Dortmund588Sainte-Ode, Bélgica
21DEFTimothy Castagne5 de dezembro de 1995 (26 anos)Leicester City252Arlon, Bélgica
22DEFWout Faes3 de abril de 1998 (24 anos)Leicester City10Mol, Bélgica
6MEIAxel Witsel12 de janeiro de 1989 (33 anos)Atlético Madrid12612Liége, Bélgica
7MEIKevin De Bruyne28 de junho de 1991 (31 anos)Manchester City9325Drongen, Bélgica
8MEIYouri Tielemans7 de maio de 1997 (25 anos)Leicester City545Sint-Peters-Leeuw, Bélgica
11MEIYannick Carrasco4 de setembro de 1993 (29 anos)Atlético Madrid598Vilvoorde, Bélgica
18MEIAmadou Onana16 de agosto de 2001 (21 anos)Everton20Dakar, Senegal
19MEILeander Dendoncker15 de abril de 1995 (27 anos)Aston Villa291Passendale, Bélgica
20MEIHans Vanaken24 de agosto de 1992 (30 anos)Club Brugge225Pelt, Bélgica
24MEICharles De Ketelaere10 de março de 2001 (21 anos)AC Milan101Brugues, Bélgica
9ATARomelu Lukaku13 de maio de 1993 (29 anos)Inter Milan10268Antuérpia, Bélgica
10ATAEden Hazard 7 de janeiro de 1991 (31 anos)Real Madrid12233La Louvière, Bélgica
14ATADries Mertens6 de maio de 1987 (35 anos)Galatasaray10621Leuven, Bélgica
16ATAThorgan Hazard29 de março de 1993 (29 anos)Borussia Dortmund459La Louvière, Bélgica
17ATALeandro Trossard4 de dezembro de 1994 (27 anos)Brighton & Hove Albion215Maasmechelen, Bélgica
23ATAMichy Batshuayi2 de outubro de 1993 (29 anos)Fenerbahçe4726Bruxelas, Bélgica
25ATAJérémy Doku27 de maio de 2002 (20 anos)Rennes102Antuérpia, Bélgica
26ATALoïs Openda16 de fevereiro de 2000 (22 anos)Lens41Liège, Bélgica
Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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