Obrigado, Paulinho, você é craque, mas o momento é de Fernandinho

Era uma bola cantada. Paulinho era um dos que vinha mal no time, ao lado de Daniel Alves e Fred. O problema é que destes todos, Paulinho era o mais essencial ao time. Sua má fase afetava todo o time, e um dos pontos mais importantes, a construção e posse de bola. Felipão apostou nele mais uma vez, deu confiança. Não faltou vontade, especialmente nos primeiros minutos, mas novamente ele foi mal. O meio-campo brasileiro foi ausente. Até a entrada de Fernandinho. O volante do Manchester City, é justo dizer, mudou o jogo. Participou, desarmou, construiu e finalizou. Fez o quarto gol, mas essa foi só a cereja do bolo. Ele já tinha entrado tão bem que seria difícil não considerá-lo destaque.
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Fernandinho teve a melhor temporada na carreira. Trocou o Shakhtar Donetsk pelo Manchester City e foi uma peça essencial no time campeão inglês. Formou uma dupla de meio-campo espetacular com Yayá Touré, com marcação e saída para o jogo com qualidade. Acostumou-se a ser o primeiro marcador de um meio-campo cheio de jogadores técnicos. Uma adaptação e tanto para quem foi camisa 10 no Atlético Paranaense, no início da sua carreira.
Um jogador que se adaptou a ser segundo volante no Shakhtar com a chegada de Jadson ao time ucraniano. O meia, atualmente no Corinthians, assumiu o papel de armador central e Fernandinho recuou. Continuou como destaque e chegou à seleção brasileira, ainda com Mano Menezes – e foi um dos jogadores que era taxado como “cota Shakhtar”, uma maneira maldosa de falar de um jogador que, já naquela época, se destacava, mesmo sem os holofotes de agora.
Ganhou espaço na seleção no final da reta de preparação, no último amistoso antes da convocação final. Acabou chamado como uma opção a Luiz Gustavo, mas acaba entrando no lugar de Paulinho, o que faz todo sentido. Com a má fase de Paulinho, o Brasil perde não só em marcação como em saída de bola. Luiz Gustavo acaba ficando muito sobrecarregado e o time sofre. Fernandinho entrou e deu mais marcação ao meio-campo, além de ter dado saída de jogo melhor. Em poucos lances, conseguiu fazer o time chegar à frente com mais facilidade.
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Paulinho jogou 45 minutos e fez 12 passes, acertando 83% deles. Com o mesmo tempo em campo, Fernandinho fez 26 passes e acertou 96%. Mais do que números, ele estava quase na área adversária para pegar a bola em uma boa interceptação e abrir para David Luiz cruzar para Fred, no terceiro gol brasileiro. Veio com a bola, tabelou e marcou o quarto gol. Deu essa chegada que Paulinho tanto fez pelo Brasil, mas que deixou de fazer neste ano.
Paulinho foi um dos melhores jogadores brasileiros em atividade por algum tempo. Não teve uma grande temporada no Tottenham, mas era absolutamente justificável que Felipão apostasse nele como titular do time. Não só pelo jogador que ele é e pelo histórico que ele teve na seleção, especialmente na Copa das Confederações, mas porque é preciso uma certa dose de confiança em um jogador que tem caráter tão decisivo em campo.
Felipão deu confiança a ele ao escalá-lo em todos os jogos da primeira fase como titular. Mas com o futebol apresentado e o problema grave do meio-campo brasileiro, não dava mais para insistir nisso. É preciso mudar, e Felipão mudou. E Fernandinho aproveitou muito bem a chance.
Paulinho continuará sendo um grande jogador, e provavelmente se recuperará. É o melhor jogador brasileiro para aquela função, mas calhou de não estar bem no momento mais importante, a Copa do Mundo. Como bem disse Fabio Chiorino no Esporte Fino, Paulinho vive uma situação parecida com a de Raí em 1994. Sua continuidade seria um perigo para o time.
Felipão sabe ser fiel aos jogadores. Chegou a dizer a Rivaldo, que era muito criticado em 2002 e vinha em condição física questionável, que nem que ele jogasse 10 jogos ruins seguidos sairia do time. Não saiu, foi destaque e o Brasil foi campeão. Mas nem sempre é assim. Às vezes é preciso mudar, e Felipão deve fazer essa escolha a partir de agora. Paulinho pode entrar em outro momento da Copa e ser importante. No momento, seu lugar é no banco.
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