Seguindo todos os protocolos: Anvisa interrompe Brasil x Argentina, em uma situação com uma série de erros
Anvisa alega que quatro argentinos descumpriram as regras e jogo foi interrompido aos cinco minutos, mas há muitas perguntas não respondidas

Uma cena ridícula aconteceu neste domingo na Neo Química Arena, em Itaquera. Com cinco minutos de jogo, Brasil x Argentina foi interrompido pela Anvisa, a autoridade sanitária brasileira, por quatro jogadores argentinos que violaram regras da entidade ao entrarem no país. Os agentes estavam acompanhados pela Polícia Federal, que entraram em campo para tirar os jogadores que estariam irregulares. Diante da situação, os argentinos se retiraram de campo e se recusaram a voltar. A Conmebol decidiu, então, suspender o jogo.
Emiliano Martínez, Emiliano Buendia, Giovani Lo Celso e Cristian Romero jogam na Inglaterra e não informaram que passaram pelo Reino Unido nos últimos 15 dias, como é solicitado na documentação para quem entra no Brasil. Há um acordo do protocolo de COVID-19 que foi aceito por todos que participam das competições da Conmebol, como Libertadores, Sul-Americana e as Eliminatórias da Copa, além da Copa América, realizada no país recentemente. O acordo foi feito em 2020, na retomada do futebol no continente.
O problema é que a Portaria nº 655, publicado no Diário Oficial no dia 23 de junho de 2021, depois que a Copa América já tinha começado, no dia 11 de junho, e que prevê que viajantes estrangeiros que tenham passagem por Reino Unido, África do Sul, Irlanda do Norte ou Índia nos últimos 14 dias estão impedidos de ingressar no Brasil. A irregularidade, segundo a Anvisa, é que quatro jogadores não cumpriram os protocolos determinados pela entidade. Eles teriam que cumprir a quarentena de 14 dias para poderem participar de outras atividades.
“A Anvisa considera a situação risco sanitário grave, e por isso orientou às autoridades em saúde locais a determinarem a imediata quarentena dos jogadores, que estão impedidos de participar de qualquer atividade e devem ser impedidos de permanecer em território brasileiro, nos termos do art. 11, da Lei Federal nº 6437/77”, diz comunicado da Anvisa. O pedido da Anvisa é que os jogadores sejam deportados e não poderiam entrar em campo.
“São quatro jogadores. Eles, ao chegarem em território nacional, apresentam a declaração de saúde do viajante. Neste documento não falava que eles passaram por um dos três países que estão restritos, justamente para a contenção da pandemia. Mas depois foi constatado que eles passaram pelo Reino Unido. Foi constatado entre ontem de noite e hoje. Chegamos nesse ponto porque tudo aquilo que a Anvisa orientou, desde o primeiro momento, não foi cumprido. Eles tiveram orientação para permanecer isolados para aguardar a deportação. Mas não foi cumprido. Eles se deslocam até o estádio, entram em campo, há uma sequência de descumprimentos”, disse Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, na transmissão da TV Globo.
No começo da tarde, porém, parecia que a situação tinha sido contornada. A CBF, junto com o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, e dirigentes da AFA, participaram de negociações para garantir a realização do jogo. A Anvisa, porém, continuou alegando que se os quatro jogadores argentinos que preencheram de forma incorreta, mentindo no formulário e, portanto, desrespeitando as regras sanitárias.
A mensagem da Conmebol
A Conmebol divulgou seu comunicado às 16h58, quase uma hora depois do início da partida. “Por decisão do árbitro da partida, o encontro organizado pela Fifa entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo é suspenso. O árbitro e o comissário da partida elevaram um informe à Comissão Disciplinar da Fifa, que determinará os passos a seguir. Esses são os procedimentos que seguem estritamente os regulamentos vigentes”, diz a entidade, no comunicado divulgado no Twitter. “As Eliminatórias para a Copa do Mundo é uma competição da Fifa. Todas as decisões que dizem respeito à sua organização são exclusivas dessa instituição”.
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Uma série de erros
Em meio a muitos protocolos que fingem que são seguidos há muito tempo para que a bola voltasse a rolar, desta vez a Anvisa decidiu agir contra o descumprimento. Dentre todos os absurdos que vivemos desde o início da pandemia, a cena que vimos na Neo Química Arena é uma dessas históricas, uma vergonha para todos os envolvidos: a CBF, a Conmebol, a AFA e todos os demais. O futebol pareceu tentar passar por cima de tudo, como se tivessem leis próprias. E não pensaram isso à toa. Acontece que, por vezes, o futebol ganha passe livre para fazer tudo mesmo.
Não quer dizer que não haja perguntas para serem feitas. Há diversos culpados nessa história e será preciso apurar direito o que aconteceu. A Argentina parece ter ignorado os protocolos, assim como a Anvisa precisa responder sobre tudo que foi feito desde a entrada dos jogadores no país. Parece que houve falha também nesse processo, da entrada deles no país, na sexta, até este domingo. É preciso que o esclarecimento seja feito. Por enquanto, ninguém foi transparente, mas tudo indica que as entidades do futebol quiseram passar por cima das regras, ao mesmo tempo que parece que as regras estavam aí para serem cumpridas e só foram no momento que o jogo começou.
Precisaremos de muito mais esclarecimento do que tivemos até aqui. Certamente há muitos erros, que parte da Argentina, mas também passa pelo Brasil, as entidades brasileiras e até a Anvisa. Todos precisam responder por essa situação ridícula que vivemos nesta domingo.