Eliminatórias da Copa

Tim Vickery: Sei que Alisson é bom goleiro para a Seleção. Mas ele tem sorte?

Goleiro é o melhor do mundo para muitos, mas ainda não conseguiu uma grande façanha numa Copa

Nos campos do futebol global, não tem uma posição mais fascinante do que goleiro da seleção brasileira numa Copa do Mundo. Trata-se de uma carga de confiança de 210 milhões de pessoas.

Normalmente, não tem muito para fazer. Mas quando tem, pode ter importância extraordinária para uma quantidade de gente quase inacreditável.

Lidar com esse tipo de pressão não é para qualquer (número) um. Pode deixar cicatrizes profundas. Barbosa em 1950 é um exemplo óbvio. Tudo que ele fez na vida ficava na sombra de um momento infeliz. Ou Valdir Peres em 1982. Toma um frango no primeiro jogo do torneio. Depois não fez nada de errado, mas já era. Era visto como um ponto fraco, e a Copa não deu a ele uma grande chance para se redimir.

A sorte é importante nisso. Poderia ter sido diferente. Um ano antes, o Valdir defendeu dois pênaltis do grande Paul Breitner, da Alemanha Ocidental. Pouca gente lembra. Aconteceu num amistoso. Mas o que acontece numa Copa, ninguém esquece.

Napoleão Bonaparte tinha uma boa resposta quando alguém indicava um general novo. “Sei que ele é bom general,” respondeu o francês. “Mas ele tem sorte?

Alisson disputou duas Copas pela Seleção sem vacilos e sem façanhas

Até agora, está faltando sorte para o Alisson nas Copas do Mundo. Disputou as últimas duas. Sem vacilos. Mas sem grandes façanhas. Pouco para fazer. Mas quando chegou a exigência, não foi capaz de impedir a eliminação do Brasil.

Em 2018 na Rússia levou um só gol nos primeiros quatro jogos. Ai contra a Bélgica o time foi surpreendido cedo. A Bélgica chutou somente três vezes no gol — e um deles veio de Fernandinho, contra. Dois chegaram na rede, e o Brasil estava fora.

A Copa do Catar foi mais cruel ainda. O sistema defensivo do Brasil funcionava tão bem que daria para o Alisson levar uma cadeira de praia e um livro. Levou um gol em três partidas (o Ederson jogou contra o Camarões).

Aí veio a Croácia — que não veio. Chutou no gol uma vez, muito perto do fim da prorrogação. Venceu o Alisson — porque tomou um desvio de Marquinhos. Pênaltis. Momento para ser heroi? Não esta vez. Não conseguiu nenhuma defesa, e, mais uma vez, o Brasil fora.

. – Paris Saint-Germain v Liverpool, UEFA Champions League, Round Of 16, 1st Leg, Parc des Princes Stadium, Paris, France – 4th March 2025.
Daniel Weir / Crystal Pix
Alisson fez milagres pelo Liverpool em Paris (Foto: Imago)

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Dibu Martínez foi o exemplo oposto

Faltou a Alisson a oportunidade que pintou para Emiliano Martinez no final. O argentino virou estátua, imortal, no último lance do jogo, quando saiu para defender o chute de Kolo Muani. Mas o Alisson é pior que Martinez? Na visão de muitos, o brasileiro pode até ser considerado o melhor goleiro do mundo. E, sem dúvida, uma das contratações mais felizes na história recente do Liverpool.

Fica bem na linha do grande Taffarel, um goleiro tranquilo que muitas vezes faz o difícil aparecer comum.. E a atuação simplesmente brilhante essa semana contra o Paris Saint-Germain serve para lembrar as pessoas da sua qualidade.

E, imagino, pode servir também para reconquistar a sua vaga na seleção brasileira.

Ele foi titular na Copa América no ano passado, mas o Ederson não estava presente. Com o goleiro do Manchester City disponível, Dorival Júnior vem optando por deixar Alisson no banco. Até agora, jogaram 12 rodadas das eliminatórias. O placar até aqui é Ederson 8×4 Alisson — e com o Ederson favorecido nos últimos quatro.

Assuste um pouco pensando nisso, mas não falta muito até a próxima Copa do Mundo. Ganhar a posição agora pode ser fundamental para defender a Seleção em 2026. O jogo de quarta-feira vai fazer a cabeça de Dorival? Será que a terceira vez é a da sorte para Alisson na Copa do Mundo?

Foto de Tim Vickery

Tim VickeryColaborador

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos do Tottenham Hotspur.
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