Copa do Mundo

E pensar que, não faz muito tempo, Robben tinha a fama de amarelar…

Provavelmente nem mesmo ele tenha se perdoado por aquele lance. Soccer City, 16 minutos do segundo tempo, Robben sai no mano a mano com Casillas. Não fez o gol que poderia ter dado o título da Copa de 2010 para a Holanda. Uma falha que colocou o craque como culpado pelo fracasso para muita gente. Mas que, quatro anos depois, definitivamente ficou para trás. Não se muda o passado. No entanto, o atacante deixará mais fresco na memória dos torcedores as atuações espetaculares de 2014.

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A primeira missão de Robben foi expurgar Casillas. Outro lance no mano a mano com o goleiro, que não era tão decisivo, mas se tornou bastante simbólico. Foi o golpe final na goleada por 5 a 1 na estreia. Ao invés de definir rapidamente, como na África do Sul, o atacante preferiu humilhar. Deixou o goleiro no chão, duas vezes, antes de emendar para as redes. Era só o primeiro capítulo do excelente Mundial que o camisa 11 fez no Brasil. Seu nome não é Nederland, mas Robben foi mesmo um bravo guerreiro nesta Copa.

No começo, se dizia que o time de Louis van Gaal era moldado para que suas duas estrelas resolvessem. Porém, com o sumiço de Van Persie, a responsabilidade recaiu sobre os ombros de Robben. Que não decepcionou em nenhum momento. Resolveu a partida contra o Chile, que garantiu os 100% de aproveitamento na primeira fase. Pênalti cavado ou não, também foi o melhor em campo no sufoco tremendo contra o México. Teve poucos espaços contra a Costa Rica, embora tenha sido o que mais incomodou Navas. E, diante da Argentina, ficou outra vez a centímetros da glória.

Se o erro foi de Robben em 2010, o mérito é todo de Mascherano naquela bola aos 45 minutos do segundo tempo. O holandês era o único que tentava criar algo no seu time. Quando arrancou sozinho, parou na ponta da chuteira do volante argentino, no carrinho salvador dentro da área. Os pênaltis não deixaram Robben voltar à final. Não por falta de vontade. Tão consciente disso que ainda achou forças para consolar seu filho nas arquibancadas do Itaquerão. Por fim, cumpriu o seu papel na decisão pelo terceiro lugar. Não anotou o seu gol, mas sobrou contra o Brasil.

Mesmo com 30 anos nas costas e vindo de duas prorrogações seguidas, Robben não desliga. Não para de correr por um instante. Está em todos os cantos do ataque. Sua arrancada começou a implodir o Brasil outra vez logo no primeiro minuto de jogo. Participou da jogada dos outros dois tentos. Mostrou que é digno de ganhar a Bola de Ouro do melhor jogador do Mundial. E, se não houver ninguém que arrebente na final, não será injusto se o prêmio for parar nas mãos dele, assim como tinha acontecido com Forlán quatro anos antes.

Robben teve seus momentos ruins na carreira. Em pouco mais de um ano, se redimiu da maioria deles. Coroou o Bayern de Munique na final da Liga dos Campeões e carregou a Holanda nas costas em uma Copa do Mundo – pois dificilmente só a coesão tática de Van Gaal adiantaria. São tantos feitos que a gente até se esquece que, não faz tanto tempo, ainda mais depois do pênalti perdido na final da Champions de 2012, o craque teve fama de “amarelão”.  Nesta Copa, contudo, ele foi 100% laranja. Porque, se quatro anos atrás ele acabou como vilão de um time com ótimos jogadores, desta vez ele foi um herói em um elenco menos talentoso. Um Mundial para colocar Robben definitivamente entre os grandes.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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