Daniel Alves ter sido a única polêmica entre 26 jogadores é sinal de uma convocação pacificada
Chamada do lateral de 39 anos causou reações negativas, mas a lista tem mais consenso que polêmica entre os 26 convocados
Convocação da seleção brasileira segue um roteiro quase sempre igual: o técnico anuncia os nomes e há sempre indignação com algum, às vezes por estar na lista, outras por não estar. A convocação da seleção brasileira para a Copa 2022 foi assim e a polêmica foi em torno de um nome: a presença de Daniel Alves. Embora a reação negativa seja compreensível, é bom sinal que a polêmica seja apenas sobre um jogador que será, teoricamente, reserva. Mostra que a lista tem muito mais consenso do que polêmica. Dos 26 convocados, são 25 que não causam grande controvérsia.
Caso Daniel Alves não fosse uma figura tão controversa (por culpa dele mesmo, inclusive), é provável que a lista de Tite passasse sem grandes discussões. O lateral é o único que atrai esse tipo de controvérsia. Fosse Emerson Royal, ou um zagueiro a mais em vez de um lateral, as coisas teriam menos repercussão. Porém, não há um lateral que esteja em um alto nível que dispute de fato com Daniel Alves. Então, a discussão era ele estar lá como lateral reserva ou então ir como um zagueiro improvisado.
A justificativa de Tite e da comissão técnica para a presença de Daniel Alves, sobre ele ser técnico e um lateral construtor, além das questões de ele ter atingido os patamares físicos exigidos, até fazem sentido, embora discorde. Há um fator de confiança na convocação que é típico em seleção brasileira e normalmente acontece onde não há um consenso. É o caso da lateral direita.
Há o fator de Daniel Alves ser o jogador há mais tempo na seleção e ter se tornado alguém de confiança do técnico. Mais do que isso: ele tem a confiança dos jogadores. Neymar, inclusive, é um dos que defendem o lateral. Todos os jogadores pediam a bênção para ele, é inegável que ele é um líder. Mas em campo, sua presença é questionável e é um ponto de risco.
Daniel Alves é um jogador com história, com qualidade técnica inegável, mas que já não está no seu melhor momento e, em caso de emergência, em um jogo duro, é difícil que Tite confie nele. Se for um jogo de quartas de final ou semifinal, contra um adversário de peso, sem ter Danilo à disposição, apostaria que ele não joga. Ainda assim, acaba sendo a cota de confiança do técnico.
Qualquer outra discussão é bem menor. Na lateral esquerda, sem poder contar com Guilherme Arana, que tudo indica que estaria na lista, ficou uma dúvida sobre quem seria chamado. Alex Sandro, mesmo sem encantar, estava garantido. A dúvida era entre Alex Telles e Renan Lodi e Tite preferiu o primeiro. Embora nenhum deles esteja bem nos seus clubes, com Lodi até trocando de clube do Atlético de Madrid para o Nottingham Forest. Então, era uma escolha completamente justificada.
No Brasil há a discussão sobre Gabigol estar na lista e poderia estar, claro, mas ele é um jogador que teve muitas chances nesse ciclo e não convenceu. Foram 14 jogos, seis como titular, e três gols. Ao contrário do que aconteceu com Raphinha, Antony, Bruno Guimarães e o seu companheiro de Flamengo, Pedro, que pareceu um encaixe mais rápido, mesmo em um jogo. Mesmo assim, se Tite quisesse levá-lo, não seria um absurdo. E não é nenhum absurdo que não tenha levado, é até coerente, considerando que é um jogador que teve chance e não conseguiu aproveitar.
Talvez Tite tenha escapado de outra polêmica com a lesão de Philippe Coutinho, que, sinceramente, já era uma dúvida se iria ou não. Com a lesão do jogador, Éverton Ribeiro foi convocado e é bastante justificável nesse contexto: ele sempre entregou bom futebol quando chamado a jogar pela seleção brasileira.
Entre as ausências, a que é mais falado é a de Roberto Firmino. A sua recuperação nesta temporada, com boas atuações, fez com que seu nome ficasse bem cotado novamente e atuando como uma espécie de meia ofensivo, e não como um atacante, como é a função que ele tem feito no Liverpool. No fim, nomes como Rodrygo, do Real Madrid, e Gabriel Martinelli, do Arsenal, atropelaram pela boa fase. No caso de Rodrygo, ainda tem a versatilidade do jogador, que pode atuar em todas as posições no ataque.
A entrada de Bremer entre os zagueiros é uma adição bem-vinda de um jogador que brilhou no futebol italiano nos últimos anos, em especial na temporada passada, ainda pelo Torino. Nesta, já pela Juventus, tem começado bem. É um zagueiro de característica um pouco diferente dos demais, muito forte fisicamente, alto, de imposição física, mas também com boa capacidade técnica.
A lista de Tite é bastante consensual. Qualquer mudança seria muito pontual, mudando um detalhe ou outro. Os titulares estão definidos e o time está bem preparado para a Copa. Ganhar, claro, é outra coisa, mas não há nenhum injustiçado que ficou fora dos 26 convocados. E entre os que estão, não fosse pela controversa presença de Daniel Alves, passaria incólume. Isso porque, ao contrário da frase feita que ficou famosa, Seleção não é momento: Seleção é continuidade.