Copa do Mundo

Depois do vexame de Gijón, alemães e argelinos protagonizam a epopeia gaúcha

A crônica

Quando achávamos que a cota de surpresas na Copa do Mundo nesta segunda-feira havia se esgotado com a vitória suada da França sobre a Nigéria, Alemanha e Argélia vêm e protagonizam um jogo histórico no Beira-Rio, sobretudo pela resistência que os africanos ofereceram aos favoritos. O tempo regulamentar não foi suficiente para que alguém balançasse a rede, e só na prorrogação a Nationalmannschaft conseguiu o 2 a 1 que a classificou para as quartas de final, para encarar a França.

Movidos pela possibilidade de causar a grande zebra do Mundial até agora – e também pela promessa de um empresário argelino de que quem fizesse um gol na Alemanha ganharia um Porsche Cayenne -, os jogadores da Argélia fizeram um primeiro tempo bastante surpreendente. Os alemães tiveram a posse de bola em boa parte da etapa inicial, mas as chances mais perigosas foram mesmo dos argelinos.

Sempre que a Argélia pegava a bola e ia ao ataque assustava algum alemão. Tanto é que tivemos um verdadeiro festival de saídas de Manuel Neuer do gol. A primeira delas veio logo aos oito minutos. Islam Slimani foi lançado e ia aparecendo sozinho na ponta esquerda, quando de repente veio o goleiro quase na lateral, dando um carrinho e bloqueando o chute do atacante. Alías, o lado esquerdo do ataque da Argélia estava causando um verdadeiro furor para os alemães. Mustafi, improvisado na lateral direita, sofria com as subidas de Ghoulam e Soudani. O lateral esquerdo argelino, inclusive, quase abriu o placar ao aparecer bem na área, finalizando forte, cruzado, rente à trave esquerda de Neuer.

Até aos 40 minutos da primeira etapa, a Argélia era claramente melhor (chegou a ter um gol corretamente anulado por impedimento), e a última grande chance dos africanos veio em chute de fora da área de Mostefa, em que a bola desviou de Boateng, enganando Neuer, mas saindo raspando a trave direita do gol defendido pelo alemão. Depois disso, a Alemanha acordou um pouco para o jogo e forçou Raïs M’Bolhi a fazer seu primeiro grande trabalho no jogo, com uma boa espalmada em chute de longe de Kroos, no cantinho, e defesa fantástica em finalização de Götze, no rebote do lance.

Exceto por essa chance, o jovem do Bayern de Munique havia feito um primeiro tempo quase que completamente nulo e foi substituído por Löw no intervalo. André Schürrle entrou e ajudou a mudar o jogo para a Alemanha, sendo muito participativo. Aos 15 minutos do segundo tempo, era possível observar que a seleção alemã havia se acertado definitivamente: zaga melhor estruturada, com uma linha de quatro jogadores, Schweinsteiger se aproximando bem do ataque, Kroos conduzindo bem a bola da zaga ao ataque, e Philipp Lahm também avançando mais.

Thomas Müller tenta surpreender a Argélia em cobrança de falta – e consegue

Em comparação ao primeiro tempo, a Argélia tinha muito menos brechas para contra-ataques. Fechava a porta para a pressão alemã, mas era também barrada pela defesa dos comandados de Joachim Löw. Com a saída de Mustafi, contundido, para a entrada de Khedira, o técnico colocou Lahm na lateral direita, e a Alemanha melhorou. Dali em diante, tivemos um bombardeio de ataques alemães, sempre parando na falta direção ou nas defesas incríveis de M’Bolhi.

De maneira incrível, os argelinos conseguiram levar a partida para a prorrogação, segurando um empate sem gols, depois de ser superior no primeiro tempo. Já exaurida, a Argélia não conseguiu manter os contra-ataques perigosos e então limitou-se apenas a tentar segurar o ataque alemão. O que não deu muito certo, já que logo aos dois minutos do tempo extra Schürrle finalmente superou M'Bolhi, com uma finalização intencional, mas um chute de letra sem querer, fazendo 1 a 0.

A Alemanha seguiu no ataque e conseguiu o segundo gol com Özil, aos 14 minutos da segunda etapa da prorrogação. O meio-campista esteve muito apagado e ainda assim acabou ficando com o tento que garantiu a classificação às quartas. Isso porque a Argélia respondeu com Djabou, diminuindo um minuto depois, e se não fosse o tento do meio-campista do Arsenal poderíamos ter visto uma disputa por pênaltis.

No final, o que ficou foi um jogo para ser lembrado. Se em 1982 Alemanha e Argélia estiveram envolvidos no episódio conhecido como A Desgraça de Gijón, hoje os dois países protagonizaram a epopeia gaúcha. Mas que fique claro: graças à superação argelina. Se antes do jogo os alemães eram favoritos absolutos, de longe, talvez até mesmo para uma goleada, o que vimos foi a equipe africana levar bastante a sério aquele papo de que “no futebol, são 11 contra 11”.

FICHA TÉCNICA

Alemanha 2×1 Argélia

Alemanha

Alemanha escudoManuel Neuer; Shkodran Mustafi (Sami Khedira, 25'/2T), Per Mertesacker, Jérôme Boateng e Benedikt Höwedes; Bastian Schweinsteiger (Christoph Kramer, 4'/2TP), Philipp Lahm e Toni Kroos; Mesut Özil, Thomas Müller e Mario Götze (André Schürrle, intervalo). Técnico: Joachim Löw.

Argélia

Argélia EscudoRaïs M'Bolhi; Aissa Mandi, Essaïd Belkalem, Rafik Halliche (Madjid Bougherra, 7'/1TP) e Faouzi Ghoulam; Mehdi Mostefa, Mehdi Lacen, Sofiane Feghouli, Saphir Taïder (Yacine Brahimi, 33'/2T) e El Arbi Soudani (Abdelmoumene Djabou, 10'/1TP); Islam Slimani. Técnico: Stephen Keshi.

Local: Beira-Rio, em Porto Alegre

Árbitro: Sandro Meira Ricci (BRA)

Gols: André Schürrle, 2'/1TP, Mesut Özil, 14'/2TP, Abdelmoumene Djabou, 15'/2TP

Cartões amarelos: Rafik Halliche

Cartões vermelhos: nenhum

O cara

Raïs M'Bolhi
Raïs Mbolhi fez milagre para evitar o gol de Lahm
Raïs Mbolhi fez milagre para evitar o gol de Lahm

Se não fosse M'Bolhi, a Argélia não teria conseguido levar o jogo para a prorrogação, fazendo a partida memorável que fez. O goleiro fez uma série de defesas dificílimas e foi o maior responsável por segurar o 0 a 0 no tempo normal, sobretudo no segundo tempo, quando foi bombardeado.

Os gols

2’/1TP: GOL DA ALEMANHA!

Thomas Müller cruza, e André Schürrle tenta a finalização e acaba acertando um chute de letra, meio sem querer, de dentro da pequena área.

14’/2TP: GOL DA ALEMANHA!

Özil pega sobra de chute de Schürrle e aproveita o goleiro M'Bolhi um pouco fora de posição para mandar uma bomba à queima-roupa e fazer 2 a 0.

15’/2TP: GOL DA ARGÉLIA!

Feghouli cruza da direita, e Djabou chega de carrinho na segunda trave para diminuir para a Argélia um minuto após o gol de Özil.

A Tática

Escalações iniciais de Alemanha e Argélia
Escalações iniciais de Alemanha e Argélia

Com a bola, a Alemanha recua Lahm como um terceiro zagueiro, para auxiliar na saída de bola, avançando Mustafi e Höwedes. Özil e Götze ficam abertos, sem muita mobilidade. A Argélia aposta em um 4-2-3-1, tendo Slimani como o jogador que mais se movimenta para fora de sua posição inicial. A Estatística

7

A Argélia fez sete gols nesta Copa do Mundo. Nas outras três que havia disputado, havia marcado seis ao todo.

Foto de Leo Escudeiro

Leo Escudeiro

Apaixonado pela estética em torno do futebol tanto quanto pelo esporte em si. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, com pós-graduação em futebol pela Universidade Trivela (alerta de piada, não temos curso). Respeita o passado do esporte, mas quer é saber do futuro (“interesse eterno pelo futebol moderno!”).
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