Copa do Mundo

A Espanha se despede de seu último campeão mundial: Busquets anuncia a aposentadoria da seleção

Busquets foi um importante coadjuvante no time vencedor da Copa de 2010 e da Euro 2012, mas acaba marcado também pelo futebol burocrático dos fracassos mais recentes

Ao longo dos últimos anos, Sergio Busquets serviu como um guardião na seleção espanhola – não apenas pelo papel que desempenhava em campo, mas pela história que representava. O volante era o último elo com a geração campeã do mundo em 2010. O melhor da carreira do meio-campista já tinha passado faz tempo e, de certa maneira, ele também fez parte dos problemas nesse declínio da Roja burocrática a partir de 2014. Ainda assim, permanecia como homem de confiança de Luis Enrique e como engrenagem central para as pretensões dos espanhóis. A queda nas oitavas de final da Copa do Mundo marca sua despedida. Nesta sexta-feira, Busquets anunciou sua aposentadoria da Espanha, depois de 143 partidas e 13 anos com a camisa vermelha.

“Gostaria de agradecer a todas as pessoas que me acompanharam neste longo caminho. Desde Vicente del Bosque, que me deu a oportunidade de começar, a Luis Enrique, por me fazer desfrutar até o último segundo. Também agradeço à confiança de Julen Lopetegui, Fernando Hierro e Robert Moreno, assim como a todos de suas comissões técnicas. E, como não, a todos e cada um dos meus companheiros, com quem lutei para tentar levar a seleção até onde merecia, com mais ou menos êxito, mas sempre dando tudo e com o maior dos orgulhos”, declarou o meio-campista, em sua nota de despedida.

“Não quero me esquecer de nenhum membro da expedição, que, estando em segundo plano, foram igualmente importantes (fisioterapeutas, médicos, roupeiros, delegados, nutricionistas, imprensa, segurança, etc) e todas as pessoas e trabalhadores que cruzaram meu caminho e o tornaram especial. Também aos presidentes, dirigentes, diretores esportivos e aos que, de uma maneira ou de outra, formaram parte da federação. E a todos os torcedores, pelo apoio diário recebido, sobretudo quando não saíram as coisas como esperávamos. Assim é quando mais se precisa deles e mais unidos é preciso estar. E, ao mais importante, minha família. Por me apoiar em cada momento e em todas as minhas decisões, e compartilhar esse caminho estando longe em muitos dias e me fazendo me sentir sempre perto para que desse o melhor de mim”, continuou.

“Foi uma honra representar meu país e levá-lo ao topo, ser campeão do Mundo e da Europa, ser capitão e disputar tantas partidas, com maior ou menor êxito, mas sempre dando tudo e contribuindo com meu grão de areia para que tudo fosse da maneira correta, dentro do possível, e que todos sentissem o quanto são importantes, ajudando a todos e lutando por um mesmo objetivo, com experiências únicas, inesquecíveis e históricas. Ainda fico arrepiado de me lembrar. Sentirei falta disso (ver a lista de convocados, pegar o avião, saudar meus companheiros, aproveitar os treinos, sair a jogar não sem antes fazer nosso grito juntos, escutar o hino abraçados ou sentir o carinho de todo um país). Finalmente, só posso desejar toda a sorte do mundo aos meus companheiros e ao novo técnico, Luis de la Fuente. Agora, eu serei um torcedor a mais, curtirei e torcerei incondicionalmente pela nossa seleção. Um eterno obrigado”, finalizou.

A ascensão de Busquets pelo Barcelona, a partir da chegada de Pep Guardiola em 2008/09, aconteceu num momento conveniente à seleção. O meio-campista de 20 anos estreou com Vicente del Bosque em abril de 2009 e logo se tornou uma alternativa a Marcos Senna, um monstro na Euro 2008, mas que vinha perdendo espaço desde a saída de Luis Aragonés no comando. Com a queda de rendimento do volante do Villarreal, preterido na convocação final da Copa de 2010 por Javi Martínez, Busquets ganhou a posição de titular. Seria um dos pilares do time campeão mundial, num meio composto ao lado de Xabi Alonso e Xavi, além de Andrés Iniesta na ponta.

Busquets seguiu como um intocável coadjuvante da Espanha na conquista da Euro 2012, eleito inclusive para o time ideal do torneio, mas também experimentou o insucesso na Copa de 2014, em fraca participação individual. A partir de então, lidou com o declínio do time de Vicente del Bosque e se tornava cada vez mais líder diante da aposentadoria de seus companheiros. Sucumbiu na Euro 2016, não evitou a bagunça na Copa de 2018. Até que virasse um dos protagonistas sob as ordens de Luis Enrique. A queda de rendimento no Barcelona não custava seu lugar cativo com o técnico. Tanto é que, na Euro 2020, o medalhão foi bancado mesmo perdendo o início da campanha ao contrair covid.

Sem mais Sergio Ramos na equipe, Busquets passou a usar a braçadeira de capitão, com a faixa já na Eurocopa. Era uma referência para uma seleção cheia de garotos e seu rendimento na Espanha costumava ser mais alto que no Barcelona durante os últimos tempos. Assim, desembarcou na Copa de 2022 como uma peça central. Seria um dos principais responsáveis por ditar o ritmo. Teve grande atuação na estreia contra a Costa Rica, mas viu o time repetitivo ser anulado na sequência do torneio e sucumbiu diante de Marrocos. Não escapou da forte marcação dos Leões do Atlas e ainda teve o peso de perder o pênalti decisivo diante de Bono. Era o fim.

Depois da partida, Busquets afirmou que iria pensar na sua situação com a seleção. Esperava-se que pudesse ainda disputar o Final Four da Liga das Nações dentro de alguns meses. Entretanto, preferiu sair de cena antes e dar espaço aos mais jovens. Aos 34 anos, é uma decisão plenamente compreensível numa carreira que já deixou o alto nível. Também não deve ficar por tanto tempo no Barcelona, oscilando mais. Assim, se torna o último remanescente de 2010 a deixar as convocações. Da seleção multicampeã, agora, resta apenas Jordi Alba – mas que disputou apenas a Euro 2012.

A saída de Busquets pode ser importante inclusive para a Espanha repensar seu estilo. Rodri cumpre muito bem a função na cabeça de área, mas se despedir do volante tão marcado pelo tiki-taka da seleção e do Barcelona parece a deixa ideal para Luis de la Fuente virar a página. Busquets acaba rotulado como um símbolo desse time burocrático e improdutivo que acumulou decepções nos últimos anos. Por outro lado, não se nega o alto nível que também ofereceu à Roja. Quando foi apenas um coadjuvante, ao lado de mais craques, carregou bem o piano. Sucumbiu quando o alto nível ao seu redor também diminuiu.

Independentemente da impressão final, Busquets sai como um grande da seleção da Espanha. Apenas Sergio Ramos e Iker Casillas disputaram mais partidas pela equipe nacional adulta do que ele. Talvez a memória fresca o atrele por mais um tempo ao que não deu certo nas últimas três Copas do Mundo, com as seguidas quedas precoces dos espanhóis. Mas, com um maior distanciamento, a ajuda que ofereceu na África do Sul é o que tende a ser valorizado. É onde reluzirá como um campeão mundial.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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