Copa do Mundo

A eliminação do Brasil é frustrante pelo que o time é capaz de fazer – e ainda pode fazer no futuro

Com um time jovem, especialmente no ataque, o Brasil tem uma base talentosa para recomeçar e pensar na Copa 2026

Pela segunda vez consecutiva, o Brasil deixa a Copa do Mundo dando a sensação que poderia ter feito mais. Não porque jogou mal, pelo contrário: foi punido por seus erros e acabou eliminado em um jogo que atuou bem, criou chances e poderia ter se saído melhor. Foi assim contra a Bélgica e foi mais ainda assim contra a Croácia. O Brasil foi melhor, criou mais e parecia que venceria, mas cometeu um erro em um momento crucial e foi punido por isso. Diante de um adversário que mentalmente jogou o tempo todo para ir para os pênaltis, foi fatal. Jogar bem não é suficiente, especialmente no alto nível. É preciso concretizar sua superioridade. É frustrante e deixará uma marca de tristeza em muita gente, especialmente em quem é mais jovem e nunca viu o Brasil ser campeão, porque desta vez pareciam muito possível e era mesmo.

Não quer dizer que o Brasil não tenha vivido problemas. Enfrentou um time difícil, que complicou para a grande maioria dos adversários, mas falhou em momentos decisivos de finalizar para fazer o gol e, no final, em proteger uma vantagem a poucos minutos do fim. Dá para se questionar as mudanças no time, como a saída de Vinícius Júnior e de Richarlison, que participavam bem do jogo.

Ainda assim, Pedro e Rodrygo entraram bem no jogo. Rodrygo, em especial, deu muito gás pelo lado esquerdo. Antony foi mais presente no ataque do que Raphinha, que não conseguiu mostrar na Copa o que foi durante o ciclo desde que entrou, um jogador de personalidade que participava bem do jogo. Antony conseguiu criar alguma coisa por ali, mas errou nas tomadas de decisão.

Ao longo da Copa, o Brasil teve problemas causados também por lesões. Um dos jogadores mais criticados antes da Copa era Fred e ele saiu do time titular. Com a lesão de Neymar, ele voltou ao time no jogo seguinte, mas saiu no segundo tempo e não voltaria mais. Em 2018, se cobrou que Tite mudasse um time que não vinha funcionando desde a estreia. Em 2022, o time funcionou. Jogou bem e foi melhor contra todos os adversários que enfrentou.

Teve diante de si times que se fecharam, como era esperado. Não seria nenhuma surpresa se tivesse vencido a Croácia. Perdeu, porque o futebol é incrível e, do outro lado, tinha um adversário muito capaz, que mostrou capacidade de resiliência em situações difíceis, mostrou também ser muito técnico e forte mentalmente para vencer. O time do Brasil tem jogadores experientes, mas é composto basicamente por jovens. O time da Croácia parece ter mais experiência não só em idade, mas em situações como a que enfrentou nessas quartas de final.

A sensação que a eliminação do Brasil deixa é de frustração. Pegou um time matreiro nas quartas de final, mas foi melhor, abriu o placar e parecia que tinha tudo para levar a classificação. Só que cometeu um erro grave ao tomar um contra-ataque aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação e o gol de empate. A expectativa em relação à Seleção era grande, o time é realmente bom, tinha capacidade para ganhar e jogou melhor, e mesmo assim perdeu.

Por isso, o sentimento é de frustração e é totalmente compreensível. Faltou ao Brasil capacidade para segurar o jogo quando vencia. Tomar um gol aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação é um erro grave e isso sempre dá um baque no time que é superior. Faltou algo ali, mas é futebol, isso acontece.

Como em toda eliminação do Brasil, haverá uma tentativa de explicar a eliminação e exagerar nos problemas do Brasil. Em muitos casos, as explicações mais simples são as mais precisas. O Brasil perdeu em um jogo que foi melhor porque errou em um lance crucial no mata-mata e foi para os pênaltis em um jogo que parecia que venceria. Não é uma tragédia, nem de longe. Mas é, sim, bastante frustrante porque o Brasil é um time melhor que a Croácia, jogou melhor, e mesmo assim acabou eliminado.

É sempre importante aprender com os erros, olhar, analisar e repensar. Mas às vezes o futebol é isso: se perde porque se joga. O Brasil precisa buscar ter a força mental que a Croácia demonstrou ter. E olhar para o futuro, porque já motivos para ter esperança. Mesmo que o Brasil iguale o seu maior jejum em Copas, que foi de 24 anos, de 1970 a 1994. Em 2026, o Brasil também estará a 24 anos sem vencer.

Depois da frustração, dá para ter esperança

Rodrygo, que entrou bem na Copa (JEWEL SAMAD/AFP via Getty Images)

Toda Copa do Mundo marca o fim de um ciclo e neste será ainda mais, porque o técnico Tite já tinha anunciado que deixará o cargo. O Brasil tem muitos jogadores jovens no seu elenco, que seguirão com o time. Isso sem falar na enorme produção de talentos que o Brasil tem e continua tendo. Há, porém, boas expectativas para o futuro. Para além do gosto amargo, há muitos pontos positivos.

Há bons jogadores brasileiros em todos os setores. Thiago Silva jogou a sua última Copa do Mundo, mas Éder Militão já tem sido titular no Real Madrid e, aos 24 anos, tem muito tempo pela frente. Marquinhos, de 28 anos, tem tudo para continuar como um jogador importante e chega na próxima Copa ainda no seu auge. Bremer, outro que esteve na Copa, tem 25 anos.

No meio-campo, Casemiro tem 30 anos e, aos 34, teria plenas condições de estar no próximo ciclo. É uma posição que o Brasil já tem Danilo, do Palmeiras, de 21 anos, pronto para ser chamado. Isso sem falar em Bruno Guimarães, com 25 anos e crescendo de produção. Lucas Paquetá também tem 25 anos, ainda muito jovem.

O ataque é ainda mais jovem. Neymar, assim como Casemiro, tem 30 anos. Vai depender da sua vontade de se manter em alto nível e estar na Copa, algo que ele mesmo já colocou em dúvida. No mais, os nomes são muito jovens. Richarlison tem 25 anos assim como Gabriel Jesus, Vinícius Júnior tem 22 anos, Rodrygo 21, Gabriel Martinelli também 21, Antony tem 22. Pedro, centroavante do Flamengo, é outro de 25 anos.

Isso falando apenas dos jogadores que estão no elenco. O Brasil tem muito talento. Nomes como Endrick surgem criando muita expectativa. Certamente ainda surgirão outros nomes nos próximos anos, como surgiram esses. Embora haja sempre uma tentativa de dizer que estamos em uma geração ruim – algo que é falado há décadas sempre que o Brasil perde –, o que temos é muitos jogadores atuando no mais alto nível do futebol europeu, hoje dominante, e potencial para ir ainda mais longe.

Um ano e meio antes da Copa, o Brasil parecia em um impasse, com problemas, e chegou bem ao Catar. A derrota para a Argentina na final da Copa América parecia um ponto baixo, mas serviu para buscar novas e melhoras alternativas. Elas vieram, o time chegou bem. O Brasil tem uma capacidade de produzir talentos grande. Precisa continuar buscando, especialmente nas laterais, mas mesmo ali há boas esperanças. Guilherme Arana tem 25 anos e estaria na Copa se não tivesse se machucado, por exemplo.

À CBF, cabe, antes de tudo, manter uma estrutura que melhorou a Seleção em diversos aspectos. A comissão técnica passou a ter um trabalho muito mais ativo, observações constantes e uma estrutura que pode ser muito útil para o próximo comandante que assumir, assim como sua equipe. O contrato de venda de amistosos vai acabar e será preciso repensar sobre a conexão do Brasil, desde pensar em amistosos por aqui até ter uma atuação mais presente no dia a dia do futebol, como por exemplo melhorar o calendário para que a Seleção não atrapalhe os clubes do Brasil e crie um problema para o técnico.

Por fim, precisa escolher um técnico consciente do que está fazendo. Precisa continuar buscando resgatar a proximidade com os torcedores. A Seleção não pode ser um problema para os torcedores no dia a dia, como muitas vezes foi. Em campo, há muitos motivos para o Brasil ser novamente um dos candidatos mais fortes ao título em 2026, não só pela camisa pesada, a tradição e os cinco títulos, mas porque há muitos jovens com grande potencial que já estão no time e outros que não estão, mas crescerão até lá.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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