Brasil

‘Era Casares’ no São Paulo pode ter déficit maior e em menos tempo que antecessor criticado

Caso gestão atual do Tricolor atinga prejuízo acima de R$ 52,2 milhões em 2024, ultrapassará saldo negativo da presidência anterior de Leco

É impossível dizer que a fase esportiva do São Paulo não mudou. A equipe passou quase uma década sem títulos, entre a Sul-Americana de 2012 até o Paulistão de 2021. Na sequência vieram as taças da Copa do Brasil 2023 e da Supercopa Nacional em 2024. Mas qual foi o custo do retorno às taças durante a gestão atual?

Assumindo a partir de 2021, a presidência de Julio Casares apresenta, ano a ano, o aumento da dívida são-paulina — segundo o balanço de 2023, atingiu R$ 666,6 milhões, mas o presidente assumiu ao UOL, em setembro, que passou dos R$ 700 mi — e tem tudo para apresentar um deficit acumulado maior que o antecessor, o criticado Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.

As informações foram levantadas pelo historiador são-paulino Alexandre Giesbrecht, do jornal digital Anotações Tricolores, após Casares admitir à imprensa na última segunda-feira (19) que o clube terá um “grande déficit” neste ano.

Se tiver prejuízo acima de R$ 52 milhões, Casares supera “era Leco” no São Paulo

Os dados apontados pelo historiador mostram que, nos últimos três anos, a gestão atual teve prejuízo de cerca de R$ 170,7 milhões, somando os balanços de 2021, 2022 e 2023.

Para 2024, a tendência é o São Paulo ter um déficit ainda maior porque, apenas nos primeiros seis meses do ano, o clube ficou R$ 185 milhões negativos — a previsão orçamentária era de R$ 25 milhões.

É verdade que o segundo semestre é quando acontecem as premiações das principais competições, como Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores, mas isso não deve alterar tanto o preocupante cenário.

Com isso, se o balanço deste ano terminar acima de R$ 52,2 milhões no vermelho, os quatro anos de Julio Casares no clube do Morumbi terão um déficit superior às cinco temporadas completas sob a presidência de Leco, que acumulou R$ 223 milhões de prejuízo e é considerado pela torcida um dos piores presidentes da história do clube.

Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, presidente do São Paulo entre 2015 e 2020
Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, presidente do São Paulo entre 2015 e 2020 (Foto: Eduardo Carmim/Photo Premium/Gazeta Press)

Vale citar que o mandato de Casares e companhia era previsto inicialmente apenas para o triênio 2021-2022-2023, conforme o estatuto do clube. No entanto, uma mudança no regulamento, considerada por opositores um “golpe”, permitiu que disputasse a reeleição, que terminou com vitória da situação sem adversário.

O presidente argumenta que a mudança no estatuto permitiu que a gestão pudesse devolver ao Tricolor o protagonismo esportivo no “primeiro tempo” do mandato, como define o dirigente, e no segundo triênio pudessem realizar a reestruturação financeira.

Receitas e despesas na era Casares

ANORECEITASDESPESASSALDO
2023R$ 668,9 milhõesR$ 731,2 milhões– R$ 62,2 milhões
2022R$ 650,8 milhõesR$ 613,3 milhões+ R$ 37,4 milhões
2021R$ 414,3 milhõesR$ 560,3 milhões– R$ 146 milhões
TOTALR$ 1,7 bilhãoR$ 1,9 bilhão– R$ 170,7 milhões
Fonte: Alexandre Giesbrecht, do Anotações Tricolores

Receitas e despesas na era Leco*

ANORECEITASDESPESASSALDO
2020R$ 409,4 milhõesR$ 499,5 milhões– R$ 90 milhões
2019R$ 398 milhõesR$ 554,1 milhões– R$ 156,1 milhões
2018R$ 410 milhõesR$ 402,8 milhões+ R$ 7,2 milhões
2017R$ 468,1 milhõesR$ 453 milhões+ R$ 15,1 milhões
2016R$ 393,3 milhõesR$ 392,5 milhões+ R$ 822 mil
TOTALR$ 2 bilhõesR$ 2,3 bilhões– R$ 223 milhões
Fonte: Alexandre Giesbrecht, do Anotações Tricolores

*Leco assumiu interinamente em outubro de 2015 e não foi possível fazer a diferenciação do balanço dos últimos meses daquele ano

Criação de fundo é apontado como ‘salvação' do São Paulo

No início de outubro, o Conselho Deliberativo do São Paulo aprovou a proposta da diretoria para a criação de um fundo de investimentos que pretende captar R$ 240 milhões que serão destinados para sanar as dificuldades financeiras do clube.

A ideia do fundo, gerido pelas empresas de investimento Galapagos Capital e OutField Inc e iniciado a partir de 2025, é mudar o perfeito da dívida tricolor e sanar principalmente os débitos a curto prazo e com juros altos.

— O fundo é o instrumento que precisávamos para que o clube possa começar a sanar as dívidas atualmente existentes e que dificultam e atrapalham o fluxo de caixa, com juros altos e vencimento de curto prazo. — disse Casares.

— Conseguiremos reduzir o custo e preparar o clube para o seu centenário com uma gestão mais sustentável, o que possibilitará maior capacidade de competir com adversários com mais poder financeiro. Teremos um choque de gestão e, já vamos implementar também um comitê orçamentário para acompanhar o fluxo do São Paulo — completou.

No entanto, para isso, o clube aceitou uma série de regras de governança estipuladas no contrato com as empresas gestoras a serem seguidas, que limitam os gastos anuais com futebol em até R$ 350 milhões e outras restrições, listadas abaixo:

  • Limite de até R$ 350 milhões anuais para gastos com futebol, ou no máximo 50% de sua receita bruta anual — o menor destes valores;
  • Há limite para gastos com salários de funcionários da administração do clube: R$ 25 milhões, ou no máximo 4% da receita bruta anual — o menor destes valores;
  • Clube só poderá contrair novas dívidas em valor superior a R$ 10 milhões em um mesmo trimestre com aprovação do comitê de gestores do fundo;
  • Veto para cessão de receitas futuras do clube sem autorização do fundo;
  • Obrigação de apresentar lucro ao final de todos os anos a partir de 31 de dezembro de 2025.
Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
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