Torcedora do Cruzeiro denuncia racismo no Mineirão: ‘Não quero mais voltar’
Kiria Ribeiro de 30 anos publicou em suas redes sociais o ocorrido, vindo de uma outra torcedora do Cruzeiro
Todo fã de futebol fica feliz ao pensar em ver seu time do coração no estádio. Para Kiria Ribeiro, de 30 anos, infelizmente este não é mais o sentimento. Durante a partida entre Cruzeiro e Bahia que terminou em 1 a 1, a torcedora sofreu um caso de racismo por outra cruzeirense.
Segundo conta Kiria, o episódio aconteceu quando ela tentava repreender outra pessoa que, após um gol perdido pela Raposa, quebrava cadeiras do estádio.
“No exato momento, sua irmã apareceu me perguntando quem eu era para falar com o irmão dela daquele jeito. E, mais, dizendo que eu não poderia estar naquele setor do estádio porque o ingresso tinha o valor mais elevado e eu não poderia pagar pelo fato de ser preta” – relatou em sua conta no instagram.
Em entrevista ao No Ataque, a torcedora cruzeirense disse ter ficado sem reação no momento e por isso não chegou a fazer um boletim de ocorrência ou acionar as autoridades presentes no estádio.
“Eu nunca tinha sofrido racismo tão escancarado, com palavras. Desde o início, já tinha notado um olhar estranho por parte dela.”
Diante do ocorrido, Kiria diz que não conseguiu dormir à noite e não quer mais voltar ao estádio.
“Esse racismo velado a gente passa a qualquer momento. Fiquei paralisada. Dói muito. Não quero mais. Por mais que eu goste, não quero mais voltar. Toda vez que eu voltar ao Mineirão lembrarei desse triste dia”.
Ainda no seu post nas redes sociais, Kiria Ribeiro fez uma reflexão sobre racismo no Brasil. “Foi um lembrete de que sempre existem barreiras e discriminações que tentam nos dividir. Os comentários dessa moça foram cruéis e preconceituosos. Ao invés de respeitar as diferenças, as pessoas insistem em condená-las.”
Em nota oficial, o Mineirão disse lamentar o ocorrido, e contribuir com atendimento e acolhimento das vítimas quando há casos de seu conhecimento. Ainda no texto, o estádio diz estar à disposição para qualquer investigação e reitera a importância de denúncias em casos de racismo, para que as providências necessárias sejam tomadas.
Casos de racismo só crescem no futebol brasileiro
O levantamento feito pela CBF e o Observatório da Discriminação Racial para 2023 mostra um aumento de 38,77% de incidentes racistas no futebol brasileiro. Também foram contabilizados dados sobre machismo, homofobia e xenofobia no esporte.
No ano passado, 136 casos de injúria racial no futebol brasileiro foram registrados. Em 2022, foram 98. Desses 136, a maioria veio de dentro do estádio, 104 no total. Em seguida, os casos na internet (19) e em outros espaços (13).
Este número aumenta se somado com denúncias de xenofobia, machismo e LGBTfobia no futebol brasileiro, chegando a 195.
Ocorrências no futebol brasileiro:
- Estádio: 104 de racismo, 31 de LGBTfobia, 3 de machismo, 9 de xenofobia (147 no total)
- Internet: 19 de racismo, 4 de LGBTfobia, 3 de machismo (26 no total)
- Outros espaços: 13 de racismo, 3 de LGBTfobia, 2 de machismo, 4 de xenofobia (22 no total)Total: 136 de racismo, 38 de LGBTfobia, 8 de machismo, 13 de xenofobia (195 no total)
Leia na íntegra a nota do Mineirão
O Mineirão lamenta e repudia qualquer ato de injúria racial que por ventura ocorra dentro do estádio. Quando um fato é de seu conhecimento, o Mineirão busca trabalhar no atendimento, acolhimento, encaminhamento e acompanhamento de vítimas. O estádio tem 365 câmeras de vigilância e está sempre à disposição das autoridades policiais para auxiliar nas investigações. Com o apoio dos clubes e de órgãos públicos, o Mineirão faz constantemente campanhas educativas com o torcedor, tanto em dias de jogos quanto em suas redes sociais. O estádio tem um canal de denúncias por Whatsapp, com QR Codes espalhados por pelo estádio, para casos de injúria racial, importunação sexual ou qualquer tipo de discriminação. A intenção é agilizar o atendimento e colaborar com apuração dos fatos junto aos órgãos de segurança. É importante que as denúncias aconteçam para que os responsáveis sejam punidos.