Brasil

Saída de Rony evidencia falência de um modelo de Palmeiras que não faz mais sentido

Multicampeão pelo Palmeiras, atacante vai jogar no Atlético-MG por pelo menos três temporadas

Após quatro temporadas completas e uma iniciada, Rony deixará o Palmeiras rumo ao Atlético-MG. Por cerca de 6 milhões de euros, dos quais o Alviverde só receberá metade, Rony fecha um contrato de três anos com o Galo e um quarto engatilhado, dependendo de metas por jogos disputados.

Um dos artilheiros históricos do time na Libertadores, duas vezes campeão continental e do Brasileiro, uma vez da Copa do Brasil, quatro vezes do Paulista, uma vez da Recopa e da Supercopa Rei. E, talvez seu feito mais lembrado, autor do gol mais comemorado com bola rolando da história do Allianz Parque.

A afirmação acima sobre a comemoração não é feita com base em relatos, mas sim com observações in loco de um repórter que viu mais de 90% dos jogos do time desde a reinauguração do estádio.

O absurdo e buscado gol de bicicleta, que fechou o 5 a 0 sobre o Cerro Porteño, nas quartas de final da Copa Libertadores de 2022, só perdeu em entusiasmo da arquibancada para o pênalti convertido por Fernando Prass, na final da Copa do Brasil de 2015.

Rony sai pelas portas dos fundos

Abel Ferreira e Rony comemoram gol do Palmeiras
Abel Ferreira e Rony comemoram gol do Palmeiras (Foto: Icon Sport)


Rony tinha todos os motivos para sair do Palmeiras com todos os louros possíveis. Em vez disso, deixa o clube no qual somou números históricos com um gosto amargo na garganta do torcedor e na sua, fruto de um claro adeus depois do prazo de validade. Como cantaram Leandro e Leonardo nos anos 1990, o Palmeiras não aprendeu a dizer adeus.

E por mais que a presidente Leila Pereira diga o contrário, Rony sai sim pela porta dos fundos, como consequência de inabilidades da diretoria e de seu pai e empresário Hércules Jr. Ainda que ele provavelmente vá receber homenagens oficiais do clube.

A triste e até injusta, pelo modo, despedida de Rony é o mais bem-acabado exemplo da incapacidade da atual diretoria, bem como da comissão técnica, de encerrar ciclos no momento certo. Resultado direto da aposta em um modelo de manutenção longeva do elenco, mediante renovações contratuais seguidas e por valores altíssimos.

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Planejamento atual do Palmeiras não faz mais sentido

Por conta da lentidão e da inépcia para montar um elenco mais fortalecido que um ano como 2025 demanda, há quem diga que o Palmeiras não tem um planejamento. Isso não é verdade.

A Trivela teve acesso direto e material ao modo de pensar do departamento de futebol. Que enxerga nas gestões de recursos humanos de gigantes como Real Madrid e Manchester City um modus operandi a se seguir.

O diretor Anderson Barros e o técnico Abel Ferreira conversam na Academia de Futebol.
O diretor Anderson Barros e o técnico Abel Ferreira conversam na Academia de Futebol. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras/by Canon)

Mas o futebol brasileiro não é o europeu. A míope avaliação de que um jogador pode ficar tantos anos em uma equipe brasileira sem prejuízo, amealhando sempre quantias mais altas, não leva em conta diferenças básicas.

O calendário mais longo e desgastante, os campos em pior estado, a diferença na composição física dos atletas. E a própria cultura do torcedor brasileiro, afeito e acostumado a pacotes anuais de reforços, jogam contra a ideia de um atleta ficar tanto tempo ligado a uma mesma agremiação.

Ainda mais quando se fala de um jogador com gritantes limitações técnicas. Que rendeu muito, é verdade. Mas dentro de uma janela de auge que muito obviamente se fecharia antes cedo do que tarde.

Se o futebol mudou, o Palmeiras precisa mudar

Quando chegaram em 2020, Anderson Barros, em janeiro, e Abel Ferreira, em novembro, encontraram um clube com orçamento apertado, buscando atuar dentro de um modelo de abrir mão de medalhões e apostar em soluções jovens e pouco custosas. Mas depois de tantas conquistas, com o orçamento e objetivos que a equipe hoje tem, o Palmeiras não precisa nem pode mais atuar assim.

Para o bem do Palmeiras, que Rony seja o último atleta a se desligar de suas fileiras bem depois do necessário. E que a atual diretoria, assim como Abel Ferreira, entendam que chegou a hora de mudar o modo de pensar a gestão do departamento.

Se o mundo do futebol mudou, o Palmeiras não pode se dar ao luxo de seguir agarrado a convicções do passado. Um passado recente. Mas, mesmo assim, um passado.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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