Dez momentos que explicam o 2024 abaixo do esperado do Palmeiras
A temporada do time de Abel Ferreira teve momentos negativos que foram chave para o ano decepcionante
É preciso muito otimismo para se acreditar que os reservas do São Paulo farão frente ao Botafogo na última rodada do Campeonato Brasileiro. Ainda mais porque um empate basta para o Alvinegro levantar o troféu no domingo (8).
De modo que a maior parte dos torcedores já dá como certo o fato de que o Palmeiras ficará mesmo com o vice-campeonato nacional, após duas conquistas consecutivas.
O resultado em si não deveria ser motivo de alerta. Ser o segundo colocado, possivelmente com a maior pontuação de um vice na história dos pontos corridos com 20 equipes, na maioria dos clubes, seria lido como positivo. Mas não no Palmeiras.
E não simplesmente porque a torcida está um pouco mimada. Mas porque o clube estabeleceu um parâmetro que não foi cumprido devido a questões que não saíram como estavam no planejamento, apostas que não vingaram e falhas do elenco nas horas mais necessárias.
Mais do que o resultado final, preocupou no Palmeiras o modo como o time deixou de cumprir as metas.
Palmeiras teve dez passos em falso no ano
A Trivela revisitou o ano do Palmeiras para procurar quais fatores contribuíram para o time chegar a dezembro como uma decepção para seu torcedor.
Encontrou problemas crônicos, como a baixa eficiência na finalização. Houve também lesões de algumas peças importantes, como Piquerez, Murilo, Gómez, Estêvão e Mayke.
Mas a reportagem encontrou dez momentos que explicam e simbolizam por que o ano do Palmeiras vai se encaminhando para um fim aquém do esperado.
1 – A derrota na Supercopa do Brasil
Em 4 de fevereiro, o Palmeiras ainda vinha com o moral elevado pela arrancada que deu ao time seu segundo brasileiro consecutivo na temporada anterior. Mas a perda da Supercopa Rei, justamente para o rival São Paulo, logo tirou todo e qualquer verniz que o time ostentava.
Começar a temporada vendo o rival dar a volta olímpica no Mineirão, e com mais uma derrota nos pênaltis, como fora na eliminação na Copa Libertadores, deu ao Palmeiras um choque de realidade. O Palmeiras ganhava o status de comum novamente.
Nem mesmo a conquista do Paulistão, em abril, trouxe a confiança de 2023 integralmente de volta.
2 – A fratura no pé de Gustavo Gómez + Frango de Weverton
O prejuízo com o Dérbi de 18 de fevereiro, em Barueri, pelo Campeonato Paulista, foi enorme. Levar o empate de um Corinthians com dez jogadores e sem goleiro já seria um vexame por si só. Mas levar o 2 a 2 com um gol de Garro em um frango de Weverton, no último lance do jogo, foi demais.
Ainda mais porque Gustavo Gómez fraturou o pé nessa partida. E demorou para engrenar no resto da temporada, tendo feito alguns jogos ruins. E quando Gómez vai mal, muita coisa no time também não funciona bem.
Weverton também demorou para recuperar a confiança após um Paulistão que já não era bom e se tornou pior depois da inexplicável decisão de não tentar defender a cobrança de falta do corintiano.
3 – A saída de Endrick
Desde 2022, já se sabia que Endrick deixaria o Palmeiras em julho de 2024. Mesmo assim, sua saída foi muito sentida no time, inclusive do ponto de vista tático.
Com características únicas, o camisa 9 ditava o modo como o Palmeiras jogava, mudando papéis dos demais jogadores.
Trabalhar um time até o meio do ano com um atleta que não seguiria na equipe depois foi um desafio para Abel Ferreira, que teve que readaptar todo o esquema com o avião em pleno voo.
4 – A queda de rendimento de Raphael Veiga e outros veteranos
O item 4 se conecta com o 3. Porque Veiga, que joga pela meia-direita, cortando para dentro, foi um dos que mais mudaram de papel para Endrick atuar. Embora com funções bem diferentes, ambos rendem pela mesma faixa do campo.
Nesse vai e vem de funções, somado a um cansaço acumulado de três temporadas de calendário cheio, o jogador mais decisivo de Abel demorou para atingir seu melhor futebol — algo que só veio a acontecer em outubro.
Além deles, Rony, que virou reserva de Endrick, e Zé Rafael, que perdeu o lugar para Aníbal Moreno, também foram apenas sombras dos atletas que um dia foram, em seus melhores momentos.
5 – A Arena Barueri
Ninguém no Palmeiras, exceto a presidente Leila Pereira, suporta a Arena Municipal Orlando Batista Noveli, vulgo Arena Barueri.
Segunda casa palmeirense, quando o time não pode usar o Allianz Parque, o estádio foi palco de duas derrotas do Verdão no início do Brasileiro.
Em abril, perdeu para o Internacional (1 a 0). Em Maio, para o Athletico-PR (2 a 0). Mas, mais até do que os resultados, as falas de Abel de que o time não poderia ser cobrado para ser campeão se tivesse que jogar lá já eram um mau presságio.
6 – A lesão de Estevão + queda nas Copas
Ninguém se deu pior que o Palmeiras nos sorteios das oitavas de final das copas do Brasil e Libertadores. Nos dois casos, o Verdão encarou os times que seriam campeões.
Para piorar, ainda teve que pegar Flamengo e Botafogo praticamente sem poder usar Estêvão. Lesionado, o atacante jogou apenas em um dos quatro jogos decisivos nas duas competições, em agosto — o jogo de volta da Libertadores, no Allianz: 2 a 2 com o Botafogo.
7 – A questão Felipe Ânderson
Trazido como maior nome da última janela de transferências, Felipe Ânderson, o atleta que o Verdão contratou em uma queda de braço com a Juventus e a Lazio, não conseguiu se adaptar ao futebol brasileiro.
Como diz Abel Ferreira, falta a ele ousadia e vontade de ser protagonista. Algo que ele talvez nem tenha, dado que nunca foi “dono” dos times em que jogou — equipes que também nunca entraram nos campeonatos com a obrigação de conquista, como é o caso do Palmeiras.
Não dá para descartar que ele vá conseguir tal adaptação futuramente. Mas, até o momento, decepciona.
8 – Empates com Bragantino e Fortaleza
Um time que briga pelo título palmo a palmo não pode se dar ao luxo de empatar um jogo com uma equipe que luta contra o rebaixamento, como já era o caso do Bragantino (0 a 0), em 5 de outubro — mesmo na casa do adversário.
Assim como também não tinha o direito de não vencer o Fortaleza (2 a 2) no Allianz Parque, duas rodadas depois, em 21 de outubro.
Dois resultados adversos quando o Botafogo deu brecha para o Palmeiras encostar. Que teriam dado respiro e até tirariam o peso das duas derrotas que vieram na sequência.
9 – A derrota no Dérbi
Perder para o Corinthians nunca é bom. Mas ser derrotado em um momento em que o rival luta contra o rebaixamento, em meio a uma arrancada para a tentativa de um tricampeonato, foi ainda pior.
O Palmeiras viveu clima de velório por um tempo depois da derrota. O time até enfileirou uma sequência de vitórias depois desse jogo. Mas sequelas ficaram.
Como, por exemplo, a pergunta na entrevista coletiva pós-jogo, quando um repórter perguntou a Abel se o Palmeiras tinha muita folga para pouca obrigação. Que veio a se tornar cântico de protesto na boca da Mancha Verde, no jogo contra o Botafogo.
10 – A derrota na “final” para o Botafogo
Assim como em fevereiro, quando perdeu a Supercopa Rei, o Palmeiras fechou o ano falhando na hora H. Enfim líder do Brasileirão, com a chance de matar o Botafogo em casa, o time de Abel Ferreira entregou o ouro ao seu único oponente àquela altura.
E ali, o Alviverde praticamente deu adeus à possibilidade de conquista no Brasileiro. Que só um resultado muito fora da curva em Botafogo x reservas do São Paulo, somado a uma obrigatória vitória alviverde contra o Fluminense, trará de volta.