Brasil

O ‘Pardal e o Bagre’: o palmeirense precisa reaprender que a derrota faz parte do futebol

Torcedores do Palmeiras perderam a mão após a derrocada na Supercopa Rei, mas o fenôemno é recorrente

Passada quase uma semana de derrota na Supercopa Rei, contra o São Paulo, o clima já melhorou um pouco entre os palmeirenses. Mas o que se viu nas redes sociais, logo após a partida de Belo Horizonte, foi um indicativo de que algo vai muito mal na mentalidade de muitos torcedores.

De uma hora para outra, o Palmeiras se transformou, aos olhos e declarações de muita gente, em um time de quinta categoria. E Abel Ferreira, nada menos que o técnico mais vencedor da história do clube, ao lado de Oswaldo Brandão, virou alvo de xingamentos sem sentido.

Não que o Palmeiras não mereça críticas em alguns momentos. Não que Abel não cometa erros e não possa ser alvo de questionamentos. O problema é tratar como regra algo que os números mostram ser uma exceção.

Afinal, o Palmeiras é nada menos que o atual bicampeão brasileiro e bicampeão paulista.

Recorde de títulos

Desde a chegada de Abel Ferreira, como já se sabe, foram nove conquistas de títulos, incluindo duas Copas Libertadores e dois Campeonatos Brasileiros. Nesse período, o Palmeiras disputou 258 jogos, com 148 vitórias, 63 empates e ínfimas 47 derrotas, perfazendo um aproveitamento de 65,5%.

Se tal percentual ainda parece um tanto abstrato, talvez este outro deixe a questão um pouco mais clara: Abel perdeu apenas 18% dos jogos que disputou como técnico do Palmeiras em quatro Campeonatos Brasileiros, quatro Libertadores, três paulistas (joga o quarto) e quatro Copas do Brasil, entre outros torneios.

E como o Palmeiras contrata pouco, tais números foram conquistados praticamente pelos mesmos jogadores. A espinha dorsal do time – Weverton, Mayke, Rocha, Gómez, Luan, Murilo, Piquerez, Zé Rafael, Veiga e Rony – joga junta há duas temporadas completas.

Mas, a cada derrota, Abel Ferreira vira “Professor Pardal” para uma parcela da torcida. Para os mais jovens, vale explicar que Professor Pardal é o nome de um personagem secundário da Disney, famoso por invenções que raramente dão certo.

E os jogadores, que talvez formem o grupo mais aplicado e identificado com a camisa do Palmeiras no Século 21, se tornam “bagres” – uma corruptela de “cabeça de bagre”, termo antigo usado para designar jogadores de pouca qualidade.

- - Continua após o recado - -

Assine a newsletter da Trivela e junte-se à nossa comunidade. Receba conteúdo exclusivo toda semana e concorra a prêmios incríveis!

Já somos mais de 3.200 apaixonados por futebol!

Ao se inscrever, você concorda com a nossa Termos de Uso.

Exagero

A impressão que fica é que a derrota é proibida no Palmeiras, sob pena de o tribunal da internet decidir que ninguém mais serve no clube, de que tudo está errado, de que o elenco e a comissão técnica precisam ser defenestrados.

O Palmeiras vive hoje um momento ímpar na sua história não só pelo que está conquistando, mas também porque seus rivais diretos estão no buraco.

Se os jogadores e Abel não servem, o que o corintiano pode dizer de seu time na zona de rebaixamento do Paulista sem um técnico definido? Ou o santista, com o time na Série B do Brasileiro e o caixa quebrado? E o são-paulino, algoz no último fim de semana, cujo clube soma três títulos em dez anos?

Infelizmente, o virtual pesa

Muitos podem dizer que opiniões de redes sociais não devem ser levadas a sério, que o que vale mesmo é a arquibancada. Infelizmente, isso não é verdade.

Em especial após a pandemia, a vida “real” passou, em grande parte, a ser a virtual. Hoje, são as redes sociais que pautam as conversas de bar e arquibancada, e não o contrário. O que é dito no X e no Instagram chega direto aos jogadores e os afeta significativamente.

Para entender tal fenômeno, basta mais uma simples olhada nos números: o Palmeiras tem hoje 3,8 milhões de seguidores no Twitter e 5,8 milhões no Instagram. Já os sócios-avanti, ou seja, torcedores habilitados a comparecer aos jogos, são hoje 176 mil. O que faz mais barulho? Quem compra mais camisa e assina mais pay-per-view?

Abel Ferreira já deu o recado sobre como os atletas, em especial os jovens, sofrem com o que dito nas redes sociais. Mais de uma vez, pediu para ter o mesmo carinho nas derrotas e nas vitórias, citando o apelido de “Pardal” que lhe foi dado, deixando claro que sabe o que a internet diz sobre ele e o Palmeiras.

Mas há quem encare torcer como sinônimo de reclamar. E, como o Palmeiras ganha muito mais do que perde, talvez venha daí essa raiva reprimida, nociva e sem sentido, expressada aos borbotões nas raras derrotas recentes do clube.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
Botão Voltar ao topo