O Atlético soube ser Cruzeiro, mas o Cruzeiro saberá ser Atlético?

Há argumentos de sobra para colocar o Cruzeiro como melhor time do Brasil. Foi campeão brasileiro em 2013 com um pé nas costas, e está em situação controlável para conquistar o bi em 2014. É um time que até tem dificuldade em alguns momentos, mas consegue os resultados que precisa quando a situação aperta. Por isso tem dominado o campeonato mais importante do Brasil nos últimos dois anos.
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Mas, nesta quarta, o Atlético Mineiro que assumiu esse papel. Se o Cruzeiro pode ser considerado o melhor time do Brasil nos últimos 12 meses, o Galo é o melhor do momento. É o time com mais pontos no segundo turno (27, empatado com o São Paulo, que tem um jogo a mais) e mostrou uma força mental e técnica descomunal para conseguir viradas impossíveis contra Corinthians e Flamengo. E manteve essa tendência no jogo de ida da final da Copa do Brasil.
O Atlético foi melhor desde o início. Entrou em campo com um plano, com uma ideia na cabeça. Teve a intensidade que os times campeões sabem ter. Mesmo sem ter sido tecnicamente brilhante, arrancou gols no começo dos dois tempos, minando a força e a confiança do adversário. O Galo pareceu aquele time argentino que costuma se dar bem na Libertadores: tem a mistura de ambição e competência que desnorteia o adversário. Um Alvinegro copeiro, copeiro como o Cruzeiro se acostumou a ser na sua história de duas Libertadores e quatro Copas do Brasil.
Os atleticanos parecem uma força da natureza, como uma massa d’água que ameaça inundar uma comunidade. Por mais que se tente construir diques e represas para ter uma vantagem momentânea, eles pressionarão até encontrar as frestas por onde se esgueirar até achar o caminho. O destino é o alagamento.
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Para impedir que esse Atlético copeiro levante sua primeira Copa do Brasil, só um time com a mesma força mental. E esse é o desafio que se impõe ao Cruzeiro agora. A Raposa fez uma partida morna no Independência, como se pensasse apenas em evitar uma derrota irrecuperável para decidir em duas semanas no Mineirão. E, de certa forma, até conseguiu. O placar só não ficou em 2 a 1 porque o árbitro Marcelo de Lima Henrique deixou de marcar um pênalti descarado de Leonardo Silva no segundo tempo.
De qualquer modo, é possível reverter o 2 a 0 alvinegro. Mas, para isso, os celestes precisarão ter o espírito do Atlético. O Atlético que parece ter fobia da derrota, e fica tão obcecado em sua aversão que nem reflete se é possível ou não evitar o que tanto odeia. No final das contas, é essa capacidade de ignorar a lógica que deu tanta força ao Galo no mata-mata da Libertadores 2013 e na Copa do Brasil 2014.
O Cruzeiro tem de entrar nesse transe. Focar no fato de que, na final do Mineiro de 2013, conseguiu fazer 2 a 0 em 45 minutos (tomou um gol no segundo tempo). Focar no fato de que ainda é o time de desempenho mais consistente do Brasil nos últimos 12 meses. E se entregar obsessivamente, sabendo que perder uma final para o maior rival pode tirar parte da animação pelo provável bicampeonato nacional.
É a única esperança da Raposa. E quem tem sido especialista em se agarrar a esperanças derradeiras é o Galo.