Local de fundação do Vasco, Candinho será reaberto por iniciativa de torcedores
Depois de três anos fechado, o Centro Cultural Candinho, que funciona no imóvel em que o Vasco foi fundado, será reaberto neste sábado (13)
Na semana do centenário da Resposta Histórica, o Vasco terá outro marco importante da sua história retomado por seus torcedores. No próximo sábado (13), o Centro Cultural Cândido José de Araújo será reaberto. O “Candinho”, como é conhecido desde a sua inauguração, em 2020, voltará a funcionar no local onde o clube foi fundado, no bairro da Saúde, zona portuária do Rio de Janeiro. O projeto de reinauguração do espaço foi tocado por um grupo de vascaínos, com o apoio do clube associativo.
O Candinho, que tem esse nome em homenagem a Cândido José de Araújo, primeiro presidente negro da história do Vasco, foi “descoberto”por um grupo de torcedores em 2020. Foi neste local em que foi realizada a assembleia e assinada a ata de fundação do Vasco, em 21 de agosto de 1898. Na época, o casarão ficava na Rua da Saúde, 293. Com mudanças no centro da cidade no início do século XX, com revisão do nome das ruas e numerações, o endereço foi alterado: Rua Sacadura Cabral, 345.
Com a ajuda de torcedores, principalmente do grupo “Guardiões da Colina”, o Candinho funcionou entre o fim de 2020 e o começo de 2021, quando passou a ser administrado pelo Vasco. O clube, então, contou até com recursos da Ambev para realizar a reforma completa e pagar o aluguel do espaço. No entanto, isso não ocorreu. O Centro Cultural está fechado desde março de 2021 e, em maio de 2022, a chave foi devolvida para o proprietário do imóvel.
Agora, um novo grupo de torcedores se reuniu para alugar novamente o espaço e reabrir o Candinho. A Trivela conversou com Talles Lopes, um dos idealizadores do projeto. O vascaíno comentou sobre a retomada do espaço.
– Tem um conjunto de torcedores vascaínos que se mobilizou ao perceber que o imóvel estava vago novamente. O Guardiões fez o trabalho em 2020, quase que de apresentação do espaço, que estava perdido. Eles fizeram o resgate. A gente se juntou agora, vascaínos do Rio e de fora, e resolvemos retomar o espaço. Ali é um espaço super importante para a história do clube, lugar onde foi fundado. Estamos em abril, comemorando 100 anos da Resposta Histórica. Achamos apropriado não só retomar, mas abrir as portas novamente – disse Talles Lopes à Trivela.
– Isso está na histórica do Vasco, esse envolvimento da torcida de forma efetiva. Foi assim com a construção de São Januário e está sendo assim na retomada do Candinho. Pensamos ele num espaço ecumênico. É a nascente do clube. Está ali para todos os vascaínos. – completou Talles.
Em 2020, o grupo Guardiões da Colina conseguiu reformar o primeiro andar do imóvel com os recursos dos torcedores. Agora, este novo conjunto de vascaínos fez um acordo, com uma espécie de “carência”, com o proprietário do local em relação ao aluguel e novas reformas no imóvel. Além disso, o grupo também irá fazer um financiamento coletivo para conseguir manter o espaço.
O Candinho está de Volta!
Torcedores reabrem a casa onde Vasco foi fundado e anunciam programação em homenagem aos 100 anos da Resposta Histórica pic.twitter.com/z3NxL8y7VJ
— Aqui Nasceu o Vasco! (@AquiNasceuVasco) April 9, 2024
Clube associativo apoia retomada do Candinho
Apesar do projeto de reabertura do Candinha ser tocado integralmente por este grupo de torcedores, o Vasco associativo também tem apoiado a retomada do projeto. Através da Vice-Presidência de História e Responsabilidade Social, comanda por Raphael Pulga, o clube tem disponibilizado material, pessoal e ajudado na divulgação da reinauguração do espaço. O VP, inclusive, fazia parte do grupo que abriu o Candinho em 2020.
– Quando eu virei vice-presidente de História e Responsabilidade Social, sabendo do movimento dos amigos que estão lá agora, a primeira coisa que falei foi “podem contar com o clube associativo, com o Vasco para o que vocês quiserem”. Eles têm o apoio do Vasco institucional para a iniciativa. Além de estar ajudando com divulgação, que é o básico, a gente está disponibilizando material, está disponibilizando nosso historiador para estar lá dando palestras, a gente está programando uma série de parcerias com eles. Estamos oferecendo o apoio que não foi feito lá atrás pelas outras gestões – disse o VP Raphael Pulga à Trivela.
– Temos um diálogo muito bom com o clube. O Associativo tem apoiado conceitualmente e abrindo as portas do clube para a gente poder, junto com o Centro de Memória, pensar em iniciativas juntos. Acreditamos que também vamos poder conversas com a SAF – disse Talles.
Qual será a programação do Candinho?
O Candinho será reaberto como Centro Cultural e a expectativa é de que, além de receber os torcedores do Vasco, também funcione para atividades culturais, como exposições, rodas de samba, debates e conversas, além de outras festividades. Na próxima quarta-feira (17), por exemplo, o grupo já espera reunir torcedores para acompanharem a transmissão do jogo contra o Red Bull Bragantino, em Bragança Paulista, pelo Campeonato Brasileiro. Além disso, também já está marcado uma roda de samba para o dia 21 de abril.
– A ideia é manter a ideia original de um Centro Cultura. Vamos ter espaço aberto para visitação, estamos ambientando o espaço para visitação, com algumas coisas originais da retomada do Candinho, o busto original do Candinho. E vamos construir uma programação com debates, programas culturais, e aberto a demanda dos vascaínos. A ideia é que os jogos que forem fora do Rio podemos fazer as transmissões ali. Vamos fazer pelo menos um debate por semana. Nesse primeiro, sobre os cem anos da Resposta Histórica. Mas ideia é que a gente possa também se encontrar para discutir futebol, questões relacionados a inclusão no esporte, atividades culturais. Vamos aguardar o que a comunidade vai apresentar de proposta de ocupação. O espaço vai estar ali para poder receber esses pedidos. Que seja um espaço para o vascaíno, para essa memória, essa ocupação com atividades culturais. Já tem torcida organizada procurando querendo fazer o aniversário lá – revelou Talles.
Local de fundação do Vasco fica na ‘Pequena África'
Apesar de ser um clube com raízes portuguesas, o local de fundação do Vasco fica onde está estabelecida e região conhecida como “Pequena África”, que abrange os bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo, todos na zona portuária do Rio de Janeiro, próximos ao centro da cidade.
O apelido de “Pequena África” foi dado pelo sambista Heitor dos Prazeres (1898-1966), ainda no começo do século XX. Na região, ficam o Morro da Conceição, a Pedra do Sal, do Cais do Valongo, o Jardim Suspenso do Valongo, o Cemitérios dos Pretos Novos, o Museu da História e da Cultura Afro-brasileira, a Casa da Tia Ciata, entre outros espaços históricos e culturais. Agora, a ideia dos torcedores do Vasco é incluir o Candinho nesse roteiro desta importante região da cidade.
– Tem uma questão importante que é o lugar em que a casa está. Está na Sacadura Cabral, na Pequena África, uma região super importante do Rio de Janeiro hoje. Região que é um polo turístico já, tem o Museu dos Pretos Novos, Cais do Valongo… Queremos ter esse espaço inserido. O Vasco, pela sua história, dialoga com as histórias da região. Acho que é um elemento importante para a gente. Essa conexão com o território é muito importante para a gente – completou Talles Lopes.
Quem foi Cândido José de Araújo, o Candinho
Homenageado com o nome no Centro Cultura, Cândido José de Araújo, foi presidente do Vasco entre 1904 e 1906, quando o clube ainda não praticava o futebol. Conhecido como Candinho, ele foi o primeiro presidente negro do Cruz-Maltino, apenas 16 anos depois da abolição da escravatura.
Há 115 anos, o #VascoDaGama elegia Candido José de Araujo, o 1.º presidente negro de um clube esportivo no RJ.
Em 1904, apenas 16 anos depois da abolição da escravidão, em uma época de racismo extremo na sociedade e o esporte, Candinho foi eleito presidente e reeleito em 1905. pic.twitter.com/EJGdK7dyEk— Vasco da Gama (@VascodaGama) August 7, 2019
Candinho foi o responsável pelos dois primeiros títulos do clube no rema, esporte tradicional da época. As conquistas aumentaram o prestígio e a popularidade do Vasco no Rio de Janeiro.