Brasil

Leila é pop: participação da presidente no ‘Mais Você’ mostra tamanho da dificuldade que a oposição terá no Palmeiras

Dirigente do Palmeiras tomou café da manhã com a apresentadora da Globo, que é palmeirense

Com uma camisa do Palmeiras em mãos, Leila se dirigia a Louro Mané:

— Depois eu vou pedir a alguém para ajudar a te vestir com a camisa do maior campeão do Brasil. Vocês sabem que um dos nossos mascotes é o periquito. Temos o periquito e temos o porco. Você é parente do nosso periquito, não é? — disse a presidente do clube alviverde, ao vivo na Globo, no programa de maior audiência nacional de seu horário.

E ainda que a marionete que co-apresenta o Mais Você com Ana Maria Braga tenha se recusado a vestir a peça, ao se declarar corintiano, a interação da dirigente e candidata à releição com o boneco de espuma é uma vitoriosa amostra do tipo de concorrência que a oposição do Palmeiras terá no pleito. Leila é pop.

Dizer que não há na oposição do Palmeiras alguém com a força midiática da presidente é muito óbvio. Até porque, por mais que os demais dirigentes se esforcem para atrair os holofotes, não existe nenhum outro presidente ou ente político em qualquer clube com tal atributo.

Leila Pereira, em participação no Mais Você, da Globo (Foto: Reprodução)

A maior figura política do Palmeiras em todos os tempos é Mustafá Contursi. O presidente mais idolatrado em anos recentes foi Paulo Nobre. O que ganhou duas Copas Libertadores, Mauricio Galiotte. E não dá nem para imaginar qualquer deles trocando uma ideia com o Louro Mané.

Um tiro de canhão

Por mais que a eleição do Palmeiras seja restrita aos associados, esse tipo de aparição é obviamente uma arma poderosa. Como se diz no mundo da publicidade e das relações-públicas, é um tiro de canhão. Para ganhar uma eleição no Palmeiras com um colégio eleitoral de menos de 7 mil votantes, é muito. Mas se arma está em mãos, não há por que não usá-la.

Leila aprendeu a manejar o canhão. Com a autoridade de ser a única mulher presidente de um clube nas Séries A e B do Brasil, ela tem prerrogativas como convocar uma entrevista coletiva apenas com mulheres.

Ao menos publicamente, Leila também demanda dos seus opositores e rivais um pouco mais de decoro. Nem o finado Juvenal Juvêncio, do São Paulo, que chamou Andrés Sanchez, do Corinthians, de “mobral incompleto”, deixaria de pensar duas vezes em como se portar num debate público com Leila.

A combinação de bons resultados no campo, manutenção de Abel Ferreira no comando do time e a influência em espaços como a Globo, por exemplo, permite que Leila tire da bolha reclamações contra o acordo da Federação Paulista de Futebol com o São Paulo Futebol Clube, que aliviou muito as punições para os tricolores envolvidos na confusão do Morumbi no último dia 3 — em especial com a xenofobia do diretor Carlos Belmonte.

— Recentemente aconteceu um fato com um rival da gente e o que esperávamos é um julgamento. O que não pode acontecer são pedidos falsos de desculpas e abrindo precedentes muito complicados porque agora você pode xingar e só pagar uma multa e tudo bem. Estou falando do jogo contra o São Paulo — disse Leila. Julio Casares não terá o mesmo espaço para rebater.

Ela também aproveitou a presença no programa para alfinetar os conselheiros de oposição, hoje reunidos na chapa “Palmeiras Avante”, que sempre questionam a relação das empresas da presidente com o clube.

— Pela meia dúzia que gosta de aparecer às custas da gestão, dizem que eu não gosto de ser contrariada. Agora me fala, Ana, as pessoas falam cada barbaridade e eu tenho que ficar quieta? Quando pisam no meu pé, eu respondo falando a verdade — disse ela.

A batalha da oposição será inglória e dura. Na administração pública, costuma-se dizer que um candidato pela reeleição usa a máquina pública a seu favor. No caso de Leila, isso vai além. Porque não é Leila quem usa a máquina, mas sim a máquina quem a procura.

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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