Jogo do Brasil em Belém é um abraço em um povo que sentia saudade de sua Seleção

Não demorou muito. Na verdade, bastou botar os pés no Aeroporto Internacional de Belém para entender que o Brasil inicia sua caminhada nas Eliminatórias da Copa de 2026 em uma cidade sedenta por receber a seleção brasileira. Talvez seja o lugar em que Neymar e companhia receberão os abraços mais apertados. Com certeza é no lugar e diante de um povo que sente muitas (mas muitas, mesmo) saudades de sua Seleção.

Prova disso é que às 13h da abafada tarde da última segunda-feira (4), dezenas de torcedores faziam vigília no aeroporto para tentar ver de perto os jogadores que desembarcariam da Europa quase nove longas horas mais tarde. Neymar chegou um pouco antes, perto das 21h. Depois, às 21h30 a maioria dos atletas que atuam no Velho Continente, pousou em um voo desde Lisboa.

– Os caras vieram a última vez há 12 anos. A gente tem dificuldades de receber. Com a reforma do Mangueirão, a gente teve oportunidade de ver o jogo. Viemos para tentar ter uma fotografia com algum deles. Vamos ficar até nove, dez horas, seja o que for – disse o torcedor Leonardo da Silva, enrolado em uma bandeira do Brasil, enquanto outros tantos torcedores dividiam história da última vez que a Seleção atuou no Pará.

Faz quase 12 anos que o Brasil não disputa uma partida na capital paraense (confira abaixo). Na Região Norte, a última aparição foi em 6 de setembro de 2016, na vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia, na Arena da Amazônia, nas Eliminatórias da Copa de 2018.

Apesar da espera resiliente de Leonardo no aeroporto, a foto tão sonhada ficou para outro dia. Os jogadores não passaram pelo saguão principal. Mas a centena de torcedores que se acotovelaram em frente ao hotel da Seleção teve melhor sorte.

Vigília no hotel vai até as 4h

Neymar e a maioria dos jogadores que atuam na Europa desembarcaram em Belém no final da noite de segunda-feira (4). Horas antes, dezenas de torcedores – quase todos crianças ou adolescentes – já tomavam conta da calçada em frente ao hotel da Seleção.

Para eles, a mísera chance de ver um dos ídolos mesmo que de relance era motivo suficiente para vibrar como um gol. Imagina, então, quando Neymar resolveu ir até a grade saudar os torcedores. O empurra-empurra quase derrubou a proteção. O camisa 10 que chegou ovacionado, saiu ainda mais nos braços do povo, aos gritos de “Neymar, cadê você? Eu vim aqui só para te ver”.

Neymar não voltou. Mas quem roubou a cena para fazer a alegria dos torcedores foi Richarlison. O atacante desceu da van e ficou por alguns bons minutos atendendo os fãs que se aglomeravam na grade. Distribuiu autógrafos aos montes e chegou até a gravar um vídeo com um recado para dona Maria, a avó de um dos meninos que tentava contato com os ídolos.

Richarlison parou e ficou bons 10 minutos na grade. Deve ter dado uns 100 autógrafos pra criançada que tava por aqui

Fez a alegria de todos. O que teve de criança vibrando como se fosse gol com o carinho é brincadeira

Baita exemplo de quem sabe o tanto que esse gesto significa pic.twitter.com/US2aV5TmNi

— Eduardo Deconto (@eduardodeconto) September 5, 2023

A cena era bonita de ver. Um a um, os garotos saíam eufóricos, como se tivessem marcado um gol de título, por terem recebido um autógrafo de Richarlison. As assinaturas nas camisetas eram troféus exibidos com orgulho.

Para quem quase nunca tem a chance de ver Neymar, Rodrygo, Casemiro e companhia de perto, qualquer mísero contato com os jogadores era muito, mas muito. E tudo era motivo de brincadeira. Quando um ônibus do transporte público passava, as crianças gritavam: “chegou o Neymar”. Houve um “Parabéns a você” puxado para comemorar um aniversario (talvez fictício). E quando a van que transportava Alisson apareceu…

– Alisson, minha mãe tá solteira – gritou um torcedor mais ousado (e esperançoso, por que não?).

A vígilia em frente ao hotel foi longe. O relato é que até as 4h da madrugada desta terça-feira (5), alguns torcedores ainda esperavam na calçada para tentar um autógrafo, ou uma foto, ou o que fosse para eternizar o momento. O carinho recebido na rua e a resiliência dos fãs impressionaram até mesmo alguns integrantes da delegação que trabalham há anos na Seleção, conforme ouviu a Trivela.

Neymar chegou ovacionado a Belém e retribuiu o carinho. Veio pra grade, e galera foi à loucura. Quase derrubaram a grade pra ver o ídolo de perto pic.twitter.com/wt8RBzK7fR

— Eduardo Deconto (@eduardodeconto) September 5, 2023

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Ingressos praticamente esgotados

O recém-reformado Mangueirão com capacidade para mais de 50 mil pessoas deve estar lotado na próxima sexta-feira (8), quando o Brasil enfrenta a Bolívia às 21h30 (horário de Brasília), pela primeira rodada das Eliminatórias da Copa de 2026. Até o fechamento desta reportagem, restavam apenas entradas para o setor de arquibancadas B, com valores de R$ 200.

Pelas ruas de Belém, bandeiras e mais bandeiras da Seleção decoravam os postes e os céus. O amarelo da Seleção passou a dividir espaço com o azul e branco do Paysandu e o azul escuro do Remo. Nas cercanias do Mangueirão, o Governo do Pará exibia orgulhoso pôsteres em divulgação do jogo. Os cartazes tinham as bandeiras do estado e do Brasil divididas.

Última vez em Belém 12 anos atrás

Os dias de Seleção em Belém servem para os paraenses matarem uma saudade que perdura por mais de uma década. Quase 12 anos desde a última vez em que a seleção brasileira pisou o gramado do Mangueirão. Foi com uma vitória pelo Superclássico das Américas.

Em 28 de setembro de 2011, a Seleção comandada por Mano Menezes venceu a Argentina por 2 a 0. Neymar, que está de volta à lista de convocados pela primeira vez desde a Copa de 2022, e Lucas Moura marcaram os gols da vitória.

Todas as vezes da Seleção em Belém

• 08/11/1990 – Brasil 0 x 0 Chile – Taça da Amizade
• 09/10/1997 – Brasil 2 x 0 Marrocos – Amistoso – Gols: Denílson (2x)
• 12/10/2005 – Brasil 3 x 0 Venezuela – Eliminatórias da Copa de 2006 – Gols: Adriano, Ronaldo e Roberto Carlos
• 28/09/2011 – Brasil 2 x 0 Argentina – Superclássico das Américas – Gols: Lucas Moura e Neymar