BrasilBrasileirão Série A

Futuro nebuloso

Estádio Independência, sábado. Perdendo por 4 a 0 do Santos, os torcedores do Cruzeiro aplaudem Neymar. Pouco importa se como forma de protesto ou se foi pela atuação decisiva do atacante (ou ainda uma soma dos dois), mas o que se viu foi um cenário de destruição. Em frangalhos, o Cruzeiro tomou uma goleada em casa de um time que não está muito acima do razoável, mas que conta com um craque. A torcida parece cansada até de xingar o time, a diretoria, as contratações.

São Januário, domingo. De um lado, um time brigando com todas as forças para escapar do rebaixamento, depois de três mudanças de técnico e com um time cheio de problemas. De outro, um time que ainda sonha com a possibilidade de conseguir uma vaga na Libertadores do próximo ano. A julgar pelo que se viu no jogo, daria para chutar que o time que briga pela Libertadores é o Sport e o que luta para não cair é o Vasco.

É o contrário. Mas o placar foi de 3 a 0 para o Leão. A torcida do Vasco ainda não cansou de protestar. Critica muito o presidente Roberto Dinamite. Ao mesmo tempo, já parece conformada em não ir à Libertadores. Não é acomodação. É porque vê, em campo, um time que não parece ter capacidade de vencer.

Em comum, Cruzeiro e Vasco têm o fato de não correrem risco algum nesse campeonato. Bom, risco real, já que o Cruzeiro matematicamente ainda pode cair. Se 2012 não é uma preocupação séria, em 2013 é bom colocar as barbas de molho. Os dois times estão muito longe de serem competitivos e é de se imaginar que no próximo ano a situação pode ser pior.

O Cruzeiro já teve o aviso em 2011. Não fossem os muitos pontos acumulados por Celso Roth no início do campeonato, o time poderia estar muito ameaçado de ir para a segunda divisão a esta altura do Brasileiro. Sem contratações importantes, o time é um apanhado de refugos que não dá certo. Tinga, Souza, Leandro Guerreiro, Ceará, Martinuccio… Muitos coadjuvantes que têm custo-benefício ruim. E ainda que Walter Montillo seja bom jogador, não é Neymar para mudar, sozinho, o patamar do time.

No Vasco, Juninho faz um grande Campeonato Brasileiro e é certamente um dos grandes destaques de 2012. Suas atuações, no entanto, não são suficientes para impedir que o Vasco seja a segunda pior campanha do returno, à frente apenas do Atlético Goianiense. O pior é que a queda de rendimento era previsível e os torcedores parecem saber disso.

O time perdeu Rômulo, Alan, Fagner e Diego Souza, para falar apenas dos principais jogadores. Sem falar em Dedé, que passou muito tempo machucado, na seleção ou fazendo um dublê de si mesmo, sem jogar o que mostrou em 2011. Essa combinação de fatores faz do Vasco um mero coadjuvante nesse fim de campeonato. Mas o pior é o que está por vir.

Em uma crise financeira enorme, o Vasco não só terá poucos recursos para trazer reforços como também corre o risco de perder mais jogadores e até o técnico Marcelo Oliveira. O atraso nos salários dos funcionários – e isso inclui comissão técnica e jogadores – incomoda no clube e gera muitas críticas de torcedores vascaínos. Com razão, cobram onde foi parar o dinheiro das vendas dos jogadores que saíram. É provável que o dinheiro tenha sido usado para pagar dívidas, mas a falta de transparência da gestão de Dinamite deixa dúvidas e levanta suspeitas. Nesse cenário, os torcedores têm muito com o que se preocupar. Enfiado em tantos problemas e sem uma perspectiva de melhora, a projeção para 2013 é assustadora.

O pior não é quando o time tem quatro jogos por fazer e tudo que se pode pensar é “Feliz 2013”. Pior mesmo é ter quatro jogos para fazer em 2012 e só conseguir pensar em um triste 2013.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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