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Futebol de base feminino abre novas portas e promete revelar talentos para o esporte

O futebol de base é uma etapa fundamental para a formação de jogadores profissionais. É um processo natural e cada vez mais importante dentro das estruturas dos clubes. O Barcelona costuma ser apontado como o principal exemplo, dono de um dos centros de treinamentos para jovens mais conhecidos do mundo. No Brasil, também é possível citar casos de sucesso, como o Santos. Em compensação, o futebol feminino ficou carente de investimentos e competições na área por um longo período. Não era raro ver garotas disputando torneios masculinos por falta de campeonatos femininos na base. Esse fato chegou a ser documentado no curta “Minas do Futebol”, dirigido por Yugo Hattori. A produção conta a trajetória do time feminino sub-15 do Centro Olímpico que competiu na masculina Copa Moleque Travesso e se sagrou campeão.

A realidade começou a mudar em 2017, a partir da criação do primeiro campeonato de base feminino no Brasil, o Campeonato Paulista sub-17, organizado pela Federação Paulista de Futebol. No primeiro ano do torneio, 17 times participaram do evento, fato esse que evidenciou a existência dessas equipes desde antes, embora faltasse investimento na área para realizar um campeonato. Na esfera nacional, a modalidade ganhou o Brasileirão Feminino sub-16 e sub-18, além do Torneio de Desenvolvimento de Futebol Sub-14.

Não se pode negar: a determinação da CBF a todos os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro masculino, para formarem uma equipe feminina adulta e uma de base, mudou o panorama da modalidade no país. Após a decisão, grandes clubes anunciaram peneiras e a construção de times de base. Ainda assim, os trabalhos de várias equipes vêm muito antes dessa obrigatoriedade.

E a base vem como?

Embora o futebol feminino tenha ficado em segundo plano por muitos anos, hoje, a categoria se mostra em crescimento. O Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP) é um projeto da Prefeitura da Cidade de São Paulo e referência no assunto. A equipe de base mais vitoriosa do futebol feminino é campeã brasileira e atual bicampeã das Américas na categoria sub-14, entre tantos outros títulos. A instituição já possuía as categorias sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17 e, em abril deste ano, anunciou o sub-9 feminino. Antes da pandemia causada pelo novo coronavírus, o Centro Olímpico realizava peneiras uma vez por mês.

Outras iniciativas

A Ferroviária é pioneira quando o assunto é futebol feminino. A equipe adulta já colecionava títulos na época em que a CBF anunciou a obrigatoriedade de times femininos. Um dos segredos para continuar com os bons resultados, mesmo após a chegada de grandes clubes no futebol feminino, está baseado no trabalho feito nas categorias de formação.

Como o projeto tem parceria com a prefeitura de Araraquara, uma das características da iniciativa está na criação de escolinhas de base. Em 2017, o clube ganhou investimento nas categorias menores. Dessa forma, a Locomotiva consegue formar um time profissional e de qualidade com recursos condizentes com a realidade da agremiação. A Ferroviária, hoje, conta com equipes femininas no sub-15, sub-17 e sub-18.

Dificuldades

Ainda que os investimentos se mostrem em crescimento, grande parte das oportunidades para garotas de 11 a 15 anos se concentram na capital de São Paulo. Além disso, a maioria dos clubes que desenvolveram times de base possui apenas equipes sub-17.

Esse fenômeno pode ser prejudicial ao esporte, já que muitas meninas podem encontrar um time para defender apenas tardiamente, atrasando o desenvolvimento tático e funcional da modalidade. A maioria das jogadoras da seleção brasileira principal feminina hoje não passou por uma equipe de base, mas foi direto para o profissional. Trabalhos como o do Centro Olímpico e o da Ferroviária buscam frear as dificuldades enfrentadas pelo futebol feminino, para que ele se aprimore desde cedo.

Foto de Anderson Santos

Anderson Santos

Membro do Na Bancada, professor da Unidade Educacional Santana do Ipanema da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), doutorando em Comunicação na Universidade de Brasília (UnB) e autor do livro “Os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol” (Appris, 2019).
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