Edilson detona Ceni por período no Cruzeiro em 2019: ‘A gente não conseguia se olhar’

O ex-lateral Edilson, de 38 anos, revelou bastidores do Cruzeiro em 2019, ano da inédita queda celeste para a Série B do Campeonato Brasileiro. O antigo camisa 22 da Raposa contou que teve problemas com o treinador Rogério Ceni, que comandou o time por um mês e meio naquela campanha.

No Cruzeiro, Ceni disputou oito jogos, com duas vitórias, dois empates e quatro derrotas.

Além disso, acumulou desafetos e teve diversos problemas internos, em especial com alguns medalhões do elenco, o que minou seu trabalho e agravou a crise iniciada ainda na gestão de Mano Menezes e que contou com diversos entraves administrativos.

Edilson falou sobre o time no programa Sem Filtro, da GZH, no qual ao ser questionado sobre qual o treinador com quem se deu pior, prontamente respondeu: “Rogério Ceni”.

Campeão da Copa do Brasil de 2018 e dos Mineiros de 2018 e 2019 com a Raposa, Edilson revelou que até hoje não possui uma boa relação com o técnico, que hoje comanda o Bahia.

‘Time velho’

Curiosamente, Edilson contou que a escolha de Rogério Ceni para o cargo de treinador foi delegada aos jogadores, que sugeriram o ex-goleiro, que vinha sendo elogiado pelo trabalho no Fortaleza.

Apesar da expectativa, o início da relação já foi conturbado. Já na primeira coletiva, após a vitória na estreia contra o Santos, por 2 a 0, no dia 18 de agosto, Rogério Ceni afirmou que iria fazer algumas trocas no time, por se tratar de um elenco envelhecido, o que não pegou bem internamente.

— Não tem necessidade de fazer isso. Ele pode fazer as mudanças, mas não precisa expor que o time está velho. Era o mesmo time com o qual ganhamos (a Copa do Brasil) do ano anterior. O time em si era muito bom — afirmou Edilson.

Edilson contou que após as declarações, os jogadores pediram uma reunião com Ceni e que o papo já não correu tão bem.

— Foi eu, Fábio, o Ariel Cabral, o Henrique, o Léo, o Egídio, o Robinho, o Fred e o Thiago Neves. A gente tentou falar para ele: “Rogério, você pode fazer uma mudança, mas só não nos exponha como time. A gente está numa situação difícil e quer se ajudar para sair dessa situação e não tumultuar ainda mais o vestiário — relatou o ex-lateral.

Apesar do pedido, Edilson contou que Rogério Ceni esteve irredutível. Quando interpelado por Fred, que afirmou sendo mais experiente, já tinha feito 19 gols na temporada, o treinador teria respondido que “15 destes gols haviam sido feitos no Campeonato Mineiro”.

— Isso deu uma quebrada na relação com o grupo. Estava começando e já quebrou ali — disparou o jogador.

Edilson relata quebra de confiança com Rogério Ceni

Outro ponto citado por Edilson para explicar a má relação com Rogério Ceni foi a quebra de confiança em relação a uma escalação.

O Cruzeiro disputava a semifinal da Copa do Brasil de 2019, quando busca o tri consecutivo da competição, tendo perdido o jogo de ida por 1 a 0, no Mineirão, ainda sob o comando de Mano Menezes.

Edilson não havia participado da ida, por estar lesionado, mas já estaria recuperado para a volta. Seu reserva imediato, o colombiano Luis Orejuela, havia sido convocado para sua seleção e seria desfalque.

Segundo o ex-lateral, ele se dedicou intensamente para voltar bem para o jogo e já havia um acordo para que ele voltasse ao time titular na ocasião. Mas tudo mudou a partir de um treino recreativo, já em Porto Alegre.

— O Sassá chegou em mim assim: “Mano, olha só, se cuida que eu acho que ele vai colocar o Jadson na lateral e não vai colocar você, ele chegou para falar com o Jadson”. Meu semblante mudou e pensei: “Sou lateral e ele vai improvisar”? Eu estava pronto para jogar — desabafou Edilson.

Jadson, hoje no Juventude, é volante e, na ocasião, era um dos jogadores mais contestados do elenco celeste.

E o que foi dito pelo atacante Sassá acabou se concretizando. No dia do jogo, Ceni avisou a Edilson que iria utilizar Jadson improvisado, o que irritou Edilson.

— Eu falei: “professor Rogério, eu não concordo, aceito, mas não concordo. Sou um jogador da posição, experiente, conheço muito o adversário e por eu ter me preparado para esse jogo. Estou preparado para esse jogo”. Os caras do grupo viram, vieram no meu quarto e falaram: “O cara tá louco, tirar você de uma decisão, a gente precisando de você” — contou o ex-jogador.

Quando a bola rolou, o Cruzeiro foi atropelado. Um 3 a 0 para o Internacional, que se classificou para a final da Copa do Brasil.

‘No outro dia a gente não conseguia se olhar’

Segundo Edilson, no treino do dia seguinte, ele e Rogério Ceni não conseguiam se olhar. Ainda assim, o ex-lateral teria tentado colocar panos quentes na situação, o que não foi bem aceito pelo técnico.

— Cheguei nele e falei: “Rogério, nosso time está na zona de rebaixamento, numa situação muito ruim, nosso grupo é bom, acho que aconteceu uma coisa em Porto Alegre que, sinceramente, eu não concordo com você, mas já passou, vamos seguir, temos que pensar no Cruzeiro daqui em diante, não em nós”. Aí ele falou assim: “Eu não errei lá em Porto Alegre” — revelou.

Depois disso, Edilson contou deu as costas ao técnico e que não foi relacionado até Rogério Ceni ser demitido, em setembro daquele ano.

Abel Braga e Adilson Batista ainda comandaram o Cruzeiro em 2019, mas não conseguiram salvar o time da queda. Edilson deixou o clube no ano seguinte, tendo chegado a entrar em campo algumas vezes em 2020.