Cruzeiro: venda de mandos mostra que Ronaldo não acreditava nos próprios time e torcida
Gestão do Fenômeno vendeu nada menos que quatro mandos de campo celestes; equipe de Pedrinho BH reverteu duas das vendas

Vencedor de 100% dos jogos que fez em casa no Campeonato Brasileiro de 2024, o Cruzeiro abandonará Minas Gerais para mandar duas partidas, ainda sem datas definidas, em outros estados no segundo turno da competição.
Isso acontece porque a gestão de Ronaldo Nazário, comandada pelo CEO da época, Gabriel Lima, vendeu mandos de campo da Raposa antes do Fenômeno negociar a SAF celeste com o empresário Pedro Lourenço, o Pedrinho BH.
Os adversários em questão são o Fortaleza, que o Cruzeiro enfrentará no estádio Kléber Andrade, em Cariacica, no Espírito Santo, e o São Paulo, que terá o time celeste pela frente no Mané Garrincha, em Brasília, Distrito Federal.
O Cruzeiro mandou uma partida em Cariacica, no Campeonato Mineiro de 2023. Na ocasião, empatou em 1 a 1 com o Democrata de Sete Lagoas para um público de apenas 6.589 torcedores.
A Raposa foi mandante de um jogo em Brasília em 2022, quando enfrentou a Chapecoense pela Série B. Compareceram ao estádio 22.432 cruzeirenses. Em 2023, o Cruzeiro enfrentou o América-MG no mesmo local, pelo Campeonato Mineiro, mas o mando era do Coelho. Tinham muito mais torcedores celestes na arquibancada, mas o público não passou de 13.631 pessoas.
Um dos temores atuais é de que haja uma “inversão de mando” no jogo contra o São Paulo em Brasília, pela grande incidência de torcedores tricolores na cidade. O Cruzeiro também possui boa torcida na região, mas ainda assim bem menor que a do clube paulista, segundo indicam institutos especializados, como o Ideia e a CODEPLAN.
Foram vendidos quatro mandos, mas Pedrinho BH reverteu
Conforme noticiado pela Itatiaia, o acordo inicial era de venda de quatro mandos de campo. A Samuca TV avançou, informando que o Cruzeiro receberia R$ 1 milhão por cada um deles, totalizando R$ 4 milhões. Além disso, R$ 2,5 milhões já teriam sido pagos ao clube.
A gestão de Pedrinho BH, ao saber da venda, buscou negociar e conseguiu reverter duas dessas vendas. Com isso, restaram apenas os jogos contra Fortaleza e São Paulo para serem realizados fora de BH.

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Venda de mandos do Cruzeiro refresca memória de torcedor sobre problemas da gestão Ronaldo
Ronaldo vendeu o Cruzeiro por estar “chateado com as críticas” e com a queima de uma bandeirão com seu rosto, produzido pelo clube. Além disso, ele afirmou entender que a Raposa precisava dar um passo à frente que ele não conseguiria proporcionar.
Após a venda, o sentimento de gratidão pelo ex-gestor da SAF celeste tomou conta visto que ele foi peça fundamental na reestruturação do clube.
Apesar disso, é difícil esquecer os problemas protagonizados por sua administração e a venda dos jogos refresca a memória de quem havia guardado somente a parte boa.
A decisão, que não é inédita, já que a equipe Ronaldo chegou a vender o mando de um clássico contra o rival Atlético-MG, válido pelo primeiro turno do Brasileirão de 2023, é problemática em vários aspectos e pode ser extremamente prejudicial para o Cruzeiro.
Prejuízo esportivo pode ser gigante
O primeiro risco que se nota é o esportivo. O Cruzeiro fez do Mineirão um grande aliado da excelente campanha no Campeonato Brasileiro de 2024 e tem 100% de aproveitamento no estádio na competição.
Por outro lado, a campanha fora de casa é instável e a Raposa conseguiu vencer apenas duas vezes longe dos seus domínios.
Ainda que se trate de um ponto a melhorar, é comum que equipes sofram mais fora de casa do que dentro. Por isso, a decisão da antiga gestão é, no mínimo, perigosa.
O time de Ronaldo vendeu 20% dos mandos do Cruzeiro na competição. Pensando apenas no returno, onde as partidas aconteceriam, 40% dos jogos “em casa” seriam disputados fora do Mineirão. Na parte mais decisiva do campeonato. Chega a ser difícil de acreditar.
Com a diminuição das vendas pela metade, o cenário melhora, mas segue desfavorável. Principalmente porque em Brasília, há a possibilidade de haver mais torcedores rivais, ainda que não exista muita expectativa de um grande público, já que as empresas que compram mandos costumam praticar preços salgados nos ingressos.
A venda, acertada há mais tempo, também indica que a gestão do Cruzeiro não confiava no time que ela própria montou. Afinal, quem em sã consciência venderia partidas de um time que briga na parte de cima da tabela e que fez do seu estádio uma fortaleza?
Além disso, Cruzeiro, São Paulo e Fortaleza brigam na mesma faixa da tabela e devem pleitear uma vaga na Copa Libertadores por meio do Brasileirão.
Ou seja, o time celeste enfrentará adversários diretos longe de seus domínios tanto no turno, quanto no returno. Tal situação pode custar objetivos importantes no campeonato.
Ronaldo voltou a subestimar torcida do Cruzeiro
Outra crítica comum ao trabalho da gestão Ronaldo era acerca da desvalorização da torcida celeste. Uma das grandes reclamações dos cruzeirenses era a falta de diálogo com a direção e as decisões arbitrárias que eram tomadas.
Em muitas oportunidades, o Cruzeiro jogou fora de BH por problemas entre direção e Minas Arena, concessionária que administra o Mineirão, o que foi responsável pela vertiginosa queda do programa de sócio-torcedores celeste de 2022 para 2023.
A decisão da venda dos mandos mostra que mais uma vez a torcida celeste, que teve ótimo comparecimento ao Mineirão em toda a gestão Ronaldo, voltou a ser subestimada.

Primeiro por sua capacidade de empurrar o time rumo a coisas maiores, o que tem acontecido e que consequentemente dá melhores panoramas esportivos e financeiros. Time bem, que vai bem em casa, arrecada mais e mais.
Segundo porque cada jogo vendido rendeu R$ 1 milhão ao Cruzeiro. Para arrecadar isso no Mineirão é preciso um bom público, mas não é necessário lotar.
No 3 a 0 contra o Corinthians, 55 mil cruzeirenses renderam mais de R$ 3,1 milhões brutos e R$ 2,2 milhões líquidos. Um pouco mais de confiança no próprio projeto e na capacidade do cruzeirense de comparecer faria da operação algo mais rentável financeiramente e mais segura no âmbito esportivo.
Mas a desconexão entre direção e torcida sempre foi real e muitas vezes o rendimento esportivo esteve à parte, como um negócio que não importa tanto. E hoje é uma nova gestão que pode pagar por mais esse erro, que reverbera meses depois.
Venda de mandos é polêmica corriqueira
A venda de mandos de campo é uma polêmica antiga no futebol brasileiro, já que muitas vezes resulta em desequilíbrio técnico no Brasileirão.
Não é incomum que clubes, normalmente de menor torcida, recebam pagamentos de empresas privadas para mandar partidas em diferentes praças.
Diversos fatores influenciam como dificuldades financeiras ou campanhas muito ruins, de pouca esperança competitiva, como, por exemplo, um clube que já não se vê escapando do rebaixamento.
Já há algum tempo a CBF tenta regulamentar a venda de mandos no Brasileirão, mas é difícil aparar todas as arestas e a prática segue comum.
O que é incomum é que um clube de torcida gigante, que tem em sua casa uma fortaleza e que brigue na parte de cima da tabela, como é o caso do Cruzeiro, tome uma atitude dessas.
A reportagem da Trivela buscou contato com o ex-CEO de futebol do Cruzeiro, Gabriel Lima, mas não havia obtido resposta até publicação deste texto. Em caso de resposta, a publicação será atualizada.