Conheça a joia que pertence à família histórica do Cruzeiro e foi campeã com o Atlético-MG
Rafael Caroli, de 14 anos, chegou à Toca da Raposa após anos de sucesso no Atlético-MG

As raízes italianas estão presentes na história e no futuro do Cruzeiro. Rafael Caroli, meia de apenas 14 anos, tem em seu sangue o elo temporal que une o Palestra Itália ao clube azul celeste de hoje e de amanhã. O garoto do sub-14 celeste é bisneto de Aurélio Noce, primeiro presidente da história do Palestra Itália, e sobrinho-neto de Guerino Isoni, primeiro camisa 10 da Raposa.
Natural de Contagem, Rafael chamou atenção de seu professor pela habilidade com a bola com apenas sete anos de idade. O docente gravou um vídeo do menino jogando e o levou para o Cruzeiro. O time celeste, então, chamou o garoto para treinar no Clube Cruzeiro Pampulha.
Posteriormente, Rafael foi aprovado em testes no Fluminense e no Flamengo, mas antes que ele e seu pai, Leandro, tomassem qualquer decisão, veio a pandemia. Durante a paralisação dos treinos no período pandêmico, chegou uma proposta do Atlético-MG. Na época, o Galo estava reformulando sua base e apresentaram um plano de carreira a Rafael e seu pai garantindo minutos em campo para o jovem meia. Eles decidiram aceitar.
— Meu pai, meu filho mais velho e eu ficávamos “eu não vou aguentar ver isso (Rafael jogando no Atlético)” — conta Leandro, que assim como toda a família, é cruzeirense.
Rafael nunca foi reserva no Galo, sempre camisa 10 e titular. Foram mais de 40 gols pelo Atlético e alguns títulos, como:
- Copa do Brasil sub-12
- Brasileirinho sub-12
- Campeonato Mineiro sub-12
- Campeonato Mineiro sub-13
- Copa São Ludgero sub-13
Porém, ao final de 2024, Leandro tomou a decisão de voltar com seu filho para o Cruzeiro.
— O estilo que o Atlético jogava era muito físico. Ele era titular, mas eu não enxergava futuro pelo estilo de jogo. O perfil do clube. Eu decidi levá-lo de volta ao Cruzeiro, onde o estilo de jogo era mais técnico — explica Leandro.
Então, o pai de Rafael conversou com Adilson Batista, coordenador das categorias de base do Cruzeiro, e alinhou seu retorno à Toca da Raposa. Um detalhe: o parentesco do garoto nunca foi levado ao clube.
— É uma informação que ninguém no Cruzeiro sabe. Meu pai é filho de italiano, muito sistemático e achou que ele só estaria lá por conta do parentesco, mas nunca divulgamos isso — garante Leandro.
O maior ídolo de Rafael no futebol é Neymar, mas seu pai faz questão de apresentar nomes históricos do Cruzeiro para o garoto. Assim, ele também gostou de Alex, protagonista da Tríplice Coroa azul, conquistada em 2003. Meia habilidoso, canhoto, e com muita técnica, Rafael tem qualidades de um exímio camisa 10, características semelhantes às de seu tio-avô.
A história por trás do sobrenome

A camisa do Cruzeiro passou a ter números a partir de 1950 para atender uma exigência do Campeonato Mineiro. Era um uniforme branco com numeração azul. A 10 ainda não tinha o glamour que ganharia e a distribuição dos uniformes levou em conta a posição dos jogadores em campo. O número 10 ficou com um meia-esquerda, filho de italianos, chamado Guerino Isoni.
Guerino era conhecido por sua elegância nos gramados e na noite de Belo Horizonte. Ele cantava nos bares e boates da capital, enquanto era um lorde dentro de campo. Em 1959, numa eleição feita por árbitros, ele foi eleito o jogador mais disciplinado da temporada.
Ele disputou 280 jogos pelo Cruzeiro e marcou 87 gols. Só em clássicos contra o Atlético, ele fez 10 gols. O camisa 10 ficou no clube por 13 anos e só aceitou sair do time do coração em 1960 para jogar no futebol venezuelano. Seu rosto está eternizado em um grafite no muro do Parque Esportivo do Barro Preto, onde no passado ficava o estádio JK, cenário em que Guerino deu muitas alegrias à torcida celeste.
Guerino era filho de João Isoni e Angelina Caroli Isoni. O “Caroli” sumiu do nome do ex-camisa 10 do Cruzeiro porque era sobrenome da avó materna. Ana Rita Isoni escreveu um livro contando a história do seu pai, chamado “Guerino Isoni, o primeiro camisa 10 do Cruzeiro“.
Em janeiro de 2022, ela recebeu uma mensagem via Instagram de um senhor com o nome Augusto Aurélio Noce. Ele disse que tinha um neto que jogava futebol e que sua mãe era irmã da avó de Ana, Antonieta Caroli.
— Eu sempre tive essa curiosidade de conhecer algum Caroli, porque achava o nome muito bonito e era da minha avó. O Aurélio me mandou fotos do garoto, achei aquilo muito interessante, mas estava com uma camisa do Atlético. Eu falei “que bacana, está no DNA, é o sangue do lado dos italianos”. Do lado do meu pai, todos meus tios jogaram no Cruzeiro, mas eu não sabia que havia alguém da nova geração havia dado seguimento a esse dom — conta Ana Rita.
Anos depois do primeiro contato entre os parentes, o próprio Rafael mandou mensagem para Ana contando que iria jogar no Cruzeiro. Ela enviou seu livro para o garoto e os dois, inclusive, já combinaram de se encontrar em breve para a jovem promessa celeste conhecer todo o acervo de jornais tratando da época de Guerino.
— Quando vi a foto do Rafael jogando, fiquei muito impressionada, porque é de cair para trás. Ele tem o olhar do meu pai, o foco do meu pai jogando. O garoto até brincou das orelhas serem mais avantajadas. Eu não acredito em coincidências, mas me emocionou muito. A semelhança física, a mesma posição. Quem sabe está surgindo um novo craque camisa 10 da minha família? — finaliza Ana.

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Quem foi o primeiro presidente do Cruzeiro
Filho de imigrantes italianos, Aurélio Noce, junto de seu irmão, Alberto, abriu uma barbearia em Nova Lima. Mas se separaram pouco depois. Alberto abriu uma alfaiataria com o outro irmão Humberto na esquina de Espírito Santo e Carijós, em Belo Horizonte.
Já Aurélio criou sociedade com Rafaello Gagliardi, dono da Casa Gagliardi, loja de moda masculina na Avenida Afonso Pena, também na capital mineira.
Depois, Aurélio resolveu abri o Bazar Americano na Avenida Afonso Pena, entre Tamoios e Bahia. A loja vendia de tudo e ficou conhecida como a “loja dos dois mil réis” porque esse era o preço básico de suas mercadorias.
Em 2 de janeiro de 1921, Aurélio recebeu a missão de organizar o Palestra Itália. Como presidente, ele uniu a colônia italiana de Belo Horizonte, motivando os mais ricos a contribuírem financeiramente e os mais jovens a jogar. Em seguida, foi à luta para colocar o clube na Primeira Divisão da Liga Mineira.
Alberto sucedeu o irmão em 1923, mas ainda foi Aurélio que levou o Flamengo para o jogo inaugural, em setembro daquele ano. As arquibancadas do Barro Preto receberam naquele domingo 4 mil espectadores. Eles assistiram a Ninão, de apenas 18 anos, marcar dois gols no empate por 3 a 3.
