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A via crucis do Paulista de Jundiaí ganha mais um capítulo, e o Palmeiras está envolvido

Crise do Paulista de Jundiaí ganha mais um capítulo com cessão do Estádio Jayme Cintra ao Palmeiras

Vice-campeão da primeira divisão do Campeonato Paulista em 2004, perdendo a final para o São Caetano de Muricy Ramalho, icônico campeão da Copa do Brasil em 2005, diante do Fluminense, e um dos representantes brasileiros na Libertadores de 2006, o Paulista de Jundiaí vive a sua pior crise da história. Em 2023, o Galo foi rebaixado para a 5ª divisão estadual, e corre atrás de uma nova comissão técnica ainda este ano para começar o seu planejamento, visando sua reconstrução a partir da próxima temporada.

A situação caótica vivida por um dos times mais tradicionais do interior de São Paulo, ganhou mais um capítulo complicado este ano. Em fevereiro, a diretoria do Paulista firmou uma parceria com o Palmeiras para concessão do Estádio Jayme Cintra para os jogos da equipe feminina do time da capital. O contrato firmado tem duração de dois anos, e é valido até 2024. A parceria entre os clubes foi firmada em fevereiro, mas era planejada desde janeiro.

Na época, a diretoria do Paulista comemorou muito a parceria, tendo em vista a maior visibilidade que a cidade de Jundiaí ganharia, e também o aumento na visibilidade do futebol feminino brasileiro. Para o presidente do clube, Rodrigo Alves, a iniciativa visou fomentar a participação das mulheres no esporte, seja dentro, ou fora de campo.

“Para o Paulista, é uma honra receber o Palmeiras em Jundiaí e na nossa casa, o Jayme Cintra. Nós vemos o trabalho de excelência que o Palmeiras tem construído há vários anos em todos os setores e a parceria é muito importante para nós porque vamos aprender muito com o clube.

A cidade de Jundiaí vai acolher o Palmeiras, ainda mais o futebol feminino, que vem nessa crescente. Queremos ver muitas mulheres no estádio e nos gramados de Jundiaí, e esse é um passo importante nesse sentido”, afirmou o dirigente.

Parceria entre Paulista e Palmeiras desagrada torcida do Galo

Porém, quem não gostou nada desta iniciativa foi a torcida do Paulista de Jundiaí, que em agosto deste ano protestou contra a diretoria do Galo por conta da cessão do estádio. A alcunha jundiaiense criou faixas com os dizeres “Quem manda aqui é o Galo e não o Palmeiras” e “O Paulista pertence à sua torcida”, além de direcionar inúmeras críticas ao presidente Rodrigo Alves por conta da parceria fechada em fevereiro com o Palmeiras.

O caso ganhou ainda mais notoriedade e polêmica após o rebaixamento do Paulista para a 5ª divisão do futebol de São Paulo em 2024. Será o primeiro ano da nova divisão estadual, que utilizou a classificação da tradicional “Bezinha” (4ª divisão), para definir os clubes que iriam disputar o certame na próxima temporada. Nas duas primeiras fases da última divisão deste ano, os times que não conseguissem se classificar para a eliminatória seguinte seriam rebaixados.

O Galo ficou ainda na primeira fase em uma campanha fraquíssima. Em dez jogos, o time de Jundiaí conquistou apenas duas vitória, três empates e perdeu cinco jogos, terminando sua participação na 4ª divisão do futebol paulista em 5º lugar no Grupo 4 da competição.

Apesar da insatisfação do torcedor do Paulista, a diretoria do Galo, embora respeitasse a opinião dos insatisfeitos amantes do time jundiaiense, argumentou em nota sobre a importância da parceria com o Palmeiras, e também sobre a necessidade da troca do gramado do Jayme Cintra, que ao longo dos anos, ficou em péssimo estado devido à falta de uma manutenção correta.

Confira na íntegra a nota oficial emitida pelo Paulista ao torcedor:

“O Paulista FC respeita a opinião dos torcedores e reafirma que têm todo o direito de manifestar descontentamentos. O Galo tem 114 anos de história com momentos de notoriedade nacional, que hoje – com um grande passivo – busca se reorganizar para um dia voltar a disputar campeonatos de grande relevância.

Entretanto, entendemos que a parceria com a Sociedade Esportiva Palmeiras, na cessão do Estádio Dr. Jayme Cintra para partidas das equipes femininas, é excelente para o Paulista Futebol Clube. Desde 2011 a Federação Paulista de Futebol (FPF) vem cobrando melhorias e troca do gramado do estádio por conta do seu estado, que teve a sua primeira reforma desde a inauguração em 1957.

Caso não houvesse a troca, o Paulista F.C. poderia não disputar o Campeonato Paulista Segunda Divisão Sub-23, prioridade do clube no ano de 2023, pelas más condições de jogo do gramado antigo.

A parceria com a SEP se iniciou em 2021, quando uma penhora da bilheteria do clube – devido a uma dívida de aproximadamente 90 mil reais com a Sociedade Esportiva Palmeiras adquirida na gestão de 2015. Oferecemos a nossa estrutura durante 30 dias para quitação da dívida, que foi quitada, e a partir desse momento se criou um bom relacionamento entre as duas instituições.

A parceria de fato foi estabelecida em janeiro de 2023, quando ocorreu a troca do gramado do Estádio Dr. Jayme Cintra – bancada pela Sociedade Esportiva Palmeiras, além de um novo sistema de drenagem e irrigação. Por contrato, o Palmeiras também realiza a manutenção do gramado mês a mês. Em contrapartida o Paulista F.C cede o mando de jogos para o time feminino do Palmeiras até dezembro de 2024.

Além do previsto em contrato, a parceria também vai além: o sistema de iluminação e de energia do estádio foi renovado. Sendo assim a parceria com a SEP é excelente ao clube. Além de trazer um carimbo de credibilidade para a gestão e mais visibilidade para a cidade e ao clube”.

Paulista sai de disputa da Libertadores para pesadelo de não ter calendário

Em 2005, mais de 340 mil jundiaienses, população da cidade na época, puderam acompanhar a trajetória do Galo na Copa do Brasil. Em um time que revelou grandes nomes ao futebol brasileiro como Réver, Márcio Mossoró, e Vágner Mancini, treinador da equipe, os amantes do esporte bretão ficaram estarrecidos com a capacidade e resiliência daquele grupo, que desde o começo do torneio eliminou grandes times, e bateu o poderoso Fluminense, de Abel Braga na final.

Ao longo da campanha, o Paulista de Jundiaí eliminou o Juventude de Caxias do Sul, o Botafogo do Rio de Janeiro, o Internacional, o Figueirense, além do Tricolor Carioca na grande decisão. Com a conquista do título mais importante de sua história, o Galo ganhou o direito de disputar a Copa Libertadores da América, pela primeira, e última vez em sua história.

Daquela campanha, que parou na 1ª fase da competição continental, o resultado mais emblemático foi a vitória do time jundiaiense sobre o todo-poderoso River Plate da Argentina, neste mesmo Estádio Jayme Cintra, por 2 x 1. Os gols do Paulista foram marcados por Amaral e Jaílson enquanto Patiño diminuiu para o time Millonario.  Em um grupo que ainda continha Libertad e El Nacional do Equador, o Paulista ficou na última colocação da chave, somando seis pontos em seis jogos, em uma campanha com uma vitória, três empates e duas derrotas.

Apesar da eliminação na Libertadores, o Paulista foi muito bem no Campeonato Brasileiro da Série B em 2006, fechando sua participação na 5ª colocação com 61 pontos, mesma pontuação do América-RN, 4º colocado e último time a subir, entretanto, apesar do saldo de gols maior do time jundiaiense, o número de vitórias, maior por parte do time potiguar, foi o critério de desempate que evitou que o Galo disputasse a elite do futebol brasileiro, na última grande temporada do Paulista no cenário nacional.

Em 2007, o time foi rebaixado para a Série C, e em 2009 disputou a Série D, no primeiro ano da divisão no cenário nacional. Já São 13 anos sem disputar uma divisão sequer no futebol brasileiro. Em âmbito estadual, a última vez que o Paulista de Jundiaí esteve na elite de São Paulo foi em 2014, quando passou 11 jogos sem vencer na primeira fase, e acabou rebaixado para a Série A2. Até hoje o time nunca mais se reestruturou. Com a queda para a 5ª divisão estadual, o momento é de reflexão, muito trabalho para tentar reconquistar espaço e voltar a surpreender em São Paulo e no Brasil, assim como fez há 18 anos.

Foto de Lucas de Souza

Lucas de SouzaRedator

Lucas de Souza é jornalista formado pela Universidade São Judas em São Paulo. Possui especialização em Marketing Digital pela Digital House, e passagens pelos sites Futebol na Veia e Futebol Interior.
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