Torcedor do Corinthians reconta invasão em motel por Luan: ‘Ele mesmo tá se matando, né?’
Em entrevista à Trivela, torcedor do Corinthians que participou de busca por Luan reconta os acontecimentos da madrugada de 4 de julho
Na madrugada do dia 4 de julho de 2023, uma terça-feira, Luan, até então jogador do Corinthians, foi agredido em um motel na Zona Oeste de São Paulo. Era 2h30 da manhã (horário de Brasília), quando seis torcedores membros de uma das organizadas do clube invadiram o local.
Luan estava na suíte premium do Motel Caribe, onde o período de 12 horas no local custava R$ 1.750 (hoje R$ 1.850), com seis duchas, boate, piscina, spa, sauna, teto solar, garagem privativa, mesa de sinuca e pay-per-view. Além do jogador, estavam no ambiente outras nove pessoas, entre homens e mulheres, quando os torcedores entraram no quarto.
Com a chegada dor torcedores no local, Luan foi tirado do quarto e levado para a parte do estacionamento, e nas imagens divulgadas nas redes sociais, é possível ver no video ele sendo arrastado enquanto exigem sua saída do Corinthians.
Momento em que a Gaviões da Fiel expulsou Luan do Motel.
📸 [@centraldotimao]pic.twitter.com/jI5HHE4KCx
— Time do Povo (@povotime1910) July 4, 2023
Logo depois do ocorrido, os próprios torcedores publicaram uma imagem, nas redes sociais, em uma lanchonete em São Paulo. Um deles é o Biu, vice-presidente da Gaviões da Fiel, que conversou com reportagem da Trivela na última semana para explicar como tudo aconteceu naquele 4 de julho.
Confira a entrevista na íntegra
- Onde você e o resto do pessoal estavam antes de irem até o motel?
— Bom, era uma segunda-feira, a gente estava se reunindo, a gente tinha uma ação para ser feita, que era colocar a faixa na cidade, escrito “Fora Duílio” e tudo mais, contra a diretoria atual do Corinthians. Então a gente já estava se programando para isso, então a gente estava reunindo, fazendo as faixas e tal. A gente já estava na sede dos Gaviões.
- Vocês já estavam de olho no Luan ou monitorando ele?
— Para quem é corintiano fazer uma análise sobre Luan, ele já estava sendo condenado, já há muitos anos, né? A gente fez aquela ação simbólica na frente do CT quando o Luxemburgo chegou, colocamos ele no caixão, né? Isso já demonstrou que o Luan, como jogador para gente, já morreu, né, mano? Não existe, ele tá fora. E essa questão de encontrar ele foi só uma consequência, né, mano? Na verdade, demorou muito até.
- Como vocês ficaram sabendo? São duas versões: a primeira, que uma menina que estava indo para lá pegou um carro de aplicativo, e comentou com o motorista, supostamente da torcida; e a outra, que a recepcionista do motel era dos Gaviões da Fiel, aí passou a informação para vocês.
— Bom, na verdade, foi a história do Uber mesmo, é isso. O cara nem era dos Gaviões, não, o cara é corintiano. Vou te falar que até hoje não perguntei como ele conseguiu o meu número. Mas ele conseguiu diretamente, ele mostrou para mim. E uma coisa que eu não faço nunca na minha vida é ser omisso. Então foi isso, chegou para mim, o Caribe é colocado aqui, da onde é sede dos Gaviões para lá é dez minutos. Então não tinha porque não ir lá conferir.
- Como foi e quando o motorista do aplicativo falou com você?
— Ele compartilhou com o sentimento de corintiano, né, mano? Diferente. Ele conseguiu economizar um dinheiro para o Corinthians, da qual, mano, nunca vai conseguir obter na vida. Mano, é mais de 7 milhões de reais. E a gente proporcionou isso para o nosso clube, certo? A gente proporcionou isso para o meu clube, então é isso, a minha cara é essa mesmo.
- Nos vídeos que divulgaram da porta lá do motel, vocês chegaram, já entraram, e foram direto na cabine. Ninguém tentou parar, ou eles informaram qual era a suíte?
— Na verdade, a gente veio com a informação completa já, sabendo o quarto e tal. Inclusive, serviço de inteligência não existe no Brasil, né? A inteligência que tem é quando é assim, quando é falado, quando é caguetado. É assim que funciona, para tudo. Quando a gente chegou com a informação, óbvio que quem está ali trabalhando no motel, como já diz, trabalhando, é trabalhador, então a tratativa óbvio que tem que ser na melhor possível. Então, como consta nos vídeos aí, a gente chegou já se apresentando. Você vê que eu mesmo mostro minha cara porque eu não sou bandido, mano. Nossa atitude não era de bandido, então não tenho porque me esconder. Então a gente se apresentou para ela já sabendo o número do quarto do Luan e tal, onde ele tava.
- Alguém tentou parar ou impedir vocês de entrarem?
— A gente se identificou, que era torcida do Corinthians, que a gente não era bandido, assim como o segurança também. Ele já se apresentou e a gente já falou também que podia ficar tranquilo, e até acompanhar e ver como ia ser a conduta da coisa. E foi assim que aconteceu.
- Ele (o segurança) chegou a acompanhar vocês até o quarto onde o Luan estava?
— Na verdade, eu não sei, porque eu fui para dentro do quarto, mas é bem provável que ele acompanhou tudo, né, mano? O desdobramento, uma vez que foi uma gritaria só. Eu posso aproveitar e pedir desculpa para os outros casais que estavam lá, né? Que a gente interrompeu, mas vida que segue.
- Quando vocês entram no quarto, como estava o lugar?
— Quando a gente chegou na recepção e se apresentou, eu já olhei o monitor do motel e vi que o quarto com o Suíte 45 estava ocupado por mais pessoas. Então, quando a gente subiu, estava o Luan e mais três homens, umas cinco mulheres, com aquelas luzes de balada e tal. A gente pediu para acender a luz e parar o som, que acabou a festa. A gente não é a Polícia Militar que para o baile funk, mas a gente vai dar a ordem para o Luan se apresentar.
- Vocês abriram ou quebraram a porta para conseguir entrar?
— A porta estava aberta, é uma coisa que deixo bem claro que todas as instâncias: todas as portas abertas, tanto do motel quanto do quarto, estavam abertas. A gente não precisou quebrar nada, invadir nada, a perícia foi lá e já viu isso. A gente apenas pediu educadamente para o Luan se apresentar ao Parque São Jorge e pedir sua rescisão. Foi isso que a gente pediu.
- Quando o Luan aparece, qual foi a reação dele ao ver vocês?
— Bom, na verdade, ali eu me preocupei com vida dele, né? Tava num estado tão de loucura que, fiquei com medo do pior, dele morrer na nossa mão. Então, tudo aquilo que tem no vídeo, com eu abraçando ele, na verdade, eu tô protegendo ele, mano. Olha que louco isso. Ele tava dois dias no motel trancado, com várias garrafas de uísque, e algumas coisas a mais. Vai esperar o quê? Tava desde domingo. Ele até tentou falar algumas coisas, mas não tinha condição nenhuma.
- Os amigos do Luan que estavam lá tentaram impedir vocês?
— Eles resistiram. Impediram para gente não ter acesso, mas foi sem sucesso.
- No vídeo, vocês aparecem puxando o Luan, falando para ele sair do Corinthians. Em nenhum momento ele demonstra reação, o que ele responde ali para vocês?
— Ele fala que vai sair sim, dentro do estado alcoolizado que ele se encontrava.
- Os amigos do Luan falaram que vocês estavam armados. O que acontece depois do que o vídeo mostra?
— Bom, a gente saiu do motel, e deixamos eles lá. Assim que a gente saiu do motel, a gente entrou no carro, a polícia veio e nos abordou na frente do motel, onde tem imagens da qual a polícia revistou o carro, nos revistou e não identificou arma nenhuma. Então toda essa acusação deles já cai por terra por si só, através da Polícia Militar, não sou que eu estou falando.
- A abordagem foi antes da foto que vocês tiraram na lanchonete?
— Isso, antes. Uma vez que as recepcionistas chamaram a polícia, que é o trabalho delas, e está tudo bem. A polícia nos abordou e perguntou se a gente era a “tropa do motel Caribe”. A gente falou que sim e eles nos revistaram, e não encontraram nada. A gente foi liberado porque naquele momento nenhuma das pessoas que estavam no quatro queriam fazer o boletim de ocorrência, e sendo assim, eles nos liberaram.
— Então a acusação posterior deles, da arma, cai por terra. Uma porque a gente não precisa disso, outra porque a gente não estava mesmo, e outra que nas imagens de dentro do motel mostra a gente circulando, mas não mostra a arma. E a Polícia Militar nos abordou e confirmou que não, então a acusação cai por terra.
- Como que foi o processo da acusação, vocês foram chamados para depor?
— Sim, a gente foi chamado. A gente fez o nosso depoimento, alegamos motivos e tudo mais, mas bem tranquilos porque, enfim, a gente não foi lá para roubar, não foi para matar ninguém. Pelo contrário, né? Quando a gente entendeu aquela situação, daquele estado dele, ele mesmo tá se matando, né? Então não era a gente que iria fazer isso. Então a gente foi tranquilo, sabendo que não foi para roubar nada, não quebramos nada, não invadimos nada.
- Por que você acha que o Luan retirou a queixa-crime? O que levou ele a desistir do processo, sendo que ele na hora falou que foi agredido, que foi ameaçado de morte?
— Ele retirou por um simples fato: quem tá com a consciência pesada é ele, não nós. É o que falei para ele, né, mano? Pega todo o dinheiro dele, que vai com ele no caixão dele, mano. Ninguém quer saber desse dinheiro dele sujo. Que fique tudo pra ele, mano. Agora se ele não é digno de fazer aquilo que milhões de trabalhadores fazem, que é ter responsabilidade, mano, então da licença, mano.
- O Luan tentou subornar vocês com dinheiro?
— Não.
- Vocês chegaram a encontrar com Luan durante o processo, ou com algum estaff?
— Para a minha felicidade, não. Não encontrei, para a minha felicidade, mano. Óbvio que fui na arena (jogo com o Grêmio) e tudo mais depois, mas isso é outro ponto. Não (encontrou o Luan), porque também a gente tem uma vida social, não vive atrás, caçando jogador, caça fantasmas.
— Mas ele é de um futebol onde só se cria jogador escroto, né, mano? Alguém precisa ser exemplo e é ele. Foi ele, não pela balada, porque milhões de jogadores vão para a balada, mas a questão é essa. A questão é falta de comprometimento mesmo, de responsabilidade, pelo que ele ganha, então, mano, aí aumenta. Se ele tivesse pelo menos indo treinar, né? Nem treinar o cara tava indo, ia brincar lá, não tinha comprometimento.
- Muito se falou sobre o Luan ser corintiano desde criança, isso muda alguma coisa?
— Os Gaviões da Fiel nasceram com qual propósito? Para combater, fiscalizar e apoiar, mas principalmente para combater e fiscalizar uma ditadura interna no Corinthians, mano, da qual um corintiano tava promovendo, mano. Então a ideia aqui não é se é corintiano ou não, a ideia aqui é se quer explorar ou não.
— Tem um monte de torcedor que nos explora, mano. Um monte de blogueiro aí, que quer andar de avião e aí faz o que, quer ganhar a vida usando a nossa pauta e o nosso amor, explorando isso. E a Fiel não cobra nada disso. Quer ganhar seu dinheiro, ganha. Só que reverte isso e leva uns dois corintianos que nunca foram no estádio e paga o ingresso, já que você ta ganhando um monte de visualização. Faz o mínimo.
As últimas atualizações do caso do Luan e dos torcedores
Após rescindir o contrato com o Corinthians, Luan retornou para Grêmio. Na última quarta-feira (18), o jogador desistiu do processo e retirou a queixa-crime contra torcedores do Timão que estiveram no motel. Com isso, o inquérito foi arquivado, já que para ter continuidade no processo a vítima precisa continuar com a representação. As outras pessoas que estavam no quarto com Luan tomaram a mesma decisão do jogador.
Vinte dias depois do ocorrido na zona oeste da cidade de São Paulo, o meia rescindiu o contrato com o Timão. Luan foi comprado pelo Corinthians em 2019, por R$ 29 milhões, em quatro temporadas, atuou em 78 jogos, marcou apenas nove gols. Ele já estava sem atuar com a camisa alvinegra desde 19 de fevereiro de 2022, no empate por 1 a 1 com o Botafogo-SP, pelo Campeonato Paulista. Antes da sua saída em definitivo, o jogador foi emprestado ao Santos no meio do caminho.