A operação do Corinthians em combate ao cambismo após denúncias
Clube submeterá solicitações e retiradas de ingressos à diretoria e se compromete a intensificar o monitoramento de vendedores e origem de bilhetes irregulares

A atuação de cambistas nos jogos do Corinthians como mandante é investigada pela Polícia Civil e Ministério Público de São Paulo. A apuração dos órgãos de Justiça é resultado de uma série de denúncias que ocorrem desde o início do ano passado, período em que coincide com o começo da atual administração, presidida por Augusto Melo.
A medida que os associados relatam dificuldade cada vez maior em adquirir ingressos para partidas do Timão na Neo Química Arena, a comercialização paralela é identificada em quantidade mais elevada. De acordo com uma publicação do “ge”, os cambistas são abastecidos de três formas: sócios-torcedores, conselheiros de contas online do próprio clube.
Nesta quarta-feira (19), dia seguinte à reportagem, o Corinthians anunciou o início de uma ação em combate ao cambismo nos jogos em casa.
Com o nome de “Operação Ingresso Legal”, a ação estratégica tem o intuito de:
- Submeter e justificar à diretoria todas as solicitações de ingressos através dos logins ativos;
- Intensificação do monitoramento da origem dos ingressos vendidos irregularmente;
- Através da identificação, punição aos responsáveis por emitirem os bilhetes de forma ilícita.
Medida é paliativa até implementação do reconhecimento facial
Mesmo com a “Operação Ingresso Legal”, o Corinthians entende que a melhor medida para coibir as ações dos cambistas é a implementação do reconhecimento facial para a autorização das entradas no estádio.
Por lei, o Timão tem até junho para inserir a tecnologia na Neo Química Arena.
Em nota, o clube afirma que “estudos avançados já estão em andamento”. A previsão é que o sistema opere em junho, dentro do limite legal.
No entanto, o ex-chefe do departamento de Tecnologia da Informação rebate a afirmação da diretoria corintiana.
Marcelo Munhoes, que ocupou o cargo até janeiro de 2025, afirma que o Corinthians está adiando a contratação da empresa responsável por implementar a biometria facial.
– Esse é um projeto que não sai do dia para a noite, precisa instalar equipamentos, fazer ajustes, fazer testes pilotos com setores, até que a gente consiga ter segurança e colocar para a arena como um todo. A gente precisava já ter começado, nosso objetivo era ter começado em outubro de 2024. Mas, como havia indefinição de quem seria o fornecedor, isso foi postergado – disse Munhoes ao “ge”.
Temeroso de não possuir tempo hábil para implementar o sistema de reconhecimento facial dentro do período legal, Marcelo relata que assumiu a frente da situação e negociou o contrato com uma empresa que já atuava no clube.
De acordo com a reportagem do “ge”, a firma em questão é a “Ligatech”, que cuida dos acessos e catracas da Neo Química Arena.
Porém, segundo o ex-funcionário, ele foi demitido no dia seguinte em que informou o fechamento do acordo em reunião. O negócio também foi desfeito.

O Corinthians rebateu as alegações de Marcelo Munhos através de nota oficial publicada pelo clube após o presidente Augusto Melo retornar do Paraguai, onde participou de evento promovido pela Conmebol no sorteio das fases de grupos da Libertadores e Sul-Americana.
– O ex-funcionário da área de TI participou de reuniões com a diretoria e estava ciente das discussões sobre melhorias no programa. Em nenhum momento, enquanto esteve no Clube, ele manifestou publicamente as alegações que agora apresenta – disse o Timão em um trecho do comunicado.
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Ingressos de cambistas chegaram até a conta de ídolo do Corinthians
Os ingressos para os jogos do Corinthians como mandante são vendidos desde as datas anteriores aos eventos, através de redes sociais e grupos de WhatsApp.
Por exemplo, já há comercialização paralela das entradas para a final do Campeonato Paulista, contra o Palmeiras, no dia 27 de março. Porém, o clube ainda sequer abriu a venda oficial.
A negociação no mercado irregular é feita diretamente com os cambistas, que também atuam nos arredores da Neo Química Arena nos dias das partidas.
Eles ficam próximos aos portões, já dentro do estacionamento do estádio, e anunciam a posse dos ingressos sem o menor pudor.
O rastreamento feito pelo “ge” levou a uma das entradas irregulares ao nome de Antônio José da Silva Filho, o ex-jogador e ídolo corintiano Biro-Biro. Atualmente, ele também ocupa a função de conselheiro do clube.

– Como conselheiro, a gente tem direito a comprar quatro ingressos (com desconto, além de um de cortesia). Meu filho compra e passa para o pessoal da família que vai. Às vezes a gente pega dois e passa dois – disse Biro-Biro ao “ge”.
O ingresso foi vendido por Ligia Gregorio Rocha, que o ex-jogador diz desconhecer.
Ligia, por sua vez, nega ser cambista e afirma que possui amigos que em algumas ocasiões revendem ingressos que sobram.