Brasil

Corinthians: É muito bom de assistir, mas a formação do time mostra porque virou ‘retrô’

A pausa para o Mundial de Clubes pode ser benéfica para Ramón Díaz encontrar uma forma de seu esquema tático voltar a funcionar

Com a combinação de ausência de regulamento de fair play financeiro no futebol brasileiro mais a novidade da pausa do Campeonato Brasileiro em junho, podemos concluir que o grande beneficiário seja o Corinthians?

O campo, como sempre, vai falar. Mas motivos para otimismo, o corinthiano tem. Gastando dinheiro de não se sabe onde, o clube terminou a temporada passada com um time bem interessante, capaz em pouco tempo de transformar uma luta contra o rebaixamento em uma busca bem-sucedida para ganhar uma vaga na Libertadores.

Agora está chegando o momento de desgaste. Mata-mata do Paulistão, jogos decisivos na Libertadores e, logo ali, o Campeonato Brasileiro junto com a fase de grupos de um torneio continental, seja Libertadores, seja Sul-Americana. O time vai sentir, os jogadores-chave vão sofrer. Mas daqui a pouco mais de três meses vai ter uma pausa.

E enquanto Botafogo, Fluminense, Flamengo e Palmeiras (para colocar os quatro na sequência correta de campeões da Libertadores) estarão suando em bicos disputando o Mundial de Clubes no verão dos Estados Unidos, o Corinthians vai ter um tempo para descansar, recuperar e encher o tanque com gás para o segundo semestre.

Corinthians pode aproveitar pausa do Mundial para fazer esquema funcionar de novo

Essa pausa — que dura um mês — parece boa para o Corinthians. Trata-se de uma novidade capaz de ajudar um time quase retrô. Hoje em dia, não é tão comum ver um time atuando com uma dupla de atacantes mais um camisa 10 — sei, sei, já virou 8!

Quando funciona — e, nos últimos meses, vem funcionando bastante — é uma delícia assistir o Memphis combinando com o Yuri Alberto, e o Garro munindo os dois. Dá pena não ver mais times jogando assim.

Mas quando não funciona tanto, serve como uma lembrança, uma explicação da raridade dessa formação. Fica difícil cobrir o campo com dois atacantes e um dez atuando como o topo de um losango no meio. O adversário consegue achar muito espaço nos lados.

Ramón Díaz sentiu isso na pele no ano passado contra o Racing na Sul-Americana. O time dele ficou tão vulnerável nos flancos que, no jogo da volta na Argentina, durante a partida, foi obrigado a abrir mão do sistema e do Garro para colocar o time num 4-3-3.

Racing Corinthians Sulamericana 2024
Falha defensiva do Corinthians em cobrança de lateral do Racing gerou gol de Quintero que eliminou o Timão da Sul-Americana (Foto: IMAGO / Fotobaires)

E logo depois da eliminação, para o confronto doméstico chave com o Palmeiras, repensou o time, e decidiu que contra um adversário tão qualificado, a melhor maneira de manter dois atacantes e um dez foi botar uma linha de três zagueiros. Aí, com alas fazendo os lados e dois volantes dando proteção, deu para ter os seus três talentos juntos.

Pode até ser que o Díaz esteja pensando de uma forma semelhante agora — porque o susto de quarta-feira foi grande. Ninguém imaginava que o Universidad Central de Venezuela ia para São Paulo para causar tantos problemas para a defesa corinthiana. Incomodou bastante, especialmente atacando o espaço nos lados.

E o próximo adversário na Libertadores parece bem qualificado para fazer a mesma coisa, só que com mais perigo. O time atual do Barcelona de Guayaquil não parece tão perigoso quanto o semifinalista de 2017 e 21. Mas tem argumentos, especialmente nos lados.

Janner Corozo disputa bola do Gustavo Gómez na Libertadores de 2023
Janner Corozo disputa bola do Gustavo Gómez na Libertadores de 2023 (Foto: Icon sport)

A ameaça maior se chama Janner Corozo, que pode atuar em ambos flancos. O time vai procurá-lo com lançamentos longos em diagonal, e ele vai se divertir correndo em velocidade na direção do gol de Hugo Souza.

O Corinthians é favorito — mas bem menos que contra os venezuelanos, e olha bem o que aconteceu ali! Tem ventos a favor do Corinthians neste ano.  Memphis, Yuri Alberto e Garro são garantia de momentos memoráveis. Mas Ramón Díaz vai ter que organizar bem os outros oito.

Foto de Tim Vickery

Tim VickeryColaborador

Tim Vickery cobre futebol sul-americano para a BBC e para a revista World Soccer desde 1997, além de escrever para ESPN e aparecer semanalmente no programa Redação SporTV. Foi declarado Mestre de Jornalismo pela Comunique-se e, de vez em quando, fica olhando para o prêmio na tentativa de esquecer os últimos anos do Tottenham Hotspur.
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