Contra o ferrolho paraguaio, Brasil teve que mostrar repertório. E mostrou

Arce não trouxe o Paraguai a Itaquera para atacar o Brasil. Seria loucura fazer isso. Fechou-se, esperou os erros do adversário e deu várias pancadas, principalmente em Neymar. Contra um time que se defendeu muito bem, a equipe de Tite teve que mostrar repertório. Ser criativo. Inventar. E mais esse teste foi muito bem superado. Destacaram-se na vitória por 3 a 0 a qualidade e a beleza dos gols marcados pelos donos da casa, principalmente aqueles que saíram em jogadas coletivas muito bem trabalhadas.
LEIA MAIS: Há 60 anos, um dos maiores shows pela Seleção: Os cinco gols de Evaristo contra a Colômbia
Antes de abrir o placar, o Brasil havia levado perigo a Antony Silva apenas na bola parada. Foi assim na cabeçada de Paulinho, no chute de longa distância de Neymar e em uma segunda cabeçada, agora de Marquinhos, na sequência de uma tentativa do camisa 10 de surpreender o goleiro. Silva fez duas boas defesas nesses lances, outra mais tranquila, e não houve nenhuma chance clara de gol.
O Paraguai estava bem fechado, até violento de vez em quando – Neymar levou três faltas antes dos dez minutos – e só ameaçou em um contra-ataque. Bola roubada no meio-campo achou González, entre os zagueiros. Na hora que o atacante paraguaio foi finalizar, no entanto, já estava pressionado por três brasileiros e bateu mascado, rente à trave de Alisson, que não precisou trabalhar na Arena Corinthians.
Ao contrário de outras partidas da ótima sequência sob o comando de Tite, as chances não saíam naturalmente contra o Paraguai. Era necessário que o Brasil tirasse algum coelho da cartola. Apropriadamente, foi Coutinho, chamado de “mágico” na Inglaterra, que fez isso: pegou a bola no meio-campo, avançou pela lateral direita e parou. Pedalou, trouxe para o meio e achou Paulinho. Recebeu de volta, passe de calcanhar do ex-corintiano, e bateu de primeira de fora da área. Detalhe: com a perna esquerda, que não costuma ser a arma utilizada para fazer seus belos gols de média e longa distância. Mas o chute foi muito bem colocado.
Coutinho passeou pela ponta direita. No segundo tempo, seu cruzamento deu origem a um chute torto de Paulinho da entrada da área. Em seguida, achou Neymar na segunda trave. O craque brasileiro se jogou para tentar o gol, mas acertou a rede pelo lado de fora e trombou no poste. Parecia machucado, mas, assim que se levantou, tranquilizou a torcida. Arrancou, driblou, entrou na área e sofreu pênalti. Ele mesmo cobrou, com paradinha para esperar Antony Silva se mexer. Silva não se mexeu. Ele bateu mal e parou nas mãos do goleiro paraguaio.
Sem problemas: poucos minutos depois, lá foi Neymar de novo pela esquerda. Saiu do próprio campo de defesa, driblou o primeiro, deu um tapa na bola para fugir do segundo e correu em direção à área. A marcação dupla, talvez com medo de virar vítima também, deu passos para trás e permitiu que Neymar avançasse. O barcelonista buscou um chute colocado no canto do goleiro, mas a bola desviou na marcação e enganou Silva. Ainda assim, grande jogada individual.
Neymar chegou a colocar outra bola na rede, mas estava impedido, em um lance confuso que, em princípio, pareceu validado, mas o árbitro acabou anulando. Logo em seguida, também pela esquerda, o camisa 10 tentou bater colocado mais uma vez e tirou tinta na trave. A chave para fechar o caixão foi novamente o lado esquerdo do ataque: Neymar para Marcelo, Marcelo para Coutinho, Coutinho para Paulinho. Paulinho, de novo de calcanhar, deixou o lateral esquerdo na cara do gol, e o toque de categoria para encobrir Silva foi a cereja no bolo de outra grande trama coletiva da equipe de Tite.
Na noite desta terça-feira, o desafio do Brasil foi abrir uma defesa muito bem fechada e, por vezes, violenta. Conseguiu unindo qualidade individual e coletiva, em três belos lances que construíram a vitória por 3 a 0. A matemática, agora, é detalhe: a Seleção estará na Rússia em 2018 e, neste momento, promete estar muito forte.