Brasil

Legião x Capital? Conheça o Clássico do Rock, que une futebol e música em Brasília

Os dois times são rivais no Candangão -- e a relação entre futebol e música criou o Clássico do Rock no Distrito Federal

Em qualquer lugar do mundo, clássico é clássico e vice-versa. Mas, longe dos Fla-Flus que lotam Maracanãs ou Gre-nais que dividem Porto Alegre, existe uma rivalidade peculiar em Brasília que une duas paixões nacionais: futebol e música.

É o caso do jogo entre Capital Clube de Futebol x Legião Futebol Clube — ou, para os mais íntimos, o Clássico do Rock.

Neste domingo (9), Corujão (apelido do Capital) e Time do Rock (apelido do Legião) se enfrentam para mais um capítulo dessa rivalidade, no Estádio JK, em Paranoá, Brasília, pela 5ª rodada do Candangão.

Temos certeza que uma série de dúvidas estão se passando pela sua cabeça ao ler essas palavras. Capital… tipo Capital Inicial? Legião… do Renato Russo? Não pode ser sério.

Sim, caro leitor, é bem sério. Nessa reportagem especial da Trivela, nós mergulhamos na realidade de dois times modestos do Distrito Federal — e seus grupos musicais homônimos — para contar mais uma história que enriquece o lado alternativo do futebol brasileiro.

Antes do futebol, vem a música

Para entender a rivalidade do Clássico do Rock, antes é preciso voltar no tempo e falar de duas grandes contribuições de Brasília para o cenário musical: a origem de Legião Urbana e Capital Inicial.

Em 1978, um jovem Renato Russo iniciou sua carreira de sucesso com uma banda chamada Aborto Elétrico, no DF, ao lado do guitarrista André Pretorius e do baterista Fê Lemos. Com algumas trocas de integrantes e desentendimentos entre Russo e Lemos, o projeto naufragou quatro anos depois.

Mesmo com períodos conturbados, isso não impediu o trio de criar alguns dos maiores hits de Legião e Capital, como “Que País É Esse?”, “Veraneio Vascaína” e “Química”. E foi em 1982, ano da separação, que sugiram duas bandas para ficar na história da música brasileira.

Com a saída de Renato Russo, os irmãos Lemos convidaram o guitarrista Loro Jones e a vocalista Heloísa Helena para integrar um novo projeto, batizado de Capital Inicial. Contudo, a cantora não durou muito no grupo e acabou substituída.

E quem recebeu a missão de empunhar os microfones da banda foi um dos fãs mais fiéis do Aborto Elétrico: Dinho Ouro Preto. Ele, aliás, era amigo pessoal de Renato Russo — que, por sua vez, não demorou para idealizar o Legião Urbana.

No mesmo ano, o ícone nacional se juntou a Marcelo Bonfá, Eduardo Paraná (hoje, Kadu Lambach) e Paulo Guimarães (o “Paulista”) para formar o fenômeno do rock. Já em 1983, Paulista e Paraná saíram para dar lugar a Dado Villas-Lobos como guitarrista, e Renato Rocha como baixista no ano seguinte.

Dali para frente, Legião e Capital romperam as fronteiras de Brasília e lançaram diversos hits que viraram sensação do Brasil. A primeira fez um tremendo sucesso até 1996, ano da morte do vocalista Renato Russo e do fim da banda. Já a segunda está na estrada e nas rádios até hoje — o grupo completou 42 anos de vida em 2024.

Como muitos dos apaixonados por música compartilham seu amor pelo futebol, dá para dizer que não é uma coincidência o surgimento de dois clubes xarás — e o berço tinha que ser no Distrito Federal.

Estádio JK, em Brasília, receberá Clássico do Rock neste domingo (Foto: Capital FC)
Estádio JK, em Brasília, receberá Clássico do Rock neste domingo (Foto: Capital FC)

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Legião e Capital são fundados: surge o Clássico do Rock

Em 2001 — cinco anos depois da morte de Renato Russo –, o Legião foi fundado em Brasília. Inicialmente, o Time do Rock surgiu como uma equipe amadora vinculada ao projeto social “Legião de Craques”, voltada para crianças de baixa renda.

O projeto não tinha nada a ver com os ex-integrantes, mas era tocado por fãs da banda. E aí a inspiração do nome não poderia ser outra. Já em 2006, o Legião se profissionalizou e começou sua trajetória no futebol do DF.

Nesse momento, o Capital já existia, mas com suas próprias características.

O Corujão foi criado em 2005 a partir da estrutura da antiga Sociedade Esportiva Maringá, também em Brasília. Apesar de ter o mesmo nome da banda, o Capital não é um tributo a Dinho e companhia. Godofredo Gonçalves, presidente do clube, confirmou a informação à Trivela:

— O Capital nasceu em homenagem à capital da República. E o Capital Inicial também! Então, pelas origens dos nomes, acabou gerando essa vinculação (do time com a banda).

As datas de fundação semelhantes, a proximidade regional e as referências a dois dos maiores patrimônios culturais do DF serviram para criar o óbvio: o Clássico do Rock. Claro que, mesmo sem vínculo com Dinho e cia., o Capital embarcou nessa.

— Como o Legião é uma homenagem ao Legião Urbana, e também existe a vinculação lá na origem das bandas, que uma deu origem à outra, se tornou o Clássico do Rock. A gente (Capital) adotou, até porque a gente gosta muito do pessoal do Capital Inicial.

A influência do rock no esporte

O esporte e a música revivem a memória cultural de Brasília graças a Capital x Legião. O jornalista Marcos Paulo Lima, subeditor do “Correio Braziliense”, também conversou exclusivamente com a Trivela para trazer detalhes de como o Clássico do Rock é abordado no Distrito Federal.

Apesar do simpático apelido, a rivalidade entre Corujão x Time do Rock não é tão aflorada como outros clássicos Brasil afora, diz Marcos. Entre os motivos por trás disso estão os desencontros dos times no Campeonato Candango.

Histórico do Clássico do Rock

  • Jogos oficiais: 7
  • Vitórias do Legião: 4
  • Vitórias do Capital: 2
  • Empates: 1

O Legião acabou de subir da segunda divisão, enquanto o Capital é o atual vice-campeão estadual. Ou seja, daí o número pequeno de encontros. Mesmo assim, os torcedores abraçaram a ideia de um Clássico do Rock e mantêm a atmosfera ligada à música — assim como os próprios clubes.

Godofredo confessou que o Corujão nunca teve um contato direto com o Capital Inicial, mas já interagiu com a banda graças a publicações nas redes sociais. O presidente do Capital se mostrou disposto a criar uma conexão mais forte com a banda:

— Já mandamos uma camisa de presente quando o Capital Inicial fez um show aqui em Brasília. A gente nem sabe se chegou (risos). Quem sabe ter eles no nosso jogo, fazendo um show de abertura. Seria muito legal!

Como o Time do Rock tem raízes profundas com o Legião Urbana, os fãs da equipe e da banda fazem questão de conservar essa associação até hoje, segundo Marcos Paulo Lima. Nos jogos, torcedores do Legião exalam o clima com músicas de Renato Russo. Só o hino do clube tem uma inspiração diferente:

— Curiosamente, o hino do clube tem uma pegada de samba e a letra não faz menção ao Legião Urbana nem ao Renato Russo.

Ouça abaixo o hino do Time do Rock — que, aparentemente, também poderia ser o Time da Marchinha de Carnaval.

Clássico em prol do Distrito Federal

Rivais dentro de campo, Legião x Capital se unem em prol do desenvolvimento da região. Assim como o Time do Rock surgiu de um projeto social, o Corujão tem um programa que atende mais de 1.000 crianças em Paranoá.

Elas treinam futebol gratuitamente, desde a iniciação esportiva até o alto desempenho. Além do esporte bretão, o Capital, em parceria com a Secretária do Esporte da cidade, incentiva vôlei, basquete, handebol, atletismo, natação e hidroginástica em outras regiões de Brasília. São mais de 18 mil alunos.

O subeditor do “Correio Braziliense” reforça que Legião e Capital são referências na formação de atletas no DF.

— Investem pesado nas categorias de base. Essa característica, aliás, é a principal intersecção entre os dois projetos esportivos. Ambos são celeiros, fortes na formação e nos torneios juvenis locais.

Afinal de contas, Legião Urbana e Capital Inicial escreveram (e tocaram) capítulos eternos para a história da cultura brasileira e representaram a imagem de Brasília em palcos importantes. Nada mais justo que o Clássico do Rock, através do esporte, tenha o mesmo objetivo.

Foto de Matheus Cristianini

Matheus CristianiniRedator

Jornalista formado pela Unesp, com passagens por Antenados no Futebol, Bolavip Brasil, Minha Torcida e Esportelândia. Na Trivela, é redator de futebol nacional e internacional.
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