Brasileirão Série A

Vasco lança bonito e importante manifesto pela liberação do público em São Januário

Com o estádio fechado para o público há 70 dias, o Vasco criou uma força-tarefa e aumentou a mobilização pela liberação de São Januário

O Vasco mostrou, nesta quinta-feira, que está unido e cada vez mais engajado e mobilizado na luta pela liberação do público em São Januário. Em uma reunião durante a tarde, o clube apresentou as medidas tomadas para tentar reverter a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que, na última quarta, manteve a proibição da presença de torcedores nos jogos do clube na Colina. Além disso, o Cruz-Maltino lançou um bonito e importante manifesto por “Justiça e Dignidade”.

Em um encontro no Salão dos Beneméritos, em São Januário, o Vasco reuniu dirigentes da Associação, da Vasco SAF, representantes de órgãos públicos e da sociedade civil, além de influencers e jornalistas, para poder abordar as questões referentes a absurda interdição do estádio, que está fechado para o público há 70 dias, desde a confusão na partida contra o Goiás, pelo Campeonato Brasileiro.

Em um rápido pronunciamento, o CEO da SAF, Lúcio Barbosa, fez um paralelo com a luta do Vasco pela inclusão dos negros no futebol e a construção de São Januário, que foi erguido com o apoio dos torcedores.

– Não é por acaso que estávamos há poucos dias comemorando os 100 anos dos Camisas Negras. São Januário tem quase 100 anos. A gente sabe que nossos avós passaram por isso, nossos pais passaram pro isso, nós estamos passando e nossos filhos vão passar. Podemos perder algumas batalhas. Mas tenho certeza que vamos vencer a guerra. E a união dos vascaínos é muito importante. E não é só de clube com SAF, clube com torcida. É de todos os vascaínos. E essa luta só teve um início, não vai ter um fim. E a gente vai continuar. Seguindo juntos vamos vencer a guerra. Estamos aqui para isso. Estamos aqui para honrar a história do Vasco – afirmou Lúcio Barbosa, antes de citar nominalmente o promotor do Ministério Público Rodrigo Terra.

– A gente confia na Justiça. Tenho certeza que o próprio senhor Rodrigo Terra vai colocar a mão na consciência. Tenho certeza que vamos ter diálogo e caminhar juntos. Vamos para a Justiça sim. Temos direito de jogar em casa. Isso que vamos perseguir e isso que vamos conseguir. Temos que sentar na mesa para conversar. Quero deixar todos confiantes que estamos trabalhando nos bastidores. A segurança dentro do estádio está organizada, já cumpre todos os requisitos para ter um jogo. Estamos organizando o entorno junto com os órgãos públicos. Estamos trabalhando com a Ferj, CBF… Temos certeza que vamos conseguir – finalizou o CEO.

Vasco tenta acordo com o MP e vai recorrer ao STJ

Desde a confusão na partida contra o Goiás, pelo Brasileiro, no fim de junho, o Vasco vem sofrendo com punições esportivas e pela justiça comum. O Vasco foi punido pelo STJD com quatro jogos sem público – já cumpridos. Além disso, uma decisão polêmica e baseada num relato preconceituoso de um juiz, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro interditou inicialmente o Estádio de São Januário para receber qualquer tipo de evento esportivo. Em seguida, a Justiça liberou o local para receber jogos, mas sem público. O clube recorreu e estava confiante de que conseguiria a liberação, mas, na última quinta, o TJ manteve a interdição para o público.

Agora, a principal linha de ação do Vasco é tentar acertar o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público. Caso isso ocorra, o processo será extinto. Mas, além disso, o clube também vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJD), em Brasília. Como parte do TAC, o clube já começou a instalação de catracas com reconhecimento biométrico em São Januário.

– (O que está faltando) É sentar para assinar o acordo. O Vasco já tinha um planejamento (implementar biometria) independente dessa ação civil pública de implementar. A gente precisa evoluir com o tempo. Era um plano e fica cada vez mais urgente. Tem capacidade, a tecnologia está aí para biometria digital e facial. Estamos prontos para assinar o TAC com o Ministério Público. É um acordo entre ambas as partes. Tendo o acordo, acaba a proibição – afirmou Gisele Cabrera, diretora jurídica da Vasco SAF.

São Januário está interditado deste a confusão na partida contra o Goiás, em junho (Foto: Divulgação/Vasco)

Vasco fala em proibição preconceituosa e discriminatória

Após a reunião e os pronunciamentos em São Januário, o Vasco publicou o “Manifesto pela Justiça e pela Dignidade”. Nele, o clube alega, com razão, que a proibição do público foi embasada em um depoimento preconceituoso e diz que os argumentos são seletivos e discriminatórios. E diz que a decisão “e não é apenas mais um golpe contra a grandeza esportiva do Vasco, mas também um ataque à sua importância social e histórica”.

Confira o manifesto do Vasco na íntegra

Em um país cujas raízes estão entrelaçadas com o racismo estrutural e outras formas de injustiça, o futebol emerge, não apenas como um espelho da sociedade, mas também como um espaço de transformação. O Vasco da Gama, com 125 anos de lutas e resistência, se posiciona novamente diante de uma adversidade que transcende as quatro linhas do campo: a negação do direito de receber vascaínas e vascaínos em nossa casa, São Januário, um estádio quase centenário, que é um bastião do futebol popular em nosso país, onde reina a perfeita integração do clube e seu povo.

Essa proibição, embasada em alegações eivadas de preconceitos, que apontam para a localização em área popular, a violência e as dificuldades de acesso como justificativas, é seletiva e discriminatória. Ignora-se, nesse contexto, que outros estádios de clubes da Série A permanecem abertos, mesmo tendo enfrentado recentes e mais gravosos problemas de segurança, inclusive no Rio de Janeiro.

O Vasco da Gama, que já em 1924 proferiu sua Resposta Histórica, recusando-se a dispensar atletas negros e de origens humildes para participar de competições, vê nessa interdição um eco daqueles tempos sombrios. A interdição prejudica, também, as comunidades da Barreira do Vasco, do Tuiuti e do Arará, partes inseparáveis da alma vascaína, cuja saúde econômica e social está atrelada à vida do clube. Temos um orgulho imenso de estarmos enraizados numa área popular da zona norte da cidade.

Este não é apenas mais um golpe contra a grandeza esportiva do Vasco, mas também um ataque à sua importância social e histórica. A injustiça perpetrada nestes tempos estranhos obriga o Vasco da Gama a lutar para jogar no Maracanã, estádio público por excelência, onde nossa história é invejável e onde nossos torcedores têm o direito de poder nos ver atuar.

Chega-se a uma inacreditável situação, em que se quer impedir o Vasco de disputar jogos em suas duas casas (São Januário e Maracanã), imputando ao clube uma desigualdade esportiva nunca vista no Brasil. O Vasco é o único clube, dentre os 20 que disputam a principal competição nacional, a estar impedido de disputar partidas em sua casa, ao lado de sua torcida, por decisão que extrapola os aspectos esportivos e o regulamento da competição.

O Vasco entra de peito aberto nesta luta. Faz parte do nosso DNA enfrentar, e não fugir dos desafios. Confiamos que o Poder Judiciário corrigirá essa discriminação, em consonância com os princípios de igualdade e justiça que devem reger nossa sociedade. Confiamos também no Ministério Público, de quem sempre fomos parceiros na busca de melhor atender os nossos torcedores.

O Vasco da Gama, sua torcida e a Barreira do Vasco, se mantêm firmes: nosso estádio pode estar interditado, mas nosso espírito e nossa voz jamais serão silenciados.

Nossa luta continua. Somos, e sempre seremos, parte intrínseca da solução para uma sociedade mais justa e igualitária. O fechamento de São Januário é um ataque à nossa casa, à nossa alma e contra tudo em que acreditamos. Cabe a essa geração de vascaínos, espalhados pelo Brasil e pelo mundo, honrar o legado de nossos fundadores caminhando juntos em defesa de nosso estádio, das nossas comunidades e de nossos ideais. Esta não é uma causa apenas do Vasco, mas de todos os desportistas e da sociedade.

Foto de Gabriel Rodrigues

Gabriel RodriguesSetorista

Jornalista formado pela UFF e com passagens, como repórter e editor, pelo LANCE!, Esporte News Mundo e Jogada10. Já trabalhou na cobertura de duas finais de Libertadores in loco. Na Trivela, é setorista do Vasco e do Botafogo.
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