Maurício Noriega: Santos deve a Pelé lutar o bom combate contra a Série B
Peixe parece que aceitou o rebaixamento como destino; Santos foi dominado pelo Cruzeiro em plena Vila Belmiro
Há derrotas que são mais doloridas. O Santos sofreu para o Cruzeiro uma dessas derrotas. No ano em que o Rei Pelé nos deixou, o time que entronizou o maior jogador de futebol de todos os tempos parece aceitar resignadamente um destino: jogar a Série B de 2024.
O Santos Futebol Clube deve a Pelé ao menos lutar o bom combate até o fim.
As causas para a crise são muitas. O Santos flerta com a tragédia ano após ano. Dirigentes amadores, negócios escusos, má gestão financeira e futebolística. A Vila Belmiro reúne material para produzir um dossiê sobre como tentar destruir uma das mais belas histórias do esporte. Mas ainda que tentem, jamais destruirão o Santos Futebol Clube. Os parceiros do Leão do Mar nos Anos Dourados do futebol brasileiro, o glorioso período entre 1959 e 1970, estão aí para provar que é possível virar o jogo. Palmeiras, Botafogo e Cruzeiro caíram e sobreviveram. O Palmeiras voltou mais forte do que nunca, o Botafogo retornou às disputas e o Cruzeiro tenta uma reconstrução.
O caso santista reúne complicações. O Santos é o maior clube grande de uma cidade pequena no mundo. Embora tenha fama planetária, o pensamento é provinciano. Como competir diante de um cenário no qual o time joga para no máximo 15 mil pessoas em seu estádio lotado, quando os rivais atuam para 40, 50 mil? Como dar as costas para sua cidade, seu estádio, sua sede e buscar novos “clientes” em outras cidades?
A gloriosa camisa branca santista entra em campo anestesiada. O desespero potencializa a incompetência. Quando este texto for publicado provavelmente o Santos terá demitido o treinador uruguaio Diego Aguirre, em busca de um salvador de plantão. O clube contrata jogadores que em situações normais não passariam pelo pedágio da Imigrantes. Os principais talentos da base são vendidos para pagar dívidas e a reposição se faz com atletas de trajetórias secundárias.
Uma rápida análise de grandes jogadores que estiveram no Santos nos últimos dez, doze anos, provoca pânico em seus torcedores e desespero nos administradores. Farei uma lista resumida: Neymar, Rodrygo, Gabriel e Bruno Henrique. O Santos arrecadou uma fortuna que deveria ter dado ao clube um colchão para eventuais turbulências. Mas a instituição vive uma tentativa desesperada de sobrevivência financeira que aponta para insolvência futebolística.
Embora deva lutar com dignidade e todas as forças para permanecer na Série A do Brasileiro, o Santos Futebol Clube tem que tocar simultaneamente uma tarefa dolorosa: planejar 2024 tendo a Série B como possibilidade concreta. É por volta de setembro e outubro que as empresas começam a fechar orçamento para o ano vindouro. O desafio é elaborar dois projetos. Um para a permanência na Série A e a montagem de um time que tire o clube do marasmo. Outro para o caso de o rebaixamento que se anuncia ser confirmado e exigir medidas drásticas para ajustar o clube a uma era de menos dinheiro com a obrigação de retornar rapidamente à elite.
Acreditar no sal grosso e nas rezas para todos os santos não resolverá o dilema.