Qual é o estado emocional do Santos para a sua grande decisão neste Campeonato Brasileiro?
Para vencer o Fortaleza e permanecer na elite do Campeonato Brasileiro, Santos precisa controlar o estado emocional

O último capítulo da luta do Santos contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro está em vias de ser escrito. Às 21h30 (horário de Brasília) desta quarta-feira (6), o Peixe recebe o Fortaleza, na Vila Belmiro, em partida válida pela última rodada da competição. Dependendo apenas de si para permanecer na elite do futebol nacional, uma simples vitória coloca fim em todo o sofrimento do torcedor santista, que, ainda na semana passada, esgotou todos os ingressos colocados à venda. Mas qual é o estado emocional do elenco alvinegro para essa partida?
Para entender aquilo que passa pela cabeça dos jogadores às vésperas de um confronto tão importante, a Trivela conversou com Alberto Filgueiras, professor sênior do Departamento de Psicologia da Universidade de Gloucestershire, no sudoeste da Inglaterra, e que foi psicólogo do Flamengo e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), além de ter trabalhado com diversos esportistas de diferentes modalidades.
INGRESSOS ESGOTADOS! ⚪️⚫️
Todos os ingressos para o #SANxFOR, pela última rodada do #Brasileirão, estão esgotados! Valeu, nação santista! pic.twitter.com/0stDiQGQku
— Santos FC (@SantosFC) November 30, 2023
Santos precisa encarar a situação como um desafio
De acordo com o especialista, a forma como os jogadores do Santos estão encarando o confronto contra o Fortaleza definirá a postura da equipe assim que o árbitro Leandro Pedro Vuaden apitar o início do jogo.
– A verdade é que o equilíbrio emocional dos atletas depende de como a situação está sendo conduzida internamente. Os jogadores fazem contas e tentam identificar todas as possibilidades existentes de permanência e de rebaixamento. Se tudo estiver sendo encarado como um grande desafio, isso é positivo, porque os jogadores podem se motivar a superar esse desafio e buscar a vitória que mantém o Santos na Série A. Caso esteja sendo analisado como um risco, é negativo, porque o risco move o medo, e o medo pode ser perigoso, porque afeta a performance do atleta – fala o psicólogo.
– A forma adequada de como a situação tem que ser conduzida precisa começar na comissão técnica e diretoria. Se a diretoria estiver criando um clima pesado, alertando sobre os riscos de os jogadores ficarem marcados como os primeiros da história a rebaixarem o Santos, isso deixará os atletas com medo. Mas, se o clima for de apoio, o ambiente fica positivo e o elenco tem mais chances de surfar nessa onda. Então, esse primeiro passo, essa transmissão de confiança, precisa ser dado pela diretoria e comissão técnica – acrescenta Filgueiras.
Apoio da torcida é essencial para o Santos
Desde que o Santos se viu acorrentado ao fantasma do rebaixamento, a torcida firmou um acordo com os jogadores de total apoio. Independentemente dos resultados, os torcedores optaram por permanecer ao lado do elenco até o fim do Brasileirão para, juntos, alcançarem o objetivo. Saber que terão esse apoio, segundo o psicólogo, é de extrema importância para os atletas.
– Os jogadores sabem que a torcida está ali na arquibancada pela camisa do Santos e pelo clube. Mas ter o conhecimento de que os torcedores vão apoiar o jogo inteiro, dá uma tranquilidade para o time. O atleta precisa se sentir seguro. Ele precisa saber que pode arriscar uma jogada ou uma finalização e que não será perseguido. Por outro lado, qualquer preocupação que lhe tire a coragem de tentar tende a fazê-lo performar mal. Tende a afetar o seu rendimento. Pensar que diante de uma derrota ou um rebaixamento ele pode ser agredido, é um problema. Se casos de violência contra jogadores for uma realidade do clube, isso pode afetar o rendimento do elenco. Aliás, sempre ressalto isso. Todo e qualquer tipo de agressão física da torcida é sempre um tiro pé, porque o jogador fica acuado – diz Filgueiras.
Medo do rebaixamento pode tirar o ímpeto do Santos
Assim como em todos os outros clubes do futebol brasileiro, a possibilidade de protestos da torcida diante de um hipotético rebaixamento é outro ponto salientado pelo psicólogo.
– Existe um ditado no futebol que diz: ‘O medo de perder tira a vontade de ganhar'. E isso é verdade. A literatura científica confirma isso. Quando os jogadores pensam em todas as consequências que a derrota, nesse caso específico do Santos, pode trazer, ele foca em uma única possibilidade que é: ‘não podemos perder esse jogo'. E esse é o primeiro passo para derrota. O maior desafio do Santos contra o Fortaleza será encontrar naturalidade para jogar em busca da vitória. Do contrário, os jogadores vão ser menos ousados e irão se retrair -, comenta Filgueiras.
Santos pode ir a campo com empate na mente
O fato de o rebaixamento do Santos, em caso de derrota ou empate com o Fortaleza, também depender dos resultados de Vasco ou Bahia, traz um pouco de alívio para a torcida santista. Mas isso, na opinião do psicólogo do esporte, não é positivo para a postura dos jogadores do Santos.
– Saber que outros resultados podem favorecer o Santos neste momento é ruim, porque reforça a ideia de jogar para não perder. Esse pensamento é muito comum entre atletas de nível mediano. A possibilidade de eles irem a campo com o discurso de ‘não podemos perder o jogo… vamos segurar o máximo que puder' é grande. A mentalidade tinha que ser de buscar a vitória. Mas a realidade dos fatos pode contribuir para eles tentarem segurar o empate – conclui o especialista.
Situação na tabela do Brasileirão
Com 43 pontos conquistados, o Santos chega à 38ª rodada do Brasileiro na 15ª posição. Concorrendo pela permanência na Série A aparecem o Vasco, com 42, na 16ª, e o Bahia, com 41, na 17ª e abrindo o Z4.
Em caso de derrota ou empate contra o Fortaleza, o Peixe terá que torcer por novos tropeços de vascaínos ou baianos, ambos jogando em casa, contra o Red Bull Bragantino e Atlético-MG, respectivamente.