Palmeiras tem história no Brinco de Ouro, casa, literalmente, de muitos craques
Alviverde recolhe os cacos de suas duas eliminações no célebre estádio do interior de São Paulo
A expressão “Celeiro de Craques” é usada com frequência no futebol. Mas poucos lugares podem ostentar tal título com tanta propriedade quanto o Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas.
E é lá que o Palmeiras vai começar a colher os cacos de suas precoces eliminações na Copa Libertadores e na Copa do Brasil. Mais do que isso, é onde iniciará uma campanha que será histórica, em busca do tricampeonato brasileiro consecutivo. Que, dadas as circunstâncias, ganhou contornos de quase obrigação.
Palco do Palmeiras x Cuiabá deste sábado (24), pelo Campeonato Brasileiro, a arena do Guarani foi moradia de diversos jogadores de destaque, nos alojamentos localizados sob as arquibancadas, ao longo dos seus 71 anos de existência completados em maio deste ano.
A lista é longa e variada. Vai de Jorge Mendonça a Amoroso. Do Craque Neto a Luizão, passando por João Paulo e Zenon, talvez o maior ídolo da história bugrina.
Brinco de Ouro criou craque histórico do Palmeiras
Para os palmeirenses, o morador do Brinco de mais importância é certamente Evair, autor do gol que muitos torcedores consideram o mais emblemático da história do clube, na final do Campeonato Paulista de 1993 — o último dos 4 a 0 sobre o Corinthians.
O atacante chegou ao Brinco para ficar com 15 anos, em 1982, em sua segunda bateria de testes no Alviverde campineiro. Na primeira, um ano antes, foi aprovado, mas achou que poderia ir embora no recesso de fim de ano e acabou dispensado. No ano seguinte, voltou entendendo melhor as coisas e ficou.
Em Evair, o Matador, livro de memórias de 2017, escrito em parceria com Renato Sá, o palmeirense relata um pouco da difícil experiência de morar em um estádio a mais de 500 quilômetros de Crisólia, cidade mineira onde nasceu. Evair, aliás, além do tempo passado nas categorias de base, morou no Brinco também pelo tempo em que atuou no profissional.
— Entre amador e profissional, foram seis anos de Guarani. Sempre morando embaixo das arquibancadas. A diferença é que, no profissional, o alojamento fica do outro lado, e os quartos são individuais. Não é mais aquele salão grande com todo mundo dentro — disse.
Um bugrino por outro
Além do frio intenso no alojamento, Evair contou, no livro, que passou alguns perrengues quando morou em Campinas. Ele se lembra, por exemplo, de quando a direção do Guarani cortou o pão com manteiga, acompanhado de leite com achocolatado, que era servido à noite.
— A gente jantava. Mas, depois de treinar o dia inteiro, às 22h, já estava todo mundo com fome — relembrou-se.
Curiosamente, Evair chegou ao Palmeiras em 1991 vindo da Atalanta, como parte da negociação que levou Careca Bianchezi para o futebol italiano. Assim como Evair e o Careca mais famoso, parceiro de Maradona e titular de duas Copas pela seleção, Bianchezi também foi revelado no Guarani.
Palmeiras inaugurou Brinco e jogou final de Campeonato Brasileiro
Além das cores, Guarani e Palmeiras compartilharam muitos ídolos e outros bons jogadores ao longo da história. Evair, Jorge Mendonça, Luizão e Neto, citados acima, têm a companhia de nomes como Djalminha, Edu Dracena, Martinez, Gustavo Scarpa, Edilson Capetinha e, do elenco atual, Gabriel Menino e Richard Ríos na lista.
O Palmeiras também está gravado na história do Brinco de Ouro por motivos mais e menos festivos — em especial para o Palmeiras.
No dia 31 de maio de 1953, por exemplo, o Alviverde de São Paulo encarou os anfitriões na primeira partida oficial do estádio. O Bugre venceu por 3 a 1.
Em 1978, o Palmeiras de Jorge Mendonça e Emerson Leão foi derrotado pelo Guarani de Zenon, Capitão, Careca e Bozó e viu o rival do interior levantar o único Campeonato Brasileiro de sua história.
Palmeiras tem histórico ruim no estádio do Guarani
Em 1996, com um gol de Sangaletti, o lendário Palmeiras dos 100 gols, campeão paulista naquele ano, perdeu seu único jogo da histórica campanha justamente em solo bugrino. Um ano depois, em empate por 3 a 3, também no Estadual, levou um gol de cabeça do goleiro Hiran.
Na última vez que jogou uma partida decisiva por lá, o Verdão também se deu mal. Nas quartas do Paulista de 2012, comandado por Felipão, o time foi derrotado por 3 a 2. Fumagalli e Fabinho (2) anotaram pelo Guarani. Marcos Assunção e o zagueiro Henrique descontaram.
Em 78 partidas no Brinco de Ouro, o Palmeiras conseguiu 26 vitórias, 22 empates e 30 derrotas — 42,7% de aproveitamento. Com Abel Ferreira, o Verdão só atuou por lá duas vezes.
No Paulista de 2021, venceu por 2 a 1: Matheus Ludke (contra) e Willian Bigode fizeram para o Palmeiras. No Estadual do ano passado, empatou por 0 a 0.