Brasileirão Série A

Palmeiras decidir Brasileirão sem o Allianz é absurdo e expõe falta de parceria entre WTorre e clube

Abel Ferreira reclamou publicamente de o Palmeiras ter de jogar reta final do Campeonato Brasileiro longe de casa

O Palmeiras tem, no papel, o melhor modelo de negócio entre todos os estádios do Brasil em muitos aspectos. E, até por isso, não faz sentido o clube alviverde ter de jogar suas últimas e decisivas partidas do Campeonato Brasileiro na desatualizada Arena Barueri.

Abel não mediu palavras sobre o tema, após a vitória sobre o Athletico-PR, no sábado (4).

– Não estamos a jogar só contra os nossos adversários, mas sair da nossa casa… Agradeço aos 17 mil que estiveram aqui. Mas na nossa casa ‘metemos' 40 (mil), 42 (mil)… O barulho não foge, fica tudo ali dentro do ‘chiqueiro'. Com todo respeito, esse não é o chiqueiro que eu me sinto confortável, nem nos bancos me sinto confortável. Não é minha casa – disse o técnico.

A tabela do Campeonato Brasileiro não vem sendo publicada pela CBF no timing adequado, tampouco seguida da maneira correta. A flexibilização quanto ao cumprimento se tornou aceitável na pandemia de covid e virou “relaxo” depois do fim da crise. Mas que as últimas rodadas deste ano caíriam em novembro e começo de dezembro, já era sabido há mais de um ano.

Não existe justificativa para haver 14 shows entre 4 de novembro e 2 de dezembro na casa do Palmeiras que não a falta de sintonia e parceria entre o clube e a Real Arenas, o braço da WTorre que administra a concessão. Se é que um acordo que permite este tipo de falta de cuidado de uma parte para com a outra pode ser chamado de parceria.

Brazil Serie A 27/11/24

D

Botafogo

Botafogo

3

Palmeiras

Palmeiras

1

Brazil Serie A 23/11/24

V

Atletico GO

Atletico GO

0

Palmeiras

Palmeiras

1

Brazil Serie A 20/11/24

V

EC Bahia

EC Bahia

1

Palmeiras

Palmeiras

2

Brazil Serie A 09/11/24

V

Gremio

Gremio

0

Palmeiras

Palmeiras

1

Brazil Serie A 04/11/24

D

Corinthians

Corinthians

2

Palmeiras

Palmeiras

0

Ninguém foi forçado a assinar

O próprio ex-presidente palmeirense Luiz Gonzaga Belluzzo, o grande idealizador e negociador do projeto pelo lado do Palmeiras, reconhece que o contrato é leonino a favor do clube.

Sem investir capital, cedendo exploração parcial do local, o Palmeiras ganhou um estádio ultramoderno, reformas no clube social e fica com a totalidade das rendas dos jogos e percentuais de rendas adicionais. Mas isso não significa que a construtora tenha então o direito de reaver uma contrapartida na marra.

Até porque, nenhuma das partes foi forçada a assinar o acordo, ainda que pese o fato de o contrato ter sido celebrado com desacordo em relação ao número de cadeiras que a construtora poderia comercializar dentro de seu Passaporte Allianz – o caso que deu origem ao processo de arbitragem.

Não bastasse deixar de fazer os devidos repasses percentuais ao Palmeiras – 5% entre 2015 e 2020; 10% desde então – a construtora simplesmente decidiu esquecer que o time joga no local.

O contrato de fato dá prerrogativa à empresa na seleção das datas. Faz parte do acerto entre as partes, que diante disso, já nem parece tão leonino. Mas se houvesse o mínimo de afinidade na relação entre Palmeiras e WTorre, a companhia ia ter o cuidado de não deixar o clube desalojado em um momento tão decisivo.

Os palmeirenses, afinal, são os maiores clientes da arena. Sem o ticket médio dos torcedores, que consomem aos montes nos bares, lojas e restaurantes do Allianz nos dias de jogos, o empreendimento não fica de pé.

Lembrando, mais uma vez, que a Wtorre embolsa, desde a inauguração do estádio, em novembro de 2014, o percentual que deveria ser repassado ao Palmeiras dessas rendas adicionais.

Revanchismo corporativo?

Quando revelou publicamente que a Wtorre não fazia os devidos repasses ao Palmeiras, em maio, a presidente Leila Pereira expôs uma situação de que seu clube era vítima, num imbróglio iniciado por conta da implantação do reconhecimento facial.

Todos que entrarem no estádio, incluindo os clientes do Passaporte Allianz da Real Arenas, teriam que passar por reconhecimento facial a partir de maio deste ano – algo que a administradora não queria ter de fazer naquele momento. Na troca pública de farpas, Leila revelou a dívida.

Pelos cálculos do Palmeiras confessados pela WTorre, o calote ao Verdão ultrapassa R$ 127 milhões. Em resposta à exposição negativa, a WTorre emitiu um comunicado dizendo que trataria o assunto nos “fóruns adequados”.

Assim, nem é de se espantar que não exista boa-vontade da Real Arenas com o clube. Não que a empresa tenha, além da vergonha de ser exposta, qualquer justificativa para ir à forra com o Palmeiras, de quem, além de devedora, passou a ser uma parceira pouco coopeativa neste momento.

Sofre o time de Abel Ferreira, desconfortável como o técnico na Arena Barueri, que precisa de reformas urgentes de infraestrutura, é de difícil acesso e, acima de tudo, não é a casa do Palmeiras.

E, acima de todos, sofre o torcedor, abnegado e alheio a essa batalha corporativa, que é quem paga caro para ter o direito de empurrar seu time rumo ao título do Campeonato Brasileiro em horários ultrajantes como as 21h30 de um sábado frio.

E sim, o Palmeiras pode solicitar, com dez dias de prazo, alteração do horário de um jogo. Mas isso já é um outro problema.

Próximos jogos do Palmeiras como mandante

11/11 – Palmeiras Internacional – Arena Barueri, 21h30
29/11 – Palmeiras x América – Local e horário indefinidos
02/12 – Palmeiras x Fluminense – Local e horário indefinidos

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata LimaSetorista

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, Diego cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023.
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