Deplorável, Abel precisa abandonar personagem grosseiro no Palmeiras e aprender a dar entrevistas
Treinador deu resposta atravessada a jornalista que apenas lhe perguntou sobre a lesão de Mayke
Talvez seja caso de terapia. Mas, independentemente da solução, Abel Ferreira precisa descobri-la para abandonar de vez esse personagem grosseiro em que ele se transforma na maioria das entrevistas coletivas do Palmeiras. E que, agora, adicionou uma camada machista ao seu arsenal de grosserias.
O técnico, que já está em sua quinta temporada no futebol brasileiro, conquistou nesse período mais do que muitos treinadores conquistam em uma carreira inteira. Mas ainda não foi capaz de aprender como lidar respeitosamente com os questionamentos de jornalistas.
Em que pesem as inúmeras críticas que ele recebe constantemente, muitas com fundamento, outras tantas sem, não existe nada que possa seguir justificando arroubos sem sentido como o que ele mostrou após a vitória por 5 a 0 sobre o Cuiabá, no sábado (24), em Campinas.
Com Estêvão, Palmeiras não sente falta alguma de Raphael Veiga e Gómez https://t.co/p8fsUJSwPq via @trivela
— Diego Iwata Lima (@DiegoMarada) August 24, 2024
“Só devo satisfação a três mulheres”
A resposta dada por ele à repórter Alinne Fanelli, da Rádio Bandnews FM, já seria de uma falta de educação atroz se fosse para qualquer outro profissional. Mas soou ainda mais absurda tendo sido direcionada a uma mulher que, àquela altura, fez a pergunta mais direta e neutra da entrevista.
— Gostaria que você nos atualizasse sobre a situação do Mayke — disse ela, na sexta pergunta da sessão, indagando sobre a lesão sofrida pelo lateral, que voltava hoje a campo, justamente recuperado de uma outra contusão.
Sem qualquer senso, o técnico respondeu:
— Uma coisa que vocês precisam entender é que eu tenho que dar satisfação para três mulheres. Minha mãe, minha mulher e à Leila. São as únicas que têm direito de pedir explicações.
Presente na entrevista, a reportagem da Trivela, assim como os demais, ficou atônita com a resposta. Já Abel, impassível, seguiu distribuindo.
— A única coisa que eu tenho a dizer sobre esses torcedores, essa minoria, é pedir desculpa por não ser tão bom quanto esperam. Desculpa pelo Palmeiras não ganhar todos os títulos e jogos. Ao mesmo tempo que peço desculpa, quero agradecer aos torcedores, e isso no Brasil é coisa rara, que nos aplaudiram de pé depois do jogo do Flamengo e Botafogo. A eles, obrigado pelo carinho — disse ele, irônico sobre os gritos de “O Brasileiro virou obrigação”.
Dali em diante, sempre que pôde, independentemente da pergunta, o técnico buscou alfinetar a imprensa. Que, na sua visão, nunca elogia seus feitos, apenas critica seus erros — o que está longe de ser verdade.
— O problema não é o que dizem, é vocês (imprensa) darem notícia falando “os torcedores do Palmeiras…”. Que torcedores? Os que se levantaram e aplaudiram a equipe, que é raro no Brasil? Por que não fazem notícias disso e fazem sobre um comentário num blog qualquer? — disparou.
Magoado com as críticas a ele e ao Palmeiras
A Trivela apurou com pessoas ligadas ao técnico que o estopim para seu nervosismo foi a cobrança da organizada Mancha Verde. A mesma que criou a música com que ele é saudado em todos os jogos, que diz que ele é “palmeirense como a gente”.
O treinador também não digeriu bem as críticas de parte da imprensa pela dupla e precoce eliminação nas copas Libertadores e do Brasil, que parece atribuir mais ao acaso do que às péssimas partidas de seu time nos jogos de ida.
— Sabem o que é um sorteio? Sor-tei-o. Podem calhar adversários melhores e piores. E o sorteio ditou, que em 2024, para a Copa e Libertadores, no mesmo mês… Fomos a equipe com o calendário mais duro. Mas há um denominador comum: o Palmeiras sempre esteve lá — disse também, tentando diminuir o autor do questionamento.
Roubou o holofote de seus atletas, em especial de Estêvão
Com o comportamento deplorável, Abel tirou de seu time, o protagonismo, em uma noite em que tudo funcionou. Estêvão, convocado para a seleção pela primeira vez, participou dos cinco gols. Felipe Anderson fez seu primeiro pelo Palmeiras. E Maurício, mais um. Mas só se fala (mal) de Abel;
Era hora para Abel virar a página dos acontecimentos ruins do último mês e, com a alegria da goleada, mostrar que seu time está vivo pelo tricampeonato. Em vez disso, manteve no ar o clima ruim que segue rondando a Academia de Futebol.
É até compreensível que Abel fique magoado com as críticas. Mas não é aceitável que ele não perceba que também é constantemente elogiado por seus acertos. E que, acima de tudo, aprenda que lidar de maneira controlada com tais críticas, ainda que não concorde com elas, é parte de seu trabalho.
O que Abel não diz sobre o que acontece no Palmeiras?
Leia na apuração do @DiegoMarada para a Trivela: https://t.co/6NsKGW9LxB pic.twitter.com/E190BxSURa
— Trivela (@trivela) August 22, 2024
Treinador buscou contato com a repórter
A Trivela apurou com o estafe do técnico que ele procurou Alinne Fanelli para esclarecer a questão, ainda na noite de sábado. A reportagem não sabe o teor da conversa, mas já afirma que isso não basta.
Abel Ferreira tem que se desculpar publicamente com a profissional que estava apenas fazendo seu trabalho quando fez uma simples pergunta a ele.
E que ele não venha a público dizer que pede desculpas “se” ela se sentiu ofendida. Tampouco que “quem o conhece sabe”. Ou, muito menos que tem “mãe, esposa e filhas”, e que a sua chefe é uma mulher.
Por falar em chefe, aliás, viria bem a calhar que Leila Pereira, destemida como é, viesse a público dar uma reprimenda no seu funcionário, neo feminista que se anunciou recentemente.