Palmeiras: Abel admite fim de ‘todos somos um’ e revela vazamento de informações
Treinador do Palmeiras, Abel Ferreira deu entrevista de mais de meia-hora após derrota contra o Santos sobre status do clube

Em tom tranquilo e até melancólico, Abel Ferreira reconheceu que o clima no Palmeiras já não é mais o mesmo. “O todos somos um, não é assim que vejo”, disse ele, após a derrota de virada para o Santos por 2 a 1, na Arena Barueri, neste domingo (8).
— Há sinais que tem que ser lidos. Tenho certeza que todos do clube fazem o melhor que podem — afirmou.
A resposta saiu do questionamento quanto ao astral do clube, citando também as críticas da torcida à diretoria. A entrevista durou mais de meia-hora e abordou diversos temas. Como, por exemplo, o assédio recebido por ele e jogadores, e o fato de isso ter vazado para a imprensa.
— Temos alguém dentro do clube que passa todas as informações para fora. Aquela proteção que tínhamos antes não existe mais, não sei o que aconteceu.
Abel também assumiu que o elenco de hoje tem menos maturidade do que antes, como resultado de algumas saídas que não foram repostas. E que entre aqueles que deixaram o Palmeiras, alguns pediram para serem desligados por medo.
— Alguns jogadores deixaram o clube esse ano porque não aguentaram a pressão. Vieram falar comigo que suas famílias estavam sendo ameaçadas, e eu tenho que entender o lado deles. O futebol não é isso.
Nesse contexto, Abel ainda falou que pretende desligar do futebol durante a parada da Data Fifa, e que vai sugerir o mesmo aos seus jogadores.
— Vou pedir aos jogadores para desligarem a ficha do futebol e desligarem os telefones, mas acho que é impossível. Nem com as minhas filhas eu consigo. Eu chego a tirar o cabo da internet, acordo no outro dia e vejo o cabo conectado de novo — disse.
Faltou capricho na finalização
Abel atribuiu mais um resultado negativo à falta de capricho na finalização, dizendo tratar-se do mesmo problema enfrentado contra o Boca Juniors e o Red Bull Bragantino. E ainda queixou de um lance em que Flaco López teve chance de bater a gol, mas preferiu passar a bola para Gustavo Gómez, que estava impedido.
— Pena foi que o López não assumiu o lance para ele próprio, deveria ter sido egoísta. As decisões são dos jogadores… Se passam, não passam, driblam, não driblam. Mas, assim como no último jogo, eu sou o responsável — disse.
E ainda reclamou da falta de combatividade de sua defesa nos lances dos gols do Santos.
— Os gols que sofremos, com todo respeito ao Santos, foram mais ofertas nossas do que mérito do adversário. Parabéns ao Santos que ganhou e fez aquilo que não fomos capazes. Fazer dois gols — disse.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
Eliminação ainda dói
Mesmo sem ser diretamente questionado, Abel voltou a falar da eliminação diante do Boca Juniors na semifinal da Libertadores, na última quinta-feira (5). E voltou a defender suas escolhas no jogo.
— Sei que fui criticado por não usar o Endrick e o Kevin (contra o Boca). Mas sei perceber que estamos a jogar com o Boca em casa, que estamos no meio de uma eliminatória, com um lado emocional muito grande, e o jogo não se joga só em 45 minutos. O plano correu perfeitamente, metemos o Endrick, o Kevin e o Luis (Guilherme) quando tínhamos de meter. Só que, volto a referir, do outro lado estava um goleiro inspirado e uma equipe que fez tudo para não jogar e nos enervar. Na segunda parte, só jogamos 19 minutos. E nós agora temos que aguentar as críticas. Mas todas as críticas têm um limite, quando passamos à ameaça, aí temos que pensar muito bem — afirmou.
Veja o que mais Abel falou
Jogo contra o Santos e falta de pontaria
— Sabíamos que na segunda parte, íamos sofrer, porque vínhamos de uma derrota pesada, e isso ia entrar na cabeça dos jogadores. Era fundamental fazer uma primeira parte como fizemos. O capricho na finalização tem sido uma pecha. Realmente, hoje a bola bateu na trave e saiu, bateu na cabeça de um jogador e saiu.
— Tenho que ler os sinais, era um contexto difícil para nós depois de uma eliminação dura, pesada. Quando estamos a competir, não podemos sofrer gols como sofremos hoje. Mesmo o gol que sofremos contra o Boca. Quem quer ganhar títulos, não pode sofrer gols assim.
— No último jogo, segundo vocês (perdemos) porque joguei com outros jogadores. O “se' não conta. “Se” o Dudu estivesse bem, ele ia jogar. E se nó marcássemos todas as oportunidades, tínhamos ganhado. Futebol é eficácia. O Santos não precisou finalizar tanto como nós para ganhar o jogo.
Críticas
— A crítica é tão agressiva e violenta que mata os jogadores. O telefone tem coisas maravilhosas. Me ajuda a ver meus pais quase todos os dias, mas tem outras que são veneno puro. Ódio, inveja, violência.
— Eu não gosto quando idolatram. Nós não salvamos vidas. Mas quando há essa loucura, quando as coisas ocorrem bem, transformam os jogadores em deuses, treinadores em deuses, diretores em deuses. Quando perde, transformam em lixo.
— Honestamente, hoje somos vítimas do sucesso que tivemos. Agora o treinador tem que aguentar as balas, a direção tem que aguentar as balas, os jogadores têm que aguentar as balas. “As balas”, vou mudar. Tem que aguentar as críticas.