Brasileirão Série A

O guia Trivela do Campeonato Brasileiro 2020 – com jornalistas especializados nos 20 clubes

O Campeonato Brasileiro de 2020 será diferente ao que nos acostumamos nos últimos anos. A paralisação por causa da pandemia de coronavírus adiou a primeira rodada, e o torneio terminará apenas no final de fevereiro, com direito até a um Boxing Day, nos dias seguintes ao Natal. Novo calendário, novos desafios e dinâmicas.

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Os clubes, por exemplo, nunca ficaram tanto tempo parados e, agora que estão de volta à ativa, terão que correr atrás do tempo perdido com uma tabela frenética, dificuldades financeiras pela ausência de torcida e outras complicações da pandemia e uma preparação heterogênea porque os Estaduais voltaram, se é que voltaram, em momentos diferentes.

A situação merece atenção e ninguém presta mais atenção do que os profissionais com a tarefa de informar aos torcedores sobre o que acontece no dia a dia. Fizemos micro-entrevistas com setoristas ou jornalistas que acompanham de perto cada clube da Série A para o nosso guia do Brasileirão 2020.

Como foi a preparação, acidentada pela pandemia? Como a situação financeira interferiu nas contratações? Quem pinta como destaque? E quais são os principais obstáculos para uma boa campanha? Chegou a hora de descobrirmos.

Athletico Paranaense

Nikão, do Athletico

Fernando Freire (@freire88), do Globo Esporte.com

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

O Athletico usou o time titular em algumas partidas do estadual (o time de aspirantes jogou a maioria no início), além da Libertadores e da Supercopa. O time de Dorival Junior perdeu só dois dos 12 jogos, para Flamengo e Colo-Colo. Tem um aproveitamento de 66% e conquistou o título paranaense sobre o Coritiba. O time ainda precisa ser melhor testado, mas o início do trabalho do Dorival – ainda mais considerando a reformulação do elenco – é positivo.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

O Athletico perdeu vários jogadores de destaque de 2019 para cá, como Léo Pereira, Bruno Guimarães, Marcelo Cirino, Rony e Marco Ruben, além de jogadores que não eram titulares, mas ajudavam, como Madson e Thonny Anderson. Além disso, o Furacão contratou pouco no início do ano. Com isso, o clube guardou dinheiro, investiu bastante durante a paralisação do futebol e fechou com sete reforços para o Brasileirão. Destaque para nomes como Felipe Aguilar, Geuvânio e Walter, além do jovem colombiano Jaime Alvarado.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Nikão está no Athletico desde 2015 e já vinha sendo um dos grandes destaques do clube nos últimos anos. Mas, com a saída de outros jogadores importantes, ele cresceu ainda mais de produção, chamou a responsabilidade e virou o protagonista do time. Já são seis gols no ano – quatro deles depois da retomada do futebol. Mas, claro, não dá para não citar o goleiro Santos, o zagueiro Thiago Heleno e o volante Wellington, que estão jogando muito também.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

São basicamente dois desafios para o Athletico. Primeiro, conciliar Brasileirão com Libertadores e Copa do Brasil. Segundo, ajustar o time após a chegada dos sete reforços e fazer esse ajuste com a competição em andamento. O Athletico tem quase 40 jogadores. Então, peças não vão faltar para Dorival Junior. O problema é ajustá-las com jogos a cada três ou quatro dias.

Atlético Goianiense

Mancini, técnico do Atlético Goianiense

Joao Paulo di Medeiros (@jpdimedeiros), repórter de Esportes do jornal O Popular

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

Antes da pausa, o Atlético Goianiense praticava o melhor futebol do Campeonato Goiano. O clube se preparou por mais de dois meses para o Brasileirão. Durante a pausa, a diretoria atleticana contratou o técnico Vágner Mancini e poderia ter feito isso um pouco antes para garantir mais tempo de trabalho ao treinador. Nos jogos-treinos realizados, já sob supervisão do novo técnico, o Dragão mostrou a mesma vocação ofensiva dos primeiros meses da temporada. Entre os representantes goianos, o time rubro-negro entra na competição um passo a frente do rival.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

O Atlético passou os primeiros meses do ano com um elenco enxuto. Mesmo com a pandemia, a diretoria atleticana não deixou de observar o mercado e buscou peças para suprir carências detectadas. O baixo poder de investimento sempre força o Dragão a ser criativo e contratar jogadores que estão em busca de espaço. As principais contratações durante a pausa foram os meias Everton Felipe (São Paulo) e Chico (Ceará). Ainda contratou o volante Willian Maranhão e o jovem zagueiro João Victor.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

O meia Matheuzinho é um dos principais destaques técnicos do Atlético. Revelado pelo Corinthians, o jogador viveu altos e baixos pelo clube na campanha de acesso em 2019, mas se firmou no início da temporada. Outro jogador importante e que quer deslanchar na elite do futebol brasileiro é o atacante Renato Kayzer, que está emprestado ao clube pelo Cruzeiro. O goleiro Jean ganhou a titularidade durante os treinos e deve começar jogando.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

Com orçamento baixo e folha salarial modesta, o Atlético é um clube organizado e funcional. O grande desafio atleticano é fazer uma campanha mais consistente na Série A e não deixar que o lado financeiro pese e o clube perca peças ao longo da temporada. Em 2017, o Dragão sofreu com a saída do atacante Everaldo para o futebol mexicano e não conseguiu reposição à altura.

Atlético Mineiro

Atlético Mineiro na final contra o América (Foto: Atlético/Divulgação)

Mário Marra (@mariomarra), da ESPN Brasil

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

O Atlético Mineiro voltou antes. A situação da pandemia estava melhor em Vespasiano, a prefeitura liberou. Estava treinando há muito tempo. Os jogadores não estão acostumados ao trabalho do Sampaoli, então acho que o Atlético ainda está dando os primeiros passos para uma adaptação a uma filosofia diferente. A preparação foi boa, mas, se o Brasileiro começasse mês que vem, seria melhor ainda, se tivesse mais jogos do Mineiro, se ele tivesse chegado no início do ano. Vários jogadores chegaram, tem jogador que não estreou ainda. Isso compromete. E tem o Flamengo pela frente. Foi boa (a preparação) dentro do contexto, mas poderia ser melhor.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Até que não atrapalhou. O Atlético mudou o time todo. Para mim, é bem superior ao do ano passado. O Víctor não é mais o mesmo, o Rafael tem jogado bem, tem três opções de lateral. O Fabio Santos ainda pode render um pouco, mas é reserva do Arana. Tem jogadores na zaga. O Rever voltou a ser um zagueiro confiável, o que há muito tempo ele não era. O Rever tem jogado bem, talvez muito por causa do Júnior Alonso, que passa uma tranquilidade. O Sampaoli também revestiu o cara de autoridade, faixa de capitão, ele se sentiu de novo um cara útil, porque na temporada passada, ele foi horrível.

Do meio para a frente, os caras são todos bons, mas a ideia do Atlético também vai ser diferente. É o time que vai ser o dono da bola. Esses caras estão acostumados com isso? O Allan, do Fluminense, acho que foi uma ótima contratação, mas o Fluminense era uma surpresa. O Atlético vai ser cobrado por vaga na Libertadores e até título. Ele não viveu essa experiência na carreira. O (Alan) Franco era de um Del Valle também diferente. O Léo Sena não vai ser o cara que vai dar o lançamento para achar o Michael. Vai ser o cara que vai ter a bola, dominada, raciocínio rápido. Eu tenho dúvidas porque esses caras nunca viveram a proposta. A mesma coisa o Marrony. Ele se destacava jogando pelo lado, mas era um cara que voltava muito para marcar, fechava bem o lado de campo. Talvez ele tenha que ser um cara de proporcionar espaço, de movimentação na frente, jogar perto da área.

(A carência é) Um atacante de área, ainda mais com a contusão do Diego Tardelli. Tem um menino, o Bruno Silva, que dá toda a pinta que pode ser um cara interessante. Fez um gol e sentiu (lesão). Mas tem essa questão da inexperiência e talvez ele esteja percebendo que tem espaço em um time que vai disputar título. Marrony de centroavante e Bruno Silva como opção me parece abaixo do elenco e acho que, se tivesse o Tardelli pelo menos, que não queria jogar de atacante de área, mas é o Tardelli, ele resolve, poderia até fazer cara feia, mas a torcida adora, já foi artilheiro assim. Seria uma grande oportunidade de voltar a brilhar com a camisa do time em que ele sempre se deu bem. Acho que um atacante seria a contratação (que falta).

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Eu ia responder de bate pronto o Júnior Alonso, pela estabilidade que oferece à defesa, a frieza, mas acho que é o Guilherme Arana. Ele é muito bom jogador. Oferece qualidade com a bola no pé, a bola não queima com ele. Fecha bem, marca bem e, para mim, é muito bom no apoio. Dentro da ideia do Sampaoli, que até os laterais estão fechando por dentro, ele vai bem e vai bem pelo lado também. Acho que o Arana tem possibilidade de ser o principal jogador do Atlético.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

Falando de título, é o Flamengo, mas entendo também que, se o Atlético começar a liderar a competição, precisa ter muito cuidado com a pressão. Eles sentem muito a obrigação de conquistar um título (nacional) de novo. Aquele time de 2012 era melhor, com Ronaldinho, Jô, Víctor, me parecia mais preparado, e até o de 2013, que abriu mão do Brasileiro, mas em algum momento os caras sentiram. Começou a não ganhar de ninguém fora de casa. Se começar a liderar o Brasileiro, uma hora a corda aperta e é aquela história. Quando a corda aperta, ou eles reagem ou perdem. Eles vão ter que estar preparados para a pressão.

Bahia

Rodriguinho comemora o gol com companheiros de Bahia (Felipe Oliveira / EC Bahia)

Elton Serra (TVE Bahia.

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

O time praticamente não se preparou de fato. Com a volta após a paralisação, a equipe estava envolvida em duas competições, jogando, às vezes, com 24 horas de diferença entre uma partida e outra. Com o fim da equipe de transição, de aspirantes, Roger Machado acabou comandando o time nas duas competições, então acabou se preocupando com a reta final do campeonato estadual, com as finais da Copa do Nordeste. Então, não deu para pensar no Brasileirão.

Veremos um Bahia sendo uma continuidade do trabalho feito pós-paralisação, e isso é uma grande interrogação. O time voltou com uma produtividade muito abaixo do que se espera. Claro, temos as condições dos quatro meses parados, e o time perdeu um pouco o embalo. Mas é uma equipe que terá também que se recuperar de uma sequência exaustiva de partidas para iniciar esse Campeonato Brasileiro.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

O Bahia montou uma equipe no início da temporada para disputar o ano inteiro. Este já era o planejamento antes da pandemia, porque entendiam que precisavam começar em janeiro este planejamento. O Bahia, nos últimos anos, tem flertado com Libertadores, mas na reta final acaba caindo de rendimento e ficando em zona de classificação para a Sul-Americana. O objetivo é chegar à Libertadores, então a montagem da equipe foi feita no início do ano.

O clube perdeu pouca gente durante esta pandemia. Nenhum jogador daquele que é considerado o time principal saiu. Saíram alguns da sub-23, mas o Bahia mantém a base para jogar o Campeonato Brasileiro. Chegou apenas Rodriguinho como grande reforço para 2020, apesar de terem trazido alguns jogadores importantes, como Juninho Capixaba, Zeca, Jadson, Clayson, Rossi, esses dois últimos que têm sido bastante utilizados pelo Roger. Mas foi um time que basicamente foi montado antes da pausa. Pela situação atual, de pandemia, não acho que vá fazer grandes contratações para o restante da temporada.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

O Rodriguinho, sem dúvidas. Teve boas passagens pelo Corinthians, foi lá um grande destaque; no Cruzeiro, conviveu com lesões e não foi muito bem; agora, ele, que é potiguar, volta para o Nordeste, tendo sido revelado no ABC. Perdeu a Copa do Nordeste e quer fazer uma boa campanha por um clube da região. É um atleta que se preparou muito fisicamente, que se encaixou muito bem nas ideias do Roger Machado, tem jogado como segundo atacante, próximo do Gilberto. É o jogador para ser o destaque não só técnico, mas também de liderança no Bahia.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

Além da questão de ser um time que viveu momentos intensos em competições paralelas, irá conviver com a logística que dificulta bastante para os clubes do Nordeste. As viagens são mais longas, e isso pesa muito em um campeonato de pontos corridos. O Bahia ainda tem a Copa Sul-Americana para disputar em outubro, em que não conhece ainda seu adversário, embora provavelmente vá fazer uma viagem longa. Tem também esta questão da recuperação física por causa do calendário que foi encurtado, e essas viagens de meio e final de semana podem dificultar muito a recuperação de um time já desgastado. Em resumo, além da disparidade técnica decorrente da diferença econômica, a grande dificuldade do Bahia, em questão de logística, foi exacerbada pelo momento que vivemos de pandemia.

Botafogo

AeroHonda, chegada de Honda ao Rio de Janeiro no Aeroporto Galeao. 07 de Fevereiro de 2020, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Foto: Vitor Silva/Botafogo.
Imagem protegida pela Lei do Direito Autoral Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.

Thales Machado (@thalescmachado), editor de Esportes do Jornal O Globo, Jornal Extra e Revista Época 

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

Eu avalio que a preparação em campo não foi a melhor possível, e aí a gente tem de forma inédita o fator de que não é por culpa do clube. Acho que a volta do Estadual foi conduzida de forma apressada, com jogos muito em cima. E depois um hiato, principalmente para o Botafogo e para o Vasco, que não foram às finais do Estadual. Atrapalhou uma preparação que já não era ideal nos tempos de Brasileiro começando logo depois do Carioca. E, desta vez, foi menos ideal ainda. Além das dificuldades que a pandemia traz para os treinamentos, eu acho que diante desse cenário o Botafogo fez o que pôde. Conseguiu trazer alguns reforços após o Carioca e com algum tempo, não o suficiente, mas razoável para integrá-los ao time. Quem falta mesmo chegar é o Kalou. Mas o Botafogo, como muitos times, entra ainda se acertando no campeonato. Não entra como um time que não vai ter mudanças.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Eu acho que, no Botafogo, o que atrapalha não é a dificuldade nas contratações. É uma dívida profunda. Para um certo lado, o Botafogo está fazendo um esforço que é condenável. Afinal, é um clube com quase um bilhão em dívidas e que tem dificuldades no dia a dia não só para pagar seus jogadores, que estão até com os salários mais certos, mas ainda mais para pagar os funcionários, que relataram até quatro meses de atraso. Isso confunde a questão esportiva com uma questão humana, de familiares que não estão tendo como pagar suas contas. Ainda assim, por outro lado, o Botafogo tentou se reforçar com um discurso de que precisa fazer um bom Brasileiro, ficar pelo menos ali na primeira metade da tabela, para atrair investidores à SA (Sociedade Anônima).

O Botafogo joga todas as suas fichas na SA. Um título para o Botafogo esse ano não é necessariamente chegar em primeiro no Brasileirão, o que seria até uma utopia, mas é conseguir fazer uma campanha respeitável para que esses investidores se interessem e o clube consiga se desafogar a partir do ano que vem ou quando esse projeto acontecer. As contratações foram boas, principalmente após o Carioca, mas sempre tem que saber se elas vão funcionar e o Botafogo tem que saber se elas vão encaixar mesmo dentro do orçamento, dentro daquilo que eles podem fazer.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Apesar do Botafogo ter nomes muito destacados como Honda e o Kalou, que disputaram uma Copa do Mundo, que carregam uma marca em si, eu acho que o grande candidato a destaque do Botafogo neste Campeonato Brasileiro é o Pedro Raul. É um atacante que chegou do Atlético Goianiense bem no começo da temporada e desde o começo, tanto antes da parada da pandemia quanto depois, se destaca muito. Ele é um bom centroavante, bom de cabeça, finaliza com precisão. É aquele tipo de atacante que nem finaliza tanto quanto a maioria, mas faz muito gol e tem sido um destaque nesse começo.

Vai ser um desafio entender se o Kalou, com 35 anos consegue jogar pelo lado, para que o Pedro Raul siga na posição que vem dando certo. E o outro desafio é também segurar o ímpeto do mercado, que pode vir buscar jogadores mais baratos em clubes que precisam de dinheiro – como o Botafogo. Já tem notícias do interesse do Lille no Pedro Raul e, se o Botafogo resolver ceder a esses interesses ou precisar ceder, porque às vezes não é nem uma questão de opção na atual conjuntura, seria uma grande perda. Mais do que qualquer outro reforço que chegou, acho que o Pedro Raul pode alçar o Botafogo a voos um pouco maiores nesse campeonato.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

Acho que ninguém a quem você fizer essa pergunta vai responder outra coisa que não seja a questão financeira. O Botafogo vive uma questão financeira muito delicada, apesar das contratações. Faz esforço pra reduzir sua folha e consegue, mas o botafoguense sabe muito bem as complicações que acontecem quando os salários não são pagos. Aconteceu em 2002 no primeiro rebaixamento do time, aconteceu de novo em 2014 no segundo. E se toda essa crise, que hoje é grave em relação ao pagamento dos funcionários, passar também ao pagamento do time, acho que a tendência é todo esse projeto ir por água abaixo e o time não conseguir mesmo engrenar.

Outra coisa é o Botafogo ter que vender quase todo seu time titular se as propostas surgirem e a diretoria perceber que não dá para segurar pensando no futuro da SA, até para pagar salários e funcionários. Além do Pedro Raul, acho que o Luis Henrique é um jovem muito promissor, no qual a Juventus já se interessou.  O Botafogo estipula uma multa altíssima, mas pode ser que, se surgir uma proposta alta, mas não tão alta quanto a multa, tenha que vender. O Bruno Nazário é outro jogador bom com o qual isso pode acontecer. O Botafogo acabou de renovar o contrato com o Marcelo Benevenuto, que é um zagueiro jovem e bom também, mas, se ele se destacar e aparecer proposta, pode acabar vendendo-o. A boa notícia de fazer dinheiro com jogadores pode significar a má notícia do Botafogo não conseguir manter o time.

Você consegue pelo menos escalar Gatito no gol. Tem que entender o que vai acontecer na lateral direita, se o Marcinho vai ficar ou não. Se não for ele é o Barrandeguy, que é um uruguaio que vem fazendo bons jogos ultimamente. Benevenuto e Rafael Forster na zaga, Victor Luis (na lateral esquerda), Caio Alexandre e Honda como os dois primeiros homens de meio-campo. Luis Henrique e Bruno Nazário. E aí, Kalou pelo lado e Pedro Raul na frente.  São 11 jogadores que parecem capazes de criar um bom time. Falta banco, falta elenco, mas se o Botafogo conseguir manter esse esqueleto, pode ser mais feliz do que a maioria dos analistas pensa, de que o time só vai brigar contra o rebaixamento. Mas precisa isso: pagar e não vender, que é uma conta que não fecha.

Ceará

Ceará contra o Bahia na final da Copa do Nordeste (Foto: Divulgação/Ceará)

Fernando Graziani (@fgraziani), editor-chefe de esportes do grupo O POVO

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

A preparação começou neste ano com o Argel, mas ele foi muito mal e acabou demitido rapidamente. O Ceará então contratou o Enderson Moreira, que havia sido demitido pelo próprio Ceará no ano passado. Porém, desta vez, ele, Enderson, pediu para sair, indo para o Cruzeiro. Por fim, o clube contratou o Guto Ferreira, quando a pandemia já estava decretada e não havia treinos. Ele foi contratado à distância e permaneceu à distância, vendo vídeos, dando os treinos à distância e acompanhando o pessoal.

Ele só veio para Fortaleza quando os treinos foram retomados. Mas, efetivamente, a preparação do time em campo foi na Copa do Nordeste, em Salvador, quando os elencos dos participantes foram para lá. Em Salvador, ele acertou o time em jogos e treinos. A preparação é muito nova, recente, mas foi muito bem feita pelo Guto neste breve período.

Ele sacou três jogadores, o Felipe Baxola, o Ricardinho e o Rafael Sóbis, que vinham sendo titulares, e colocou outros três que deram muito mais vigor físico, competitividade e melhora técnica: Fernando Sobral, Cléber no ataque e, como volante, o Fabinho. Essas mudanças táticas acabaram influenciando tecnicamente o time, que passou a tomar poucos gols, passou a fazer gols e então conseguiu ser campeão da Copa do Nordeste. O time então entra com bastante confiança, com um trabalho recente, mas muito bem feito.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Diferentemente dos outros anos, o Ceará planejou começar o Campeonato Cearense com o mesmo elenco para seguir o ano inteiro. Foram, então, várias contratações no final do ano passado, e o objetivo não era reforçar o time para a Série A, e, sim, montar o elenco desde o começo.

Alguns jogadores não deram certo, outros, sim, mas não existe expectativa agora de contratações que possam mudar o patamar da equipe. Até porque, com a situação da pandemia, as receitas diminuíram muito, a perspectiva é de uma queda de receita de 30% a 40% no ano inteiro – lembrando que o Ceará tinha neste ano a perspectiva de recorde histórico de orçamento, mas não será mais possível.

Não existe expectativa pela contratação de reforços. Se acontecer, será oportunidade de mercado. Mas eles, desta vez, trabalharam de forma mais coerente e montaram um elenco para ser fixo na temporada toda. Há muitos remanescentes de temporadas passadas, e no final do ano vieram Sóbis, Prass, Cléber foi contratado em fevereiro, Charles no final do ano passado também, depois de uma Série B pelo Sport. Todo esse pessoal chegou no fim do ano de 2019.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Para mim, o Charles é o jogador de mais destaque do Ceará, em um aspecto de entrega, de custo-benefício. Claro, você tem o Fernando Prass no gol, o Luiz Otávio na zaga, o Vinícius, que está indo bem no meio de campo. Mas, como visão pessoal, o Charles é o melhor do time. É um volante com ótima saída de bola e ótimo poder de marcação. Ele faz o trabalho de intermediária a intermediária muito bem e é um jogador extremamente raçudo. Ele era do Inter, havia sido emprestado ao Sport, que, sem grana, não pode contratá-lo em definitivo, e o Ceará foi esperto. Ele é o motorzinho, dá ritmo de jogo, dá saída de bola, é bom na defesa, no jogo aéreo. Está jogando bem desde o primeiro minuto em que entrou em campo.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O maior obstáculo será a manutenção da boa fase, no sentido de não se deixar levar por resultados ruins que eventualmente possam acontecer. O Ceará entra no campeonato com um objetivo muito claro: não é só não cair, mas também brigar pela vaga na Copa Sul-Americana. Claro que, no Brasileirão, não cair é quase ficar na Sul-Americana, mas vejo o Ceará em condições muito boas – em estrutura financeira, não deve para ninguém, paga tudo em dia, tem estruturas excelentes de CT, de equipe médica, fisiológica, melhorou muito nos últimos anos. Vejo o Ceará podendo ficar entre 8º e 14º, com boas chances de buscar ser protagonista desta parte. Pela qualidade do elenco, pelo Guto, pelo trabalho sério que está sendo feito, por ser um clube sem turbulência ou dívidas, uma referência na região.

Em questão de campo, é preciso melhorar o setor ofensivo. Precisa ser mais robusto, fazer mais gols, ter uma atitude mais ofensiva. Na Copa do Nordeste, deu certo, mas na Série A é outro nível.

Corinthians

Fagner, do Corinthians (Foto: Divulgação/Corinthians)

Tomás Rosolino (Meu Timão

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

A preparação foi bem atrapalhada. O Corinthians teve o maior número de casos de Covid-19 de um clube de São Paulo. Oito jogadores começaram a treinar praticamente uma semana depois do resto do grupo. O Pedro Henrique, zagueiro titular, saiu dois ou três dias antes da reabertura do Paulista. O Richard, opção razoavelmente utilizada, saiu junto. O Jô, que hoje é o único centroavante à disposição, não deve ter feito um treino completo com o grupo. Foi inscrito na segunda-feira antes do jogo contra o Red Bull e desde então praticamente só jogou. Jogou, recuperou, jogou.

Tem falhas na preparação. O Tiago encontrou o time que ele quer, recuperou o Mateus Vital pelo lado esquerdo, tem o Luan pelo meio, Ramiro voltando, mas não é o elenco mais vasto para um Campeonato Brasileiro. Acredito que o Corinthians ainda precisaria de alguns ajustes. Não sei se contratações, mas estabelecer funções dos jogadores. Por exemplo, Everaldo era titular, saiu, ninguém sabe se vai poder contar com ele. Janderson começou como titular, mas ninguém sabe direito o papel dele no elenco. O Corinthians poderia ter mais opções no seu elenco se esses jogadores tivessem seus papéis definidos.

É o que eu vejo no Palmeiras e no São Paulo. Não que sejam grandes jogadores, mas têm seu papel bem definido no elenco e o treinador sabe quando e como contar com eles. Acho que o Tiago Nunes fará isso durante o Brasileiro e pode ser razoavelmente prejudicial. Em termos de equipe, a titular está bem montada. Acho que conseguirá alguns bons resultados porque tem uma equipe forte. Cássio, Fagner, Gil, jogadores de seleção, Jô, que jogou Copa do Mundo, Luan, que foi o melhor jogador da América. Vai conseguir resultados por causa disso, mas não acho que tenha longevidade, que conseguirá emplacar uma longa sequência.

Será um campeonato de quarta, domingo, quarta, domingo, e será necessário rodar o elenco. Do primeiro jogo (desde a retomada), em 22 de julho, até a primeira final, na última quarta-feira, o Tiago praticamente não rodou o elenco. Em dois dos jogos, não fez nem as cinco substituições que tinha direito a fazer, então você imagina que ele não está gostando muito das opções.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Obviamente tem um problema financeiro, mas não foi a pior janela. Contratou um centroavante identificado com a torcida, que tem história e ainda bastante lenha para queimar. O Jô tem 33 anos e veio para resolver a posição. O Corinthians começou o ano com três centroavantes, mas nenhum convencia a torcida. Pensando em carências, falta bastante um jogador de ponta. Tentou o Rony, tentou o Michael, dois jogadores que seriam titulares no clube, opções de velocidade que o Tiago não tem. Ele se ressente disso na montagem do time. Acho que o Corinthians se ressentiu de ter essa bala na agulha para trazer um cara diferente, que faria diferença dentro do elenco. É a grande dificuldade. Não conseguiu, com seu poderio financeiro, trazer jogadores que nem estão tão estabelecidos nos seus times. Michael é reserva no Flamengo, e Rony, apesar de Luxemburgo estar insistindo nele, não tem correspondido tanto (no Palmeiras). Mesmo jogadores que não são unanimidades acabam indo para esses clubes em detrimento do Corinthians, no qual seriam peças chave, ou muito mais utilizados.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

O melhor jogador do Corinthians no Paulista foi o Fagner. Melhor defensor e armador. Sete assistências, líder em desarmes, interceptações, cruzamentos, passes decisivos, isso em todo o Paulista. Ele está sobrando. Acho que o Jô não vai conseguir chegar ao nível de 2017 por falta de preparação. Não vai ter tempo para treinar, trabalhar, se estabelecer fisicamente. Acho que o Ederson seria o principal nome para surgir no Corinthians. Fez um bom campeonato com o Cruzeiro ano passado, apesar do mau momento. Mostrou que é um cara que deixa sua marca no jogo, como o Corinthians se acostumou desde o Elias, em 2008. Teve Elias, Cristian, Paulinho, Maycon , que seguiam essa escola de volantes que entram na área e fazem gol, que não são apenas organizadores como Cantillo e Camacho. O Ederson, com 21 anos, promissor, seria o jogador mais pronto para surpreender nessa campanha do Corinthians, tirando os nomes maias conhecidos.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

A ausência de um grande elenco. A diferença do time titular para o reserva em algumas posições é muito grande. A diferença do Fagner, por exemplo, para o Michel é muito grande. O Ederson não tem substituto no elenco. O Tiago achou esse jogador que infiltra, de chegada lá na frente, e nenhum das opções que ele tem no setor é desse jeito. Não tem um jogador de velocidade pelo lado. Janderson e Everaldo não se mostraram confiáveis, tanto que ele optou por um meia (Vital). O Gil é uma posição muito importante na defesa. Ele faz com que o companheiro jogue bem. O Pedro estava bem antes de sair. O Danilo Avelar entrou bem nessa vaga. É importante que o Gil esteja lá como ponto de referência. O único volante marcador é o Gabriel. Não tem uma opção consolidada na reserva. São vários pequenos problemas que terá no Brasileiro.

Nenhum jogador aguenta quarta e domingo, quarta e domingo, sem lesões e suspensões, ainda mais depois de tanto tempo parado. Acho que é a grande desvantagem para os principais concorrentes, especialmente Flamengo, Palmeiras e Atlético Mineiro. Não sei se o Palmeiras é brilhante, mas tem mais opções, jogadores parecidos para rodar o elenco e ter um rendimento parecido. No Corinthians, isso é praticamente impossível. O Jô é mais um jogador que, se você tirar, perde totalmente essa possibilidade de quebrar a bola nele e sair de trás. Fica um time muito mais facilmente acuado sem o Jô. Para o Corinthians conseguir fazer um grande campeonato, brigar pelo título, teria que dar tudo certo, estar todo mundo presente, sem uma lesão grave, sem um grande tempo de suspensão.

Como foi em 2017. O (Fabio) Carille não tinha um grande elenco. Usou basicamente 14 jogadores durante aquela campanha, raríssimas vezes precisou trocar e ainda assim conseguiu ser campeão. Teria que encaixar desse jeito, mas o contexto é totalmente diferente. Quatro meses parado, quarta e domingo durante muito tempo, muitos meses com semanas ininterruptas de futebol. Vai ser muito difícil que aconteça de novo.

Coritiba

Sabino, do Coritiba (Foto: Coritiba/Divulgação)

Fernando Freire (@freire88), do Globo Esporte.com

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

Os números são positivos até (11 vitórias em 18 jogos), mas não escondem a decepção da torcida até agora. Uma derrota foi para o Manaus, o que provocou a eliminação logo na primeira fase da Copa do Brasil. E outras duas derrotas foram para o Athletico na decisão do Campeonato Paranaense. Ou seja, o Coxa decepcionou nas duas competições até agora. O Brasileirão é a prioridade desde o início da temporada. Barroca até faz um bom trabalho dentro das possibilidades, mas são muitas limitações para o ano que marca a volta do clube à Série A.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

O Coritiba contratou só um jogador, o atacante Neílton, para o Brasileirão. É um nome interessante e que, em breve, deve assumir a titularidade. Mas o Coxa perdeu o Guilherme Parede para o Vasco e não contratou mais ninguém. As duas laterais e o meio-campo preocupam. Enquanto a diretoria busca reforços bons e baratos, Barroca terá o desafio de recuperar o futebol de jogadores como Renê Junior, Giovanni Augusto e Sassá. São jogadores que têm potencial, mas que não estão rendendo e são reservas hoje.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Rafinha era o grande nome do Coritiba na temporada atual. Porém, ele sofreu uma grave lesão e só deve voltar (se voltar) no ano que vem. Hoje, o Coxa não tem um grande nome. O zagueiro Sabino é quem tem se destacado, com atuações seguras e até gols. O volante Matheus Galdezani, apesar de algumas oscilações, é outro jogador acima da média.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O Coxa não tem um elenco ruim. É um grupo nivelado, que pode brigar por Sul-Americana. São cerca de 18 jogadores que podem ser titulares, mas vários deles não estão rendendo. Como o clube não tem muito dinheiro para investir, Eduardo Barroca terá o desafio de recuperar esses jogadores (Renê Junior, Gabriel, Giovanni Augusto, Sassá…) para que eles se tornem “reforços” para o Brasileirão.

Flamengo

Gabigol faz a sua comemoração característica (Getty Images)

Mauro Cezar Pereira (@maurocezar), jornalista da ESPN Brasil, Estadão, Portal UOL, Gazeta do Povo e no podcast Muito Mais Do Que Futebol, na Central 3

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

A avaliação do time acho que é a melhor possível. A troca de técnico aconteceu num ritmo interessante, com um tempo razoável para trabalhar – quase uma semana. É um técnico que encontra um time muito arrumado, adversários que ainda estão tentando se estruturar. E me parece que as coisas caminharam até bem. O Flamengo está treinando há muito tempo. O fato de o Campeonato Carioca terminar antes acabou sendo bom para o clube, porque teve um bom período para buscar um novo técnico, ele teve tempo de trabalhar por quase uma semana com os jogadores. Acho que, para um time montado, é suficiente para um primeiro momento. Então, acho que a preparação está sendo muito boa.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Não, o Flamengo não teve dificuldades em contratação. Na verdade, contratou tudo o que precisava, menos um reserva para a lateral direita – o que, convenhamos, é algo secundário. Quando falta um reserva para uma posição, que tem soluções com improvisações, e ainda mais com um técnico europeu, que são muito acostumados a fazer esse tipo de manobra… O próprio Liverpool não tem reservas para as duas laterais, Milner joga muitas vezes na esquerda, agora começaram a usar o pessoal da base para substituir os laterais titulares. Então, acho que, com relação a isso, não vejo nenhum tipo de dificuldade.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

É difícil dizer quem pode pintar como destaque. Porque o técnico é novo, a gente não sabe exatamente como vai ser. Mas eu acho que ainda é o Gabigol. O Gabigol não marcou nos últimos jogos, mas vinha jogando muito bem, servindo os companheiros.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O maior obstáculo é justamente essa transição – que eu, pessoalmente, não acredito que seja um obstáculo tão grande. Acho que as coisas tendem a se encaixar bem com a chegada do novo técnico. Mas é basicamente isso: se ele conseguir fazer essa transição não perdendo o legado que está herdando, e eventualmente colocando um pouco do seu toque pessoal, digamos, da sua ideia de jogo, a tendência é o time ficar mais forte.

Fluminense

Fred voltou às Laranjeiras para defender o Fluminense (LUCAS MERÇON/ FLUMINENSE FC)

Felipe Siqueira (@felipe_siqueira), setorista do Globo Esporte.com

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão? 

A retomada acelerada do Campeonato Carioca atrapalhou a preparação do Fluminense, que teve pouco tempo de treino até sua reestreia no torneio. Os primeiros resultados foram ruins, mas depois o técnico Odair Hellmann encontrou uma formação que fez o time ser competitivo contra o Flamengo nas finais. No intervalo entre o Carioca e o Brasileirão, o Flu fez dois amistosos, que foram bons para manter o time com ritmo de jogo.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A? 

O Fluminense vive dificuldades financeiras há anos e isso afeta diretamente sua capacidade de contratação. Desta forma, o clube precisa sempre ser criativo e fazer um grande trabalho de mapeamento de mercado para suprir essa limitação. E neste cenário de restrições, nem sempre é possível montar um elenco equilibrado em todas as posições ou encorpado o suficiente para ser competitivo em um torneio tão disputado quanto o Brasileirão.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque? 

Os dois jogadores mais promissores do Fluminense são os atacantes Marcos Paulo e Evanilson, joias formadas em Xerém. A dupla, que se conhece desde a base, mostra um entrosamento muito grande e tem sido a principal fonte de gols do time. Vale ficar de olho também em Nino. O zagueiro, revelado pelo Criciúma, tem apenas 23 anos, mas mostra muito amadurecimento e qualidade técnica.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada? 

O elenco do Fluminense é formado ou por jogadores muito veteranos ou por atletas muito jovens. O time precisará saber balancear esses dois extremos para ser competitivo. Além disso, precisará administrar bem o desgaste dos jogadores, já que não tem um elenco muito grande e as peças de reposição seriam do Sub-23, em um Brasileirão que promete ser ainda mais desafiador que os anteriores em razão da sequência de jogos.

Fortaleza

Ceni, técnico do Fortaleza

Fernando Graziani (@fgraziani), editor-chefe de esportes do grupo O POVO

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

A preparação com o Rogério Ceni aconteceu à distância, por causa da pandemia. Ele já está entrando em seu terceiro ano, com exceção àquele hiato com o Cruzeiro no ano passado. A volta do Fortaleza ao futebol, no Campeonato Cearense e na Copa do Nordeste, não foi boa, no sentido de que o time perdeu muito da sua capacidade de fazer gols, de criar jogadas, e fez uma Copa do Nordeste muito abaixo do que esse elenco já produziu – e é um elenco com muito remanescente de 2019. Tem o Osvaldo no ataque, o David, jogador mais caro da história do clube, vindo do Cruzeiro, mas que ainda não mostra aquele brilho que o dinheiro que ele custou (R$ 5 milhões) poderia fazer supor.

O Fortaleza tem dois volantes, Juninho e Felipe, muito bons de saída de bola, de chutes de fora da área, bola parada também, e uma equipe que, de qualquer maneira, não conseguiu fazer uma preparação adequado, pelo menos nos jogos que foram feitos até então. Será preciso resgatar o bom futebol que lhe deu o 9º lugar em 2019.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Diferentemente do Ceará, o Fortaleza busca mais jogadores, porque o Ceni realmente é muito insistente para contratar atletas. Há, agora, um quase acerto com um jogador argentino do Talleres (Franco Fragapane). Ele sempre busca atletas velozes, no setor ofensivo. Já tem uma folha de pagamento alta, que está no teto do que o clube se dispôs (R$ 3 milhões). São situações em que o clube precisará entender que não tem direito para contratar muito. O elenco que terá é esse aí, no máximo com um ou dois jogadores a mais. Nada que possa mudar de patamar. O coletivo do Fortaleza já é muito forte.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Tem o Wellington Paulista, o Osvaldo, mas ainda acho que o destaque será o Felipe Alves, goleiro. Excelente na saída com os pés, excelente embaixo da trave. Tem sido destaque, referência, líder, sai muito jogando com a bola, como o Ceni gosta.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O grande obstáculo é a defesa. O ataque produz bem, mas a defesa é muito vulnerável, tanto por baixo quanto por cima. Tem jogadores voluntariosos, mas há problemas no sistema defensivo. É um time que marca pouco. Ataca mais, gosta de ter a bola. Quando marca gols, é difícil de ser batido, porque joga no contra-ataque e cria chances. Mas melhorar esse sistema defensivo que toma muitos gols é o grande desafio.

Goiás

O Goiás só treinou e fez amistosos desde a retomada da pandemia (Foto: Divulgação/Goiás)

João Paulo di Medeiros (@jpdimedeiros), repórter de Esportes do jornal O Popular

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

Foram praticamente dois meses de treinos. A atenção especial foi para a parte física, mas dentro do protocolo houve quase um mês de treinos táticos liberados. Sem campeonatos para disputar antes do Brasileiro, pois o Campeonato Goiano só será retomado em janeiro de 2021, o time esmeraldino chega com problemas de competitividade. O time realizou três amistosos e não conseguiu convencer. Dois jogadores titulares antes da pausa, o meia Daniel Bessa e o atacante Victor Andrade, sofreram lesões no período de preparação e não participaram de dois amistosos. Casos da COVID-19 no elenco também forçaram baixas durante a preparação.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

O Goiás só decidiu contratar jogadores para o Brasileirão na semana da véspera da competição. Como a diretoria precisou negociar redução salarial com o elenco, viu incoerência em gastar com novas contratações. Com carências claras no plantel, o clube vai ao mercado para contratar um volante, que faça a função de segundo homem de meio-campo, uma vez que perdeu Léo Sena para o Atlético Mineiro, um meia e atacantes de lado. Um dos nomes anunciados pela diretoria foi o do atacante Douglas Baggio, que estava no Santo André.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Uma das novidades do Goiás para a temporada e que pode pintar como destaque é o meia Daniel Bessa. Desconhecido do futebol brasileiro, pois fez carreira no futebol italiano, o jogador mostrou bons valores técnicos e táticos no início da temporada e será importante na campanha esmeraldina. Outro nome desconhecido e que pode brilhar é o do atacante argentino Keko Villalva.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O maior obstáculo é encontrar uma identidade de jogo bem definida. O clube ainda não demonstrou isso em 2020. Após perder o atacante Michael para o Flamengo e o volante Léo Sena para o Galo, o time esmeraldino precisou mudar o jeito de jogar. No entanto, o técnico Ney Franco ainda encontra dificuldades para acertar a mão e fazer com que o torcedor acredite que o Goiás possa repetir a campanha que fez em 2019.

Grêmio

O Grêmio precisará lidar com a saída de Everton (Foto: Getty Images)

Rodrigo Oliveira (@roliveiraAOVIVO), da Rádio Gaúcha 

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

É uma preparação boa, facilitada pelo fato da mesma base do time, o mesmo modelo de jogo vencedor, terem sido mantidos nos últimos anos. O Grêmio joga de uma maneira muito parecida e com a mesma base desde 2016, e bem. É um time treinado e embalado por conta da vitória no Gre-Nal no segundo turno do Gauchão. Um modelo que era bom e, em função do título, mostra que o ciclo do Renato e deste time ainda não se encerrou. Então, a preparação é boa e todos esses fatores, em especial a manutenção do trabalho, já que Renato é o técnico mais longevo da Série A, e a manutenção da ideia de time são trunfos do Grêmio para sonhar com a ponta de cima da tabela.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Não atrapalharam muito, porque como eu disse, o Grêmio já tem a mesma base de time. Já tinha um time bom, de modo que não precisava de tantas contratações em comparação com a maioria dos adversários. A dificuldade maior talvez seja que a busca do substituto do Everton talvez pudesse ter um patamar maior antes da pandemia, enquanto agora, por conta da pandemia, todos os clubes estão prejudicados. Por outro lado, o Grêmio vem em uma situação financeira muito boa nos últimos anos. Por isso, acredito que o impacto financeiro da pandemia será menor do que para a maioria dos grandes clubes. Então, se o Grêmio precisar contratar alguém, vai ter mais condição do que a maioria dos adversários. O principal é que time o Grêmio tem e grupo também, de modo que busca um centroavante, um lateral esquerdo e um atacante de lado para completar o grupo, porque para o time titular, já está servido. 

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

O principal ponto forte do Grêmio na minha opinião, entre tantas qualidades, é a solidez da dupla de zaga entre Geromel e Kanemann que vem juntos desde 2016. Mas um atleta que vem pronto para se consolidar no futebol nacional a meu ver é o Pepê. Era o reserva imediato do Everton, principalmente como opção do segundo tempo. E agora, com a saída do Everton, ele deixa de ser o reserva imediato e passa a ser o titular absoluto. Se ele corresponder à expectativa gerada pelas boas atuações até aqui, tem tudo para se afirmar como um destaque nacional. 

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O maior obstáculo que o Grêmio tem para superar é justamente o impacto da saída do Everton. Embora o Pepê dê todos os sinais que vai ser uma boa reposição, ele até agora não teve a pressão de ser o titular, de ser o jogador que tem que desequilibrar. Era um jogador que entrava com fôlego novo, ou com o jogo já encaminhado, ou em uma condição de entrar em uma equipe encaixada, de ser uma arma para o segundo. Agora ele tende a ser mais visado pelos marcados adversários, e vai ter a missão de assumir a titularidade, uma responsabilidade nova que ele não precisou assumir. E ainda assim, com toda a qualidade do Pepê, o Everton é um jogador de seleção brasileira. Bem ou mal, o Grêmio tinha um jogador de seleção brasileira, um dos melhores atacantes do Brasil, se não o melhor, e agora não tem mais. Então, o impacto da saída do Everton é o maior obstáculo a ser superado.

Internacional

Guerrero, do Internacional (Foto: Getty Images)

Rodrigo Oliveira (@roliveiraAOVIVO), da Rádio Gaúcha 

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

O Inter vinha se preparando muito bem antes da pandemia. O técnico Eduardo Coudet, depois de passar pela adrenalina da pré-Libertadores, vinha conseguindo ter um bom nível de atuações, em especial na Libertadores, incluindo o Gre-Nal da Libertadores. Só que depois da paralisação, o time não conseguiu retomar o mesmo ritmo. E o principal fator de instabilidade na preparação para o Brasileirão foi a derrota e eliminação no Gauchão no Gre-Nal, atuando muito pior que o adversário, poderia ter sido mais do que 2 a 0. Dá para colocar esse fator como principal desafio que Coudet tem: no início do Campeonato Brasileiro, tem que superar o impacto negativo da derrota no Gre-Nal, que aqui em Porto Alegre sempre é significativo, e ainda retomar o padrão de antes da pandemia.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

A dificuldade para contratar diante da pandemia atrapalha, mas em uma proporção com a maioria dos clubes, porque as principais contratações do ano já tinham sido feitas, como Marcos Guilherme, Boschillia, Thiago Galhardo, Rodinei, Musto. O clube ainda buscava alguns reforços, mas para completar o grupo. Não tinha uma necessidade imensa, uma prioridade que precisava buscar. E mesmo assim, com as dificuldades causadas pela pandemia, o Inter conseguiu usar a criatividade e contratar o Yuri Alberto, que tem 19 anos, é uma grande promessa, é alguém que se deposita uma grande expectativa. A dificuldade existe, como existe para todo mundo. Não considero esse o principal obstáculo na preparação da equipe. 

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

O jogador com mais cartaz no futebol internacional no time do Inter é Guerrero, mas ele tem sido muito cobrado por ainda não ter feito gol em Gre-Nal. Depois da paralisação ele teve uma atuação muito boa contra o Esportivo em um jogo que foi tranquilo para o Inter. É o que tem, na teoria, mais qualidade. Mas um jogador que tá crescendo bastante nos últimos jogos antes do Campeonato Brasileiro, depois da retomada do futebol, foi Thiago Galhardo. Ele é uma grande aposta de Coudet para aumentar a mobilidade e velocidade do time, casando muito bem e se movimentando muito bem com Boschilia e Marcos Guilherme. É um jogador que tem tudo para se firmar cada vez mais na equipe, caso corresponda à expectativa que foi criada com esses últimos jogos. 

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O maior obstáculo que o Inter tem que enfrentar nesse início de Brasileirão é o impacto negativo da derrota no Gre-Nal. Uma derrota em Gre-Nal no Rio Grande do Sul sempre tem um impacto muito significativo e, no caso do último Gre-Nal, teve um impacto ainda maior, porque o Grêmio foi muito superior e poderia ter ganho por um placar maior ainda. Se existia no início do ano um otimismo da torcida com o trabalho de Coudet, que realmente dá todo indício de ser muito bom, a derrota no Gre-Nal colocou uma desconfiança, por conta da forma como o Inter jogou. Então, passar a borracha no efeito da derrota no Gre-Nal é o grande obstáculo que o Inter tem que enfrentar no início do Brasileirão.

Palmeiras

Weverton comemora depois de defesa (Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)
Weverton comemora depois de defesa (Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)

Thiago Ferri (@b_ferri), do UOL

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

O Palmeiras ainda não encontrou um estilo de jogo nesta temporada de 2020. Vanderlei Luxemburgo parece ter desistido de usar um armador de fato e vem escalando meio-campistas que marcam e também têm boa qualidade com a bola. Defensivamente, a equipe é forte e sofre poucos gols, mas precisa finalizar melhor para chegar ao desempenho que a torcida espera.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

O principal problema é não repor Dudu, que foi emprestado durante a pausa do futebol pela pandemia do coronavírus e era o principal nome do elenco. Rony, que não tem jogado bem, além de garotos como Veron, Angulo e Wesley devem ser os responsáveis a dar velocidade ao ataque palmeirense. O clube também tenta buscar um lateral direito, mas esbarra justamente nas limitações financeiras que a pandemia causou.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Patrick de Paula e Gabriel Menino têm pouco tempo de profissional, mas estão chamando a atenção pela desenvoltura nas chances que receberam de Vanderlei Luxemburgo. Em uma equipe que neste momento não possui nenhum grande destaque individual, exceto Weverton, os dois jovens entram no Brasileiro com expectativa alta.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O Palmeiras entrou em 2020 com a expectativa de apresentar um jogo mais agradável, depois de anos com sucesso montando equipes menos vistosas. Ainda há, porém, um longo caminho a se percorrer para que a equipe consiga jogar com a bola, como Luxemburgo deseja, sem ser lenta, com tanta dificuldade para criar oportunidades. Esta é uma discussão que cerca o Verdão desde que voltou a brigar por títulos, em 2015. Sempre que falou em ter um time que deseja ficar com a bola, vieram as dificuldades.

Red Bull Bragantino

Luiz Phelipe, emprestado ao Red Bull Bragantino pelo Salzburg (Foto: Divulgação)

Diego Pérez (@Diegoprz97), setorista do Red Bull Bragantino na rádio 102,1 FM

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

Acho que dentro de campo a preparação acabou sendo boa, mas não a ideal em relação ao que o time esperava e até pelo que demonstrou ter de potencial. O Bragantino teve a melhor campanha da primeira fase do Campeonato Paulista. Começou oscilando bastante, pela troca do técnico. Estava acostumado com uma ideia de jogo formada no ano passado pelo Antônio Carlos Zago. A saída dele foi inesperada ao Japão, e eles não contrataram um substituto de imediato. Veio primeiro o Vinícius Munhoz, que inicialmente foi contratado para o Red Bull Brasil e acabou sendo colocado no Bragantino para o lugar do Antônio Carlos. Depois, veio o técnico efetivo, o Felipe Conceição, que trabalhava no América Mineiro. Aí sim o time começou a ter uma cara, um estilo de jogo, uma filosofia mais formada.

Ele promoveu mudanças drásticas na equipe, como a saída do Claudinho, que até então era o principal jogador, do Uillian Correia, do Barreto, entre outros jogadores. Mas o time foi formando uma cara e voltou muito bem da paralisação, nos dois jogos, diante do São Paulo e também do Botafogo. Mas no decisivo deixou um pouco a desejar. Isso envolveu também muitas coisas externas, dos testes (de COVID-19) que acabaram dando errado. Nove deram positivo, sendo seis titulares, e depois viram que os testes foram errados. Isso atrapalhou bastante também no desempenho técnico da equipe nas quartas de final contra o Corinthians, tanto que acabou numa eliminação em que o Bragantino estava irreconhecível dentro de campo.

O clube acabou sendo campeão do troféu do interior, o que para o Bragantino em si é muito importante, não tinha esse título na sua história ainda. Só que, pelo o que o time demonstrou de potencial dentro de campo, a ideia era vencer o Campeonato Paulista e isso acabou não acontecendo. O clima de decepção acabou ficando. Mas foi campeão e dentro de campo a preparação foi ótima, porque os testes que o Campeonato Paulista oferece são bons, com equipes de Série A.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

O Bragantino não iria fazer mesmo muitas contratações. É claro que toda essa questão da pandemia acabou atrapalhando talvez nas movimentações da diretoria, mas não muito. Não é muito do perfil da empresa contratar tanto. E como eles formaram a equipe desde cedo, com jovens atletas, a questão das contratações para o Campeonato Brasileiro em si não iria ocorrer em grande quantidade. O Bragantino até então não anunciou e não perdeu ninguém. Deve perder o Matheus Peixoto para jogar a Série B na Ponte Preta, mas era a terceira opção de ataque. Já tem o Ytalo, artilheiro do Paulista, e também o Alerrandro, que já jogou Série A pelo Atlético Mineiro. E o Luis Phelipe, que é uma promessa da base do Red Bull Brasil e acabou indo para o Salzburg, vai voltar por empréstimo pra jogar a Série A.

O Bragantino ainda tenta a contratação do Raul, meio-campista do Vasco que acabou sendo afastado da equipe por problemas com a diretoria. Ele aceitou a proposta do Bragantino, mas o Bragantino ainda não concluiu as negociações com o Vasco, então está esse impasse. Por enquanto, o Bragantino ainda não se reforçou, mas é mais por uma política própria do clube.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Eu acho que o destaque da equipe hoje, e que deve ser destaque do Campeonato Brasileiro, é o Arthur. Atacante, um ponta direita de 22 anos, da base do Palmeiras. Foi contratado por 25 milhões de reais, a contratação mais cara da história do clube, e tem dado resposta dentro de campo. Desde a estreia contra o próprio Santos, que é o time contra o qual o Bragantino também vai estrear no Brasileiro, ele está atuando muito bem.

É o diferencial da equipe, aquele cara que decide muitos jogos no um contra um, que mostra mais preparo a um Campeonato Brasileiro – até porque já jogou, e foi muito bem naquele Bahia do Roger Machado. Enfim, hoje é o principal jogador da equipe, muito veloz, muito ágil também, tem o drible como a principal característica e está se destacando, rapidamente já ganhou status de melhor do time e o moral também com a torcida de Bragança.

Quem também tem esse moral e esse potencial é o Claudinho, que é o camisa 10 da equipe, de apenas 23 anos. Ano passado, teve uma proposta do Cruzeiro e decidiu ficar no projeto, só que perdeu espaço com o Felipe Conceição. A torcida pede muito por ele, porque foi o melhor jogador da Série B e possui um carinho muito grande na cidade. Tendo oportunidades, acredito que também pode se destacar no Brasileiro. E destacaria também o Léo Ortiz, outro jogador jovem, de 24 anos, zagueiro, que era do Internacional. Já está faz tempo neste projeto, demonstra muita qualidade. Quando o Júlio César não joga, ele é o capitão. Tem esse lado de liderança. Eu ficaria de olho nesses três atletas.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

Acho que o maior obstáculo que o Bragantino vai enfrentar é essa questão de não ser um time grande. Está caminhando para se tornar – já foi em sua história, aliás. Foi vice-campeão brasileiro em 1991, foi campeão paulista, mas teve uma queda muito grande de patamar e agora volta a se destacar no cenário nacional por conta do aporte financeiro que a Red Bull acabou trazendo para Bragança Paulista.

Mas acho que o principal obstáculo é esse, que ainda é um time muito jovem, é um time em formação, o projeto é a longo prazo. Em jogos grandes nesse Campeonato Paulista, só não jogou bem contra o Corinthians. Empatou com o Santos na estreia, venceu o São Paulo, venceu o Palmeiras. É um time que tem muito potencial, mas essa coisa de ser novato na competição, de subir da Série B, pode acabar pesando, porque o Campeonato Brasileiro tem o aspecto de ser muito equilibrado. É um time que oscila bastante, não tem um número elevado de jogadores, então as perdas também podem atrapalhar – por lesão, suspensão, enfim. Até a primeira parte do campeonato, se o Bragantino conseguir potencializar esse elenco com novos atletas e, aí sim, criar um grupo mais preenchido, então também superar essa questão.

Santos

Yeferson Soteldo, do Santos (Getty Images)

Eder Traskini (@edertraskini), setorista do Santos no portal UOL 

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

A preparação é praticamente inexistente. O clube demitiu seu treinador, Jesualdo Ferreira, faltando três dias para a estreia. O Cuca chega agora com um dia para conhecer o elenco e já estrear. Se o nome dele ainda aparecer no BID, pode já comandar a equipe, mas será um trabalho começado do zero, já na estreia contra um time forte (Red Bull Bragantino), na Vila Belmiro, em um jogo que o Santos precisa ganhar. Então a preparação foi basicamente zero.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Atrapalham muito. O Santos está proibido de contratar, por causa da dívida com o Hamburgo pela contratação do Cleber Reis, e o time tem carências, até no elenco como um todo. O Santos só tem um lateral esquerdo, o Felipe Jonathan é o único que faz aquela posição, e aí começam a improvisar quando ele não está à disposição. Ele estaria suspenso na estreia, mas o Santos conseguiu um efeito suspensivo. Porém, e quando não conseguir? E se ele se machucar? O time só tem o Luan Peres para jogar na esquerda, improvisado, e pode continuar improvisando, com Jean Mota, com Copete, ninguém é da função… Então, além dessa crise financeira absurda que o clube vem tendo, com chance de perder jogadores de graça na Justiça, o time não consegue contratar nem de graça e não consegue fortalecer o elenco. Por sorte e por trabalho, o Santos tem uma geração muito boa vindo da base e vai ter que apostar nesses garotos.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Não tem como não ser o Soteldo. Ele está cada vez mais adaptado ao futebol brasileiro, cada vez mais em casa e tem toda a confiança da torcida. Ele sabe que pode errar – tem jogador que entra em campo com medo de errar, porque sabe que será cornetado. O Soteldo, não. Ele vai pra cima, se erra, sabe que vai acertar na próxima. O nível de confiança dele está lá em cima. É o jogador destaque e que pode decidir jogos para o time. É quem sobra tecnicamente neste time. O Carlos Sánchez é também um bom jogador, mas o Soteldo está bem acima. Vejamos até quando ele pode ficar. Ele nunca teve intenção de deixar o Santos, mesmo em meio à crise financeira e às dívidas de salário. Mas o Santos precisa de dinheiro e, se chegar uma boa proposta por ele, o clube terá que analisar, porque precisa fazer caixa.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

A falta de profundidade de elenco. O Santos não tem uma boa profundidade de elenco. E, sem poder contratar, o Cuca, como o Jesualdo já vinha fazendo, terá que encontrar soluções de maneira interna. Terá que olhar para o time B, para as categorias de base, porque não pode contratar novos jogadores. Com a crise financeira que vem vivendo, não vejo o Santos conseguindo acertar tão cedo assim essa dívida com o Hamburgo na Fifa. E há também outras dívidas: o Huachipato já acionou o clube na Justiça, e o Santos pode ficar impedido de contratar por três janelas. Portanto, o clube terá que fazer mais do que nunca o que sempre fez com muito sucesso: olhar para dentro, subir a molecada da base e dar chance a esses garotos. Pode dar certo. O Santos costuma ter um aproveitamento baixo nas contratações, costuma errar quando faz investimentos muito altos. Então, subindo os garotos da base, é capaz de dar mais certo do que com reforços de peso. É só olhar o último reforço de peso: Cueva, que foi um fiasco total.

Sport

Sport contra o Petrolina (Foto: Divulgação/Sport)

Cássio Zirpoli (@Cassito_Z), jornalista que escreve no seu blog e integrante do Podcast 45 minutos

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

Em relação à preparação do Sport, o time não tinha receitas, então a dificuldade seria grande do mesmo jeito. Mesmo que o time estivesse em um bom momento, tivesse avançado nas competições, tivesse tido um bom desempenho, mas em termos financeiros, o Sport estaria em dificuldade de todo jeito. Porém, está chegando em um momento muito pior do que se imaginava e por erros da própria gestão na montagem do time, com algumas contratações questionáveis, outras permanências questionáveis. 

Isso faz com que o clube com menor receita na primeira divisão chegue com o menor percentual de aproveitamento da Série A nesta temporada. Nos 22 jogos que o Sport fez em 2020, o aproveitamento do Sport foi de 46%. E desses 22 jogos, só dois foram contra times da Série A: a derrota para o Ceará e o empate com o Fortaleza. Então, acho que tecnicamente o elenco do Sport chega de forma muito complicada para esse Campeonato Brasileiro. 

O time é apontado por muitos canais, em muitas análises, como candidato ao rebaixamento. Em alguns casos, até como último colocado. E eu acho que é por aí. Surpreenderá se o Sport ficar. Desde que eu acompanho o Sport, e considerando o período desde o início de acesso e rebaixamento, de 1988, 2020 é o ano que o Sport chega na pior forma possível. 

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Em relação às contratações, na verdade o Sport não tem dinheiro para as contratações. Os reforços ou chegam dividindo salários de jogadores encostados na primeira divisão, ou jogadores que não se destacaram tanto no Campeonato Paulista, porque aqueles que se destacaram vão para clubes em uma situação melhor. Aqueles que tiveram destaque médio são os que vão chegar. E alguns destaques que neste primeiro semestre estão em times de outras divisões. Ou seja, é um elenco bem abaixo que o Sport vai fazer. 

Por exemplo, Venuto, que estava encostado no Santos, e o volante do Guarani. É difícil que o Sport saia desse perfil de jogadores, porque tem muitas folhas paralelas. São salários atrasados, são acordos trabalhistas de ex-jogadores das últimas gestões que o clube se endividou bastante, outras dívidas. Então, a receita do Sport é bem menor que a despesa. 

Isso já aconteceu em 2019, em que o acesso acabou sendo uma surpresa. O Sport teve R$ 39 milhões em receitas em 2019 e as despesas totais do Sport foram de R$ 61 milhões, um déficit de R$ 22 milhões. Uma hora a conta chega e nesse momento parece que a conta está chegando para o Sport. 

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Acho que o jogador seria o Willian Farias. É um dos poucos jogadores do Sport que tem um perfil de Série A, acabou não indo bem no São Paulo, mas tinha ido bem no Vitória. A questão física acho que atrapalhou no São Paulo, mas no Sport isso não aconteceu. Desde que ele chegou, foi uma peça muito importante no acesso. Desde que ele chegou, não teve problemas físicos. Tecnicamente, ele é um jogador com perfil de Série A, dentro do que o Sport disputa, que é a permanência. 

Jonathan Gomez, com passagem pelo São Paulo, teve uma participação interessante no CSA, é um jogador muito interessado em campo. Tende a ser um dos escapes ofensivos do Sport, que o time cria algumas vezes durante os jogos. Tende a ser um time mais defensivo, para contra-golpear, e Jonatan Gómez pode ser essa referência. 

Outro jogador é Marquinhos, que veio do Corinthians. É um jogador que veio com perfil de tomar muitos cartões e começou assim no Sport, inclusive. Foi até expulso em um clássico [contra o Náutico, na Copa do Nordeste]. Começou com esse perfil, mas acabou se tranquilizando, recebendo menos cartões, e foi mais útil. Pode ser uma boa surpresa e nesse momento o Sport precisa de surpresas. Marquinhos pode ser esse jogador. 

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

O maior obstáculo vai ser deixar esse time em dia. Porque dívidas o Sport vai ter por alguns anos ainda. Manter esse time em dia talvez seja o que o clube precisa fazer. Tecnicamente é um time limitado, o momento já não é bom, não terá o apoio da arquibancada. Ninguém terá, mas no caso do Sport, historicamente é um clube que soma muitos pontos em casa. A diferença entre ser mandante e visitante é muito maior do que em outros clubes. A Ilha do Retiro funciona muito mais para o Sport. Não vai ter esse fator. 

Vai ser só o campo, o gramado, e pode ir até para a Arena Pernambuco. Não tendo isso, faz com que o time precise ter lastro. Esse lastro é o salário em dia e isso não vem acontecendo. Não tem receitas, porque o pagamento da primeira divisão começa quando a primeira divisão inicia, então se essa receita da TV começar a entrar talvez isso normalize. Mas isso já não vem acontecendo em 2020. Se com esse cenário todo, isso não acontecer, aí vai ficar muito difícil de prever um final que não seja complicado para o Sport.

São Paulo

Daniel Alves, do São Paulo

Bruno Grossi (@bruno_grossi), do Isso é São Paulo

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

O trabalho diário de Fernando Diniz é tratado com muito respeito no São Paulo. O clube faz uma avaliação positiva da rotina e da evolução apresentada antes da paralisação da temporada e baseou nisso a decisão de respaldar o técnico após o vexame contra o Mirassol. As cobranças foram direcionadas aos jogadores, que nos dois jogos após o retorno do futebol não cumpriram os princípios de movimentação e intensidade que vinham ganhando força com Diniz até março. O técnico ainda precisa organizar melhor o time para as transições defensivas e encontrar um remédio para a lentidão da posse de bola ofensiva.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

Se foi elogiável a decisão do São Paulo de não contratar ninguém em janeiro, já que havia gastado demais em 2019 e tinha um elenco forte para o primeiro semestre, agora é preocupante não ter condição financeira para buscar pelo menos uma peça de reposição para Antony. Os demais pontas do elenco se dividem entre jovens que não conseguiram sequência no profissional, como Helinho, Toró e Paulinho Boia, e veteranos que sofrem com lesões, como Everton e Joao Rojas. Essa deve ser a principal lacuna do elenco no Brasileirão.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Pablo parece ter retomado a confiança que o fez protagonista do Athletico campeão da Copa Sul-Americana em 2018. Nas derrotas do time titular na volta do Campeonato Paulista, foi o melhor em campo e o jogador que mais levou perigo aos adversários. É voluntarioso, pode jogar em mais de uma função no ataque e encontrou a melhor forma física depois de um 2019 marcado por lesões fora do comum. 

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

Como nos últimos anos, o São Paulo tem como principal obstáculo as próprias crises e pressões causadas pelo jejum de oito temporadas sem títulos, agravado pelo vexame contra o Mirassol no Campeonato Paulista. Além disso, restam apenas quatro meses de mandato para a atual diretoria, o que deve impedir qualquer tipo de investimento alto e pode atrapalhar até mesmo uma eventual troca de técnico ou nos cargos executivos do futebol. Seria preciso encontrar profissionais dispostos a encarar um contrato curtíssimo diante da chance de troca para 2021 com o novo presidente. A corrida eleitoral, que poderia atrapalhar o ambiente do clube, tende a importar menos para o dia a dia, já que nenhum dos candidatos quer se vincular à gestão de Carlos Augusto de Barros e Silva. Em campo, as dificuldades principais devem estar na ausência de jogadores velozes para dar mais intensidade ao ataque e da inconsistência defensiva mostrada após a paralisação da temporada por causa da pandemia de COVID-19.

Vasco

Yago Pikachu, do Vasco

Bruno Guedes (@b_guedes), editor da agência EFE

Como você avalia a preparação do time em campo para o início do Brasileirão?

O Vasco acabou tendo muito pouco tempo de campo, já que fez duas partidas no Carioca já virtualmente eliminado. Depois, fez alguns jogos-treinos com adversários mais frágeis, o que é o ideal para uma competição tão intensa quanto o Brasileirão. A vantagem é que Ramón Menezes não precisou conviver com pressão para iniciar o trabalho, teve oportunidade de avaliar todo o elenco e ganhou tempo para entender carências. Por causa da pandemia, era impossível ter uma preparação ideal, mas o Vasco não pode reclamar do período que teve.

O quanto as dificuldades nas contratações atrapalham a montagem do time pensando na Série A?

De zero a dez, 11! Ao Vasco, falta dinheiro, sobram pendências judiciais e há uma imagem negativa pelos últimos anos. Há tempos, o clube depende de empresários, “investidores” e outras figuras que tentam colocar jogadores em baixa de volta ao mercado. Algumas vezes dá certo, mas o clube deixa de depender só dos próprios interesses. E não é nada incomum que essas operações dêem errado, com chegada de atletas limitados como contrapeso de negociações, de reforços terem qualidades, mas estarem fora de forma ou terem outros objetivos. O Vasco é um clube que tem muita dificuldade de olhar para o mercado de jogadores, escolher um alvo e ir buscá-lo. Quase sempre, faz contratações de oportunidade.

Nesta volta, quem é o jogador mais preparado para pintar como destaque?

Apesar do primeiro semestre desastroso, o Vasco até teve alguns destaques, como Pikachu e Andrey, mas a situação só não foi muito pior por causa de Germán Cano, que fez inúmeros gols decisivos e garantiu classificações (e dinheiro) na Copa do Brasil e Copa Sul-Americana. Ele é exatamente o que faltou no ano passado, um empurrador de bolas para o gol, que pode tirar o peso de Talles Magno, que não é tão artilheiro e aproveitar bem o volume de jogo do garoto, de Pikachu, de Benítez. Nesse momento, a esperanças dos vascaínos de não sofrerem no Brasileirão, recaem sobre ele.

E qual o maior obstáculo que o time deverá superar para ter uma boa temporada?

São muitas dificuldades e isso não é de hoje, mas neste ano o campeonato começará com uma adicional, que é a ausência de público em São Januário. Os jogos como mandante têm sido cruciais nas campanhas do Vasco, independente da faixa em que se briga na tabela. A torcida, em muitos momentos, consegue carregar times limitados nas costas. Alguns acreditam que o estádio vazio pode diminuir a pressão, mas na minha visão, os portões vazios tendem mais a ter impacto mais negativo do que positivo.

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Foto de Equipe Trivela

Equipe Trivela

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