Brasileirão Série A

Num mar de tensão, o Flamengo buscou a virada contra o Inter e o campeão ficará mesmo para a rodada final

O Maracanã era palco de uma decisão antecipada do Brasileirão, mesmo que a taça não saísse neste domingo. Flamengo e Internacional faziam uma partida memorável, que seria determinante aos rumos do campeonato. Os colorados, que dependiam da vitória para soltar o grito antecipado, vislumbraram o fim do jejum de 40 anos. Porém, os rubro-negros contariam com seus talentos e mudariam os rumos desta história. A expulsão de Rodinei foi um momento-chave, assim como a qualidade de Arrascaeta para buscar a virada. Apesar do espírito de luta do Inter e da tensão que durou até o último segundo, o Fla saiu com o triunfo por 2 a 1. Agora, só depende de si para levar o troféu na rodada final, com os gaúchos necessitando de uma nova reviravolta na próxima quinta.

O Flamengo não pôde mesmo escalar Willian Arão, após a fratura sofrida no meio da semana. Gustavo Henrique entrava na zaga ao lado de Rodrigo Caio. De resto, a equipe vinha sem surpresas. Diego e Gérson formavam a cabeça de área. Já na frente, o quarteto ofensivo composto por Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol. O Internacional também mantinha a escalação esperada, com Lucas Ribeiro e Zé Gabriel no miolo de zaga, além de Rodinei na lateral após o pagamento da multa de R$1 milhão. De resto, o time consolidado por Abel Braga. O meio era formado por Rodrigo Dourado, Edenílson e Praxedes. Patrick e Caio Vidal vinham mais abertos, além de Yuri Alberto no comando do ataque.

A partida começou com sua dose de tensão e lances um pouco mais pegados. O Internacional, entretanto, parecia mais centrado em sua missão. A marcação fazia um bom trabalho para dificultar as transições do Flamengo e logo os visitantes teriam a chance de abrir o placar. O pênalti de Gustavo Henrique sobre Yuri Alberto parecia a deixa perfeita para que os colorados realizassem ainda melhor sua estratégia, de se proteger atrás e partir em velocidade. Edenílson cobrou o penal com enorme precisão, mandando a bola praticamente no ângulo. O placar desfavorável colocava ainda mais pressão sobre os rubro-negros.

O Inter seguia mais ligado e voltaria a assustar numa ligação rápida de Edenílson com Yuri Alberto, que bateu para fora. O Flamengo era um tanto quanto lento, sem a intensidade que se imaginava a um jogo desta magnitude. Os colorados também tinham méritos, pela maneira como encaixavam a marcação e variavam a maneira como davam o combate, por vezes mais agressivos sem a bola. Os rubro-negros batiam no bloqueio e não conseguiam acertar o passe final. Enquanto isso, os gaúchos seguiam à espreita de um espaço, com uma cabeçada de Yuri Alberto dando novo aviso aos 21.

Aos poucos, o Flamengo começou a se sentir mais confortável. E a qualidade ofensiva dos rubro-negros pesaria para o empate, aos 29. Filipe Luís deu o passe excelente para Bruno Henrique, que assinou uma ótima jogada. O ponta arrancou para cima de Rodinei e cruzou rasteiro. Arrascaeta recebeu o passe livre e finalizou cruzado, num tiro que beijou a trave antes de entrar. O momento virava ao Fla, que seguia mais ativo no ataque e contava com o ótimo papel de Gérson na organização. Contudo, o Inter lembrou que só precisava de uma brecha. Aos 42, Rodinei chutou prensado e a bola explodiu na trave de Hugo Neneca. Antes do apito final, os colorados insistiriam um pouco mais, numa partida que parecia suficientemente aberta a qualquer resultado.

O caminho do Flamengo se abriu de vez no início do segundo tempo. Rodinei, tão comentado durante a semana, seria expulso aos três minutos. O lateral pisou no pé de Filipe Luís, numa disputa de jogo imprudente, mas o árbitro Raphael Claus avaliou que a entrada foi suficientemente violenta para o cartão vermelho – num lance que será discutido por muito tempo. Sem o lateral, o Inter precisaria lutar mais, com Heitor no lugar de Praxedes. E os colorados seguiram fazendo uma partida corajosa, dando um sinal de que cairia em pé, com Dourado exigindo uma defesa de Hugo Souza logo depois.

Rogério Ceni, por outro lado, colocava o Flamengo para frente – de uma maneira até arriscada. Pedro entrou no lugar de Isla e, logo na primeira participação, bateu com muito perigo ao lado do gol. O problema dos rubro-negros é que o lado direito ficaria desguarnecido, com Everton Ribeiro improvisado e Patrick caindo por ali. O ponta passaria pelo meio de três e realizou uma jogadaça, dando um passe para Caio Vidal na direita. A sorte do Fla é que o chute bateu em cima de Filipe Luís antes de sair. Rogério ainda realizaria mais duas mudanças na sequência, com a lesão de Rodrigo Caio. Entraram Natan e João Gomes, enquanto Diego também saiu ao sentir.

O Flamengo até corria o risco de não se encaixar com o caminhão de mudanças, mas encontrou a vitória no momento certo, graças ao talento à disposição no setor ofensivo. A partir de uma bola roubada, os rubro-negros avançaram em velocidade. Arrascaeta pegou na esquerda, tirou a marcação e deu uma enfiada de bola primorosa para Gabigol passar nas costas da zaga. Diante de Marcelo Lomba, o artilheiro finalizou com precisão e mandou a bola rasteira no canto. A partir de então, o Inter que precisaria tomar a iniciativa, com dez homens.

A quarta troca do Flamengo viria aos 20. Rogério Ceni não manteria por tanto tempo Pedro e Gabigol, com o autor do gol saindo após passa mal, para João Lucas ocupar a lateral direita. Já Abel botaria em campo Thiago Galhardo no lugar de Caio Vidal, aumentando a presença de área em seu ataque. Neste momento, o jogo deixaria de ser disputado com qualquer organização para se tornar um turbilhão de emoções. O Inter se mandava à frente e o Fla se continha para jogar nos contra-ataques. Os rubro-negros pareciam suscetíveis a tomar o gol, mas levavam perigo quando partiam em velocidade. Aos 30, Edenílson faria um desarme decisivo.

O jogo do Internacional era pela esquerda, onde o Flamengo parecia mais desprotegido. João Lucas conseguia dar conta do recado. E quem parecia disposto a resolver a parada do outro lado era Pedro, incomodando nas saídas rubro-negras ao ataque e marcando um gol anulado por impedimento. Aos 37, por fim, Abel fez suas últimas três trocas – com os garotos Peglow, Johnny e Maurício indo a campo. Os colorados ganhavam energia e juventude, mas perdiam qualidade e experiência com as saídas de Dourado, Patrick e Yuri Alberto. Para piorar, Edenílson sentiria depois disso, jogando no sacrifício durante a reta final do duelo.

Nos acréscimos, o Flamengo ainda parecia propenso a ampliar a vantagem. Pedro balançou as redes ao roubar uma bola no campo de ataque e dar um lindo drible em Lomba, antes de bater à meta vazia. Raphael Claus anulou, avaliando que a dividida do centroavante foi faltosa, em outro lance discutível. A decisão manteria o nervosismo lá no alto, mas o Inter tinha dificuldades na criação, tantas vezes tentando espetar a bola na área de qualquer maneira. Bruno Henrique ainda perderia outra chance ao terceiro, ao receber de Pedro e isolar com a meta aberta. Mas não seria o erro que custaria o triunfo aos cariocas.

Não foi uma grande partida do Flamengo, pelas chances desperdiçadas e também pelos riscos. O time demorou a se encontrar e mesmo com um a mais não parecia tão seguro defensivamente. No entanto, os rubro-negros aproveitaram seu momento ofensivo e tiveram jogadores para resolver. Arrascaeta, sobretudo, conseguiu isso. Já o Inter atuou satisfatoriamente, dentro de suas limitações e do cenário. Fez um bom início, lutou enquanto pôde e não desistiu jamais. A discussão ficará sobre a expulsão de Rodinei, que de fato influenciou o segundo tempo, facilitando a superioridade do Fla. A arbitragem mais uma vez é protagonista – assim como já tinha sido na rodada anterior.

O Flamengo soma 71 pontos, contra 69 do Internacional. E a rodada final guardará encontros emblemáticos para definir a taça. Os rubro-negros visitam o São Paulo no Morumbi, com a história de Rogério Ceni servindo de pano de fundo. O Inter precisará vencer e torcer pelo menos por um empate dos cariocas. Jogará no Beira-Rio contra o Corinthians, de rixa tão alimentada nas últimas décadas.

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Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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