Brasileirão Série A

Num clássico de grandes defesas, a infelicidade de Volpi culminou no empate

A longa pausa provocada pela Copa América fez muita gente sentir saudades do Brasileirão. E o recomeço do campeonato neste sábado contou com um clássico movimentado. São Paulo e Palmeiras fizeram um jogo brigado, apesar da queda de ritmo no fim. Tentando se recuperar da série sem vitórias, os tricolores exibiram uma postura agressiva, animando a torcida no Morumbi. Os alviverdes, no entanto, se recuperaram no final e arrancaram o empate por 1 a 1. Foi uma noite marcada pelas ótimas defesas de ambos os goleiros, que contiveram um placar mais elástico, por mais que Tiago Volpi tenha se transformado em anti-herói. Um erro já em meados do segundo tempo permitiu que Dudu preservasse a invencibilidade palmeirense na Série A, que já dura há impressionantes 33 partidas. Os líderes nadam de braçada.

Sem que Felipão usasse todos os seus titulares, poupando o Palmeiras para a Copa do Brasil, o São Paulo aproveitou o início para mostrar suas garras. Era uma atuação incisiva dos tricolores, aproveitando a velocidade de seu ataque para ameaçar. Foi uma boa estratégia dos são-paulinos. A equipe explorava bastante as pontas e não demorou a criar suas oportunidades. Weverton seria acionado pela primeira vez aos sete minutos, bem posicionado para rebater o chute de Tchê-Tchê. No entanto, o gol não demorou a acontecer. Ótima trama pela direita, em que Hernanes cruzou e Pablo apareceu dentro da área para finalizar.

A pressão do São Paulo não durou tanto assim. O time se resguardou mais na sequência do primeiro tempo, permitindo que o Palmeiras aumentasse a posse de bola. Mas não era isso que diminuía a atuação superior dos tricolores, trocando bem os passes durante as transições. E, quando necessário, Tiago Volpi estava sob as traves para garantir. Numa rara finalização dos alviverdes, aos 23 minutos, o arqueiro fez uma defesaça para desviar o tiro cruzado de Gustavo Scarpa. O primeiro tempo seguiu bastante disputado, mesmo sem tantas chances de gol. Os palmeirenses não tinham fluidez, com um meio-campo improdutivo, enquanto os são-paulinos não aproveitavam as escapadas.

Pablo era uma peça importante para a movimentação do ataque do São Paulo no primeiro tempo. Precisou deixar o campo no intervalo, ao sentir o joelho. Já o Palmeiras trocou Zé Rafael por Carlos Eduardo. E os minutos iniciais do segundo tempo guardaram o momento mais cardíaco do clássico. De um lado, Volpi operou um milagre diante de Deyverson, fechando o ângulo em chute à queima-roupa. Do outro lado, a resposta foi dupla. Substituto de Pablo e estreante da noite, Raniel saiu de frente para Weverton, mas o goleiro salvou com o pé. Depois, daria uma linda ponte para desviar o arremate de Reinaldo. E os tricolores, ainda armando bem os contragolpes, exigiriam outra grande intervenção do palestrino aos 14, numa batida colocada de Alexandre Pato.

O problema é que, aos poucos, o São Paulo se encolheu. Preferiu recuar e chamar o Palmeiras para cima. Os visitantes trabalhavam a bola no campo de ataque e rondavam a área adversária. Naturalmente, criariam lances de perigo. Volpi voltou a intervir aos 23, barrando Carlos Eduardo no mano a mano, em lance no qual a zaga tricolor parou. Todavia, o que parecia uma noite intransponível do arqueiro culminou em sua infelicidade. Dois minutos depois, Dudu descolou o espaço pela direita e resolveu arriscar. A bola desviou na marcação, subiu bastante e caiu traiçoeira. Volpi saltou, mas não calculou bem a distância. O chute bateu na trave, no goleiro e terminou entrando. Mais um gol de cobertura num São Paulo x Palmeiras.

E a verdade é que, depois disso, o clássico morreu. O Palmeiras parecia satisfeito com o empate fora de casa, em partida que poderia se desenhar bem mais difícil. Já o São Paulo não demonstrava forças, num misto de abatimento e cansaço. Os minutos finais contaram com uma rotação bem abaixo, sem lances relevantes. Se os ânimos ficaram exaltados, foi apenas pela costumeira confusão de Deyverson, que fez algumas embaixadinhas, tomou uma solada de Hudson e depois se desentendeu com Raniel. Foi a única coisa que acendeu a torcida, em meio a uma melancolia pelas esperanças que se esvaíram no Morumbi.

A frustração maior depois do jogo é do São Paulo. O time vislumbrou a vitória e fez um bom primeiro tempo, até se retrair no clássico. O gosto amargo na boca prevalece. Pior a Volpi, que ia fazendo talvez sua melhor partida desde que chegou ao clube, para falhar de uma maneira tão infeliz. Com 15 pontos, os tricolores perderam a chance de dar um salto na tabela, estacionando na oitava colocação. Enquanto isso, o Palmeiras lidera com folga. Até viu o Santos diminuir a diferença, mas ainda são três pontos de vantagem em relação ao Peixe, que bateu o Bahia por 1 a 0 e permanece como único concorrente plausível no momento. Não foi a melhor atuação do mistão. De qualquer maneira, segue como uma opção para os palestrinos visarem outras frentes.

Só para não deixar passar batido…

É um porre ficar batendo na tecla da arbitragem toda vez. Mas foi patético o que aconteceu na Arena do Grêmio, durante o Grêmio 2×1 Vasco. Nada impediria que os tricolores reagissem no final e arrancassem a vitória como fizeram, contra um adversário recuado. Porém, as circunstâncias do jogo mudaram totalmente quando os vascaínos iam anotando 2×0 no primeiro minuto do segundo tempo. O gol de Yago Pikachu acabou anulado pelo árbitro depois da conferência no vídeo. Rodolpho Toski Marques viu uma falta bastante questionável de Rossi, na qual mais pareceu procurar chifre em cabeça de cavalo, com o auxílio da câmera lenta para anotar exageradamente a infração. O VAR continua sendo um ótimo recurso – quando bem usado. Não é o que acontece no futebol brasileiro, onde o péssimo preparo dos juízes, somado a uma postura medrosa de ignorar lances mínimos, só dá espaço aos detratores da tecnologia.

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Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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