Brasileirão Série A

Foram 90 minutos de loucura e três viradas, até que o Grêmio fizesse 4×3 no América

Em outro jogo de nível máximo de insanidade no Brasileirão, América e Grêmio cochilaram repetidas vezes na defesa, mas ofereceram muito no ataque e garantiram um jogaço que pendeu ao Tricolor

América Mineiro e Grêmio se encontram em partes bastante distintas da tabela no Campeonato Brasileiro. Contudo, numa edição da Série A com uma coleção de jogos malucos, os oponentes ofereceram uma montanha-russa de emoções no Estádio Independência. Foi uma partida de tirar o fôlego, com direito a três viradas no placar. Mesmo na lanterna do Brasileirão, o América mostrou seu valor e botou os visitantes contra a parede em diferentes momentos do jogo.

Ainda assim, de fato o Grêmio foi superior. Os tricolores pecaram demais pelos cochilos na defesa, mas tinham bem mais recursos no ataque. Contaram especialmente com Luis Suárez, presente em todos os gols – anotou um, deu assistências para dois e sofreu um pênalti. O goleiro Jori ainda tentou barrar os gremistas, mas eles voltam a Porto Alegre com o suadíssimo triunfo por 4 a 3.

O América Mineiro entrou em campo desenhado num 3-5-2 por Fabián Bustos. Jori era o goleiro, com a zaga alinhada por Ricardo Silva, Iago Maidana e Danilo Avelar. Rodriguinho e Marlon eram os alas, com Juninho, Alê e Emmanuel Martínez pelo meio. Martín Benítez e Gonzalo Mastriani mostravam entrosamento no ataque. O Grêmio de Renato Portaluppi estava num 4-3-3. Gabriel Grando abria a escalação, com a zaga composta por João Pedro, Bruno Uvini, Bruno Alves e Reinaldo. O meio reunia Pepê, Villasanti e Cristaldo. Já na frente, Galdino e Lucas Besozzi davam apoio a Luis Suárez.

Lá e cá no primeiro tempo de quatro gols

O início alucinante da partida se notou logo de cara. O primeiro ataque foi do Grêmio, embora o primeiro gol tenha saído do América, aos três minutos. Méritos totais de Rodriguinho, que trouxe da direita para o meio e mandou um chute seco no canto. Benítez também teve um tiro de longe que Grando pegou, mas o Grêmio tomaria as rédeas do jogo na sequência. Passava a testar a defesa do Coelho com mais frequência e os mineiros tentavam evitar os perigos. Ainda levou um tempo para que as chances dos tricolores se tornassem mais concretas. A brecha para o empate veio num pênalti, em que Luis Suárez deixou o corpo e terminou derrubado pelo goleiro Jori. Reinaldo recolocou os gremistas na parada aos 16.

O gol deu ânimo ao Grêmio. A virada seria instantânea, três minutos depois. O América parecia totalmente desnorteado e apenas assistiu Galdino. O atacante partiu pelo meio, tabelou com Suárez e disparou nas costas da marcação. Diante de Jori, ficou fácil de anotar. Mas não que o América estivesse totalmente entregue. A vitória era necessária ao Coelho e Benítez deu uma resposta aos 25, num tiro cruzado que passou perto. O lamento se tornou maior na sequência, quando a bola espirrou para Mastriani na risca da grande área e ele bateu fofo. Iago Maidana também teve um tiro de longe que saiu ao lado da trave. Os gremistas chamavam os mineiros para seu campo.

O gol de empate do América Mineiro veio de maneira até natural, aos 34 minutos. Benítez foi muito bem, ao girar na entrada da área e preparar o lance. Passou a Juninho, infiltrado pelo lado direito da área. O cruzamento veio na medida para Mastriani e dessa vez o atacante não perdoou. O Coelho seguiu mais aceso, quase sempre conduzido por Benítez. Somente aos 44 é que o Grêmio voltou a dar um sinal de vida. Numa enfiada excelente de João Pedro para Suárez, o veterano chutou rasteiro e Jori pegou a bola difícil. O goleiro também travou o uruguaio depois de mais uma inteligente tabela. Na entrada dos acréscimos, Jori ainda apareceu em tentativas de Cristaldo e Reinaldo. Estava claro como o jogo não terminaria com só quatro gols.

América vira, mas Grêmio desvira e vence

O América voltou para o segundo tempo com Nicolas na ala esquerda. De novo, o Coelho aproveitou a desatenção do Grêmio nos minutos iniciais para marcar seu terceiro gol. Os mineiros voltaram à frente no placar aos quatro, numa escapada de Benítez sem marcação. Rolou a bola macia para Mastriani concluir sozinho no meio da área. Já a resposta de Renato também não tardou, ao acionar Nathan Fernandes e Ferreira no banco de reservas. O Tricolor demorou a se acertar e tinha dificuldades para sair jogando. Foram minutos mais favoráveis aos americanos. Contudo, o time logo perdeu o lesionado Nicolas, trocado por Éder aos 16.

O Grêmio cresceu mesmo nesta sequência. Jori tentou evitar a nova reação dos tricolores. O goleiro primeiro espalmou uma pancada de Cristaldo, em jogada muito bem preparada por Suárez. Nathan Fernandes também tentava botar fogo em seu time e forçou outra defesaça de Jori aos 22, ainda mais sensacional, com a ponta dos dedos. O novo empate do Grêmio se desenhava, pela velocidade que o time imprimia, o que desmontava a defesa americana. Pois o matreiro Suárez aproveitou a brecha para o terceiro tento aos 25. Recebeu de João Pedro e limpou a marcação. Até parou em Jori a primeira vez, mas ficou com o rebote e não perdoou.

A esta altura, o Grêmio estufou o peito pela vitória. Nathan Fernandes queria ser herói e mandou mais um tiro perigoso para fora. O América tentava recuperar terreno com as entradas de Breno e Felipe Azevedo. Porém, o Tricolor tinha mais talento e gente disposta a resolver. A vitória se delineou aos 33, num inteligente escanteio curto do time. Cristaldo tabelou rápido com Suárez e viu um clarão pelo lado esquerdo. Mesmo numa posição difícil, arriscou o chute rasteiro e tirou do alcance de Jori. A astúcia dos gremistas, bem como a velocidade no movimento, puniu o desleixo dos mineiros.

Não era de se duvidar que o jogo tivesse novos gols no Independência. O Grêmio, no entanto, não quis mais dar brechas ao azar e acionou Geromel na vaga de Cristaldo. Cazares dava mais força individual ao América, enquanto o Tricolor também tirou Luis Suárez no fim, com João Pedro Galvão no lugar. Entretanto, o Coelho não teria mais fôlego. Até deu um passo à frente para ficar mais tempo no campo de ataque, sem encontrar a mesma facilidade que os gremistas deram em outros momentos. O Tricolor estava mais do que satisfeito com o resultado, depois de todas as oscilações, e mal partiu aos contragolpes. Queria gastar o tempo. Nos acréscimos, os americanos tiveram algumas chances de jogar a bola na área. Foi pouco e não deu em mais nada.

Como fica na tabela

O Grêmio entra novamente no G-4 do Campeonato Brasileiro, com 50 pontos. Fica à frente do Flamengo pelo número de vitórias, mas os rubro-negros podem ultrapassar na sequência da rodada, assim como o Athletico Paranaense. Já o América Mineiro, mesmo com todo o esforço, se afunda um pouco mais. São nove jogos sem vencer. O Coelho é o lanterninha, com 19 pontos, a 14 de sair do Z-4.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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