A 3ª camisa do Fluminense para os 115 anos de Cartola é linda como uma poesia do sambista
Fluminense apresentou sua 3ª camisa, uma homenagem justa e bela ao imortal Cartola, que faria 115 anos neste 2023
Em ótima fase, na final da Libertadores, o Fluminense lançou nesta quarta-feira (11) sua terceira camisa para 2023. O uniforme é uma homenagem ao sambista Angenor de Oliveira, o Cartola, torcedor ilustre do clube que comemoraria seu 115º aniversário nesta data. E é tão linda quanto as músicas que o eternizaram.
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Antes mesmo de se tornar poeta e para muitos o maior sambista de todos os tempos, Cartola já tinha o Flu em sua história. Nascido no Catete e crescido em Laranjeiras antes de se mudar para o Morro da Mangueira, ele era um apaixonado pelas três cores que traduzem tradição.
Para celebrar essa paixão, o Tricolor lançou uma camisa na cor verde, com muitos detalhes em rosa, símbolos da Estação Primeira de Mangueira, uma das mais tradicionais e vencedoras escolas de samba do Rio de Janeiro, justamente a que Cartola é um dos fundadores.
O uniforme também traz trechos da música “Corra e Olhe o Céu”, na letra que reproduz manuscritos do próprio Cartola. O clássico do samba está presente no primeiro álbum de estúdio do poeta, de 1974. A camisa ainda tem uma etiqueta especial para o modelo, na parte interna da gola.
— Homenagear Cartola, um dos maiores gênios da música brasileira, era um desejo antigo do Fluminense. Afinal, tê-lo como um dos mais ilustres torcedores de nossa história é motivo de grande orgulho. Essa é uma camisa carregada de força e significado. Reverenciamos a vida, obra, poesia e o legado de alguém que tem sua história entrelaçada à do clube que tanto amou — afirmou o presidente Mário Bittencourt ao site oficial do Fluminense.
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As cores da Mangueira têm ligação com o Fluminense
O verde e o rosa da terceira camisa do Fluminense foram cores escolhidas por Cartola para o pavilhão da Mangueira. Há duas versões para isso. A mais famosa é a de que a escola de samba se baseou no verde e no encarnado do Tricolor.
As cores teriam sido escolhidas pelo torcedor ilustre justamente para homenagear o Fluminense. Com o tempo, entretanto, o grená se desbotava e se transformava em uma cor próxima ao vibrante rosa. Esta versão é reforçada pelo lançamento da camisa.
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A história contada por muitos mangueirenses, entretanto, é a de que essas eram as cores do “Rancho dos Arrepiados”, agremiação de carnaval de Laranjeiras da época da infância de Cartola em que seu pai, Sebastião, era ritmista.
Em 1975, quando o Fluminense contratou Rivellino e formou a Máquina Tricolor, a apresentação do craque seria em um sábado de carnaval. Para isso, o então presidente Francisco Horta visitou a casa de Cartola e Dona Zica, sua esposa, e da reunião saiu a “Manga-Flu”, uma torcida especial para o clube.
O sambista, outros ritmistas de Mangueira e tricolores ilustres do samba desfilaram no Maracanã antes da vitória do Flu por 4 a 1 sobre o Corinthians, ex-clube do camisa 10, que marcou três gols.
Fluminense tenta resgatar vocação popular com Cartola e Chico Guanabara
Após anos em que reforçou narrativas que o ligavam à aristocracia, o Fluminense tenta resgatar pouco a pouco sua vocação popular. Primeiro grande clube do Rio de Janeiro, o Tricolor realizava no início de sua história eventos como o “Natal das Crianças Pobres” e era uma equipe de massas como todas as outras grandes agremiações de futebol do país.
Foto do Natal das Crianças Pobres que o Fluminense promoveu por décadas e que atendia centenas de familias em que o único presente dos filhos eram os que ganhavam nessa festa.
Mais uma demonstração do que o Fluminense representava na sociedade carioca e brasileira no séc XX. pic.twitter.com/G0E7OSWqX6— Sergio Poggi (@sergiopoggi) December 27, 2021
Discursos equivocados que ligavam a tradição do pó-de-arroz ao racismo foram combatidos ao longo dos anos, principalmente com a websérie “Herdeiros de Chico Guanabara”. O capoeirista é considerado pela literatura como o “primeiro torcedor” do futebol brasileiro, pelo seu comportamento à beira do campo bem diferente do público do futebol à época.
Amigo íntimo de Cartola desde a infância, era sambista e inspiração para a torcida do Fluminense que nascia à época nos moldes que estamos acostumados atualmente.
Tricolor apaixonado, Cartola faleceu em 30 de novembro de 1980, data em que o Flu venceu o Vasco por 1 a 0, com gol de falta de Edinho, e conquistou o Campeonato Carioca. No dia seguinte, em seu velório, uma grande bandeira do Fluminense cobriu o seu caixão.