Brasileirão Série A

Demissão surpreendente de Aguirre levanta uma pergunta: o que quer o São Paulo?

O que leva um time a demitir o seu treinador a cinco rodadas do fim do campeonato? Normalmente isso acontece com times desesperados contra o rebaixamento, tentando uma última cartada contra o descenso. O São Paulo não se encaixa nessa situação. O time chegou a liderar o Campeonato Brasileiro logo no final do primeiro turno, mas caiu do quarto para quinto lugar – fora da zona de classificação direta à fase de grupos da Libertadores, portanto – faltando cinco rodadas para o final. Afinal, o que justifica uma mudança como essa? Pelo que justificou o diretor Raí, o clube resolveu antecipar uma decisão já tomada: Aguirre não ficaria para 2019. Então, decidiram mudar agora. Com isso, a questão que fica é: o que o São Paulo quer a partir de agora e para o futuro?

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Um dos motivos que normalmente norteia esse tipo de decisão é a chamada perda de vestiário. Ou seja:  o técnico não teria mais a mesma ascendência dentro de um elenco. No caso do São Paulo, o indício de algo assim se dava especialmente por causa de Nene, veterano de 37 anos que se mostra insatisfeito com a reserva. Segundo informa André Plihal, da ESPN Brasil, Rodrigo Caio também estava insatisfeito, mas o resto do elenco não concordava. Curiosamente, dois meses atrás, quando o time estava em melhor fase, o São Paulo quis renovar o contrato do uruguaio. O treinador não quis.

O desempenho do São Paulo tem sido muito ruim nos últimos jogos. No segundo turno, o clube é apenas o 13º colocado, com 17 pontos em 14 jogos. Mais do que os números, o desempenho do time deixa a desejar. Se quando o time liderava o desempenho do São Paulo já não era dos mais incríveis, com uma eficiência fora da curva e acima da média, que eventualmente voltou ao normal. Só que não voltou para a média. Antes, o desempenho era de uma eficiência acima da média; depois, abaixo da média.

O São Paulo tinha problemas. Na formação do elenco, faltavam bons reservas para, por exemplo, Joao Rojas e Éverton, titulares nos melhores momentos do time. Com as lesões de ambos, o caldo entornou. Éverton Felipe, trazido do Sport, não correspondeu ainda no primeiro momento. No mais, muitos garotos, como Helinho, que ainda não tinham sequer estreado. Faltaram soluções em campo para o técnico, que não soube adaptar as necessidades do time. O rendimento caiu e o time seguiu jogando de forma muito parecida.

A insatisfação com Aguirre não é de agora, segundo disse Raí em entrevista coletiva nesta segunda-feira, explicando a surpreendente demissão. A avaliação foi feita continuamente e de fato o futebol do São Paulo era pior do que os resultados que faziam do time líder do Campeonato Brasileiro. Quando tudo que dava certo, até certo demais, acima do esperado, passou a não funcionar mais, faltou repertório, faltou elenco e faltou físico também. O time do São Paulo acaba todos os jogos muito desgastado, fruto de um estilo de jogo que exige isso e tendo menos opções de qualidade.

Tudo isso é compreensível e deveria fazer parte da avaliação que a diretoria faria no fim do campeonato. Só que foi feita antes, justamente no momento que o time cai do quarto para o quinto lugar, ficando seriamente ameaçado de ter que disputar as fases preliminares da Libertadores. Isso significaria ter que começar a temporada muito mais cedo e com jogos perigosos e decisivos.

Com isso, o São Paulo antecipa o planejamento. Segundo disse Raí, não viam mais perspectivas de melhora. A mudança é, assim, também para tentar chegar ao G4. André Jardine, um dos auxiliares e que vem sendo preparado pelo São Paulo para ser o técnico, será o comandante até o fim do ano. São cinco jogos para Jardine tentar melhorar o time, classificar-se entre os quatro primeiros e terminar o ano em alta, como candidato a ser efetivado em 2019.

Ao menos sabemos que uma coisa não foi diferente. Raí foi um bem-vindo sopro de novidade, de alguém que se preparou, e muito, para ser diretor de futebol. Só que apesar disso, as justificativas para a demissão de Aguirre a cinco jogos do fim do Campeonato Brasileiro são as mesmas de sempre. Só faltou falar em “fato novo”, como um dirigente do Inter falou certa vez e virou uma piada sem graça. É preciso ir além disso para ser melhor. O São Paulo sofre com a mudança de técnico a cada seis meses, em média. O ciclo de demissões, recomeço, melhora e queda não foi quebrado. Começará mais uma vez.

A demissão é o caminho mais curto de um trabalho que precisaria ser feito com o elenco sobre os problemas que aconteciam. Nene virou um problema com suas atitudes, o rendimento de alguns jogadores caiu demais – como o de Jucilei, um pilar antes, mas que chegou até a perder a posição. Aguirre certamente tem suas limitações. Isso já tinha sido demonstrado. Com cinco jogos restantes, porém, será complicado analisar o trabalho de Jardine, ainda mais sob essa pressão.

O treinador, por vir da base, certamente carregará a expectativa de ver mais jogadores da base serem aproveitados, ainda que neste primeiro momento isso não deva acontecer, ao menos não de cara. A saída de Aguirre poderia ser evitada e os problemas poderiam tentar ser contornados, mas é um caminho muito mais complicado, sem dúvida. Mas que pode render mais também. Demissão de técnico normalmente fortalecer jogadores insatisfeitos, como é o caso de Nene. Será preciso que o elenco dê uma resposta. O problema certamente não era só o técnico. A demissão é uma solução normalmente usada pelo São Paulo nos últimos anos. Não tem funcionado, muito pelo contrário. Será diferente desta vez?

O que o São Paulo quer para agora e para 2019? Fica difícil entender. Os treinadores dos mais diversos perfis passaram pelo clube, a maioria sem sucesso. O que irá querer o São Paulo agora? Seja com Jardine, seja com quem for, é preciso que haja uma clareza sobre o que se espera, em termos táticos, técnicos, de contratações e tudo mais. O São Paulo não dá indício de saber o que faz. Veremos se mostra algo diferente disso.

Foto de Felipe Lobo

Felipe Lobo

Formado em Comunicação e Multimeios na PUC-SP e Jornalismo pela USP, encontrou no jornalismo a melhor forma de unir duas paixões: futebol e escrever. Acha que é um grande técnico no Football Manager e se apaixonou por futebol italiano (Forza Inter!). Saiu da posição de leitor para trabalhar na Trivela em 2009, onde ficou até 2023.
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